São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Policiais são acusados de incriminar vítima de abuso

Garota foi presa por tráfico pelos mesmos PMs que apontou na Corregedoria

Além da jovem, a líder de direitos humanos que ajudou na denúncia foi incluída em uma lista de envolvidos com o PCC

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Policiais militares são acusados de forjar provas para incriminar uma jovem vítima de abuso sexual, que denunciou os próprios PMs pelo crime, e também uma líder de direitos humanos que atua na zona leste de São Paulo.
Os policiais envolvidos são do 19º Batalhão da PM. Em duas ocorrências, no mês passado, eles apresentaram provas de suposto envolvimento da jovem e da advogada Valdênia Paulino, do centro de direitos humanos de Sapopemba (zona leste), com o tráfico de drogas.
A jovem foi presa em 15 de setembro por um dos PMs acusados de ter abusado sexualmente dela em janeiro, na quadra de uma escola municipal em Sapopemba. O nome de Valdênia foi parar em um caderno com supostas contas do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Representantes de entidades e de órgãos de direitos humanos, entre eles a secretaria nacional que trata do tema, acusam os PMs de armarem as provas. Ontem, o grupo percorreu vários órgãos públicos, como a Secretaria da Segurança Pública, para cobrar o esclarecimento dos casos e o afastamento dos policiais envolvidos.
"A armação [policial] foi primária. As estratégias de criminalizar e desmoralizar os defensores de direitos humanos substituíram o que antes era simplesmente contratar um pistoleiro para matar", afirmou Fernando Matos, coordenador-geral do programa de proteção de defensores de direitos humanos da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
A perseguição policial começa, segundo as entidades, em janeiro, depois que a jovem de 18 anos afirma ter sido abusada sexualmente por seis PMs. Ela reconheceu dois: os soldados Edmilson Cristiano Miranda e Alexandre Tomaz Camargo. Valdênia acompanhou o reconhecimento. A acusação foi confirmada pela Corregedoria da PM, que acusou formalmente os dois PMs à Justiça Militar.
Foi o mesmo soldado Miranda que fez a prisão da jovem. No boletim de ocorrência, ele afirma que a jovem portava droga e R$ 100. Ela nega. Testemunhas também negaram ter visto a jovem com a droga. Nove dias depois, a Justiça suspendeu a prisão e solicitou dados à Corregedoria da PM sobre o envolvimento do policial no caso.
No dia 27 do mês passado, policiais da Força Tática do 19º Batalhão estouraram o que seria uma central do PCC. O nome de Valdênia aparece no suposto livro de contas. "A armação é tosca. Colocaram meu nome com uma caligrafia totalmente diferente das letras da página", afirma Valdênia. Ela não foi acusada formalmente.


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