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TRANSPORTES
Licitação da CET prevê pagamento de taxas superiores aos índices de inflação para as prestadoras do serviço
Preço de radar embute juros de 2,5% ao mês
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A licitação da CET (Companhia
de Engenharia de Tráfego) para
os radares fixos e móveis na cidade de São Paulo embute nos pagamentos às prestadoras do serviço
juros de 2,5% ao mês, superiores
aos índices de inflação e à taxa básica de juros da economia (Selic).
Esses encargos financeiros são
resultado de uma forma de contratação que estabelece sete meses, em média, entre a detecção
das infrações de trânsito e a remuneração das empresas. Eles indicam que, dos R$ 98,2 milhões que
as operadoras poderão faturar
nos próximos três anos, R$ 15,6
milhões se referem a juros pagos
pela prefeitura, e não aos serviços
de fiscalização da velocidade.
Esse valor corresponde a mais
de 8% dos gastos com trânsito
neste ano. A taxa proposta pela
CET representa um acréscimo de
18,87% às despesas do sistema.
Pela Selic, utilizada como referência para a correção de títulos públicos, ele não passaria de 10,7%.
Nos primeiros sete meses de 2001,
os principais indicadores de inflação variaram entre 3,5% e 6,5%.
A licitação prevê que as selecionadas para prestar os serviços podem receber até R$ 31,46 por multa de radar móvel e até R$ 26,47
por multa de radar fixo, já incluídos os encargos de 2,5% ao mês.
A partir da quantidade de infrações estimada pela CET e os preços que a prefeitura se dispõe a
pagar, os custos mensais pela operação de cada um dos 40 aparelhos móveis e cada um dos 80 fixos podem atingir, respectivamente, R$ 39.325 e R$ 14.454.
Em Belo Horizonte, onde as
empresas recebem no mesmo
mês em que prestam os serviços,
essas despesas são de R$ 9.002 e
R$ 6.830, respectivamente. Segundo a CET, a inclusão de atividades diferenciadas nos contratos
(processamento de dados, por
exemplo) justificam a elevação
dos custos na capital paulista.
Três de cinco especialistas em licitações ouvidos pela Folha consideram abusiva a taxa de correção de 2,5% ao mês. Dependendo
da capacidade financeira do cliente, os bancos oferecem financiamentos com juros até inferiores a
esse. "A empresa de radar tem
que ser remunerada apenas para
não perder dinheiro, ou seja, com
base na inflação ou na taxa básica
de juros. Ela tem que ganhar em
cima da prestação do serviço, e
não como se estivesse emprestando dinheiro", diz Paulo Boselli.
"A inclusão de encargos financeiros já não é muito comum em
contratos públicos. Essas condições estão bastante vantajosas para os prestadores do serviço", afirma Benedito Porto Neto.
"A prefeitura jamais poderia
propor uma taxa dos bancos. Ela
tem que dar exemplo e seguir a
lei", afirma João Carlos Scalzilli,
diretor da Associação dos Direitos Financeiros do Consumidor,
citando uma parte da Constituição que prevê a cobrança de juros
reais de no máximo 12% ao ano,
mas que é contestada na Justiça
pela falta de regulamentação.
O professor de direito administrativo Adilson Dallari e o advogado Toshio Mukai avaliam que a
remuneração de 2,5% ao mês pode ser aceitável porque, embora
seja superior à taxa básica de juros, não se distancia da do mercado. "Se a empresa tiver que pegar
dinheiro emprestado no banco
para começar a trabalhar, por
exemplo, essa correção não configura lucro financeiro", afirma Dallari. "Se é um valor de mercado,
não é um exagero", diz Mukai.
Critérios de seleção
A abertura dos envelopes da licitação foi suspensa temporariamente no último dia 23, depois
que a Justiça pediu explicações
sobre os critérios de seleção. A
CET fez um edital em que atribuía
peso três para técnica e sete para
preço. Depois, fez uma nova versão invertendo essas pontuações.
A mudança favorece as grandes
empresas e reduz as chances de
conseguir preços menores.
"Essa opção é absurda porque
potencializa a margem de subjetividade. A solução correta seria
atribuir uma nota técnica de suficiência e, a partir de então, julgar
apenas pelos menores preços oferecidos", diz Adilson Dallari. Mukai não vê restrições. "A lei prevê
a possibilidade de técnica e preço.
Não há um padrão para os pesos."
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