São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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CRIME NO BROOKLIN

Segundo delegada, namorado da filha do casal preparou barras de ferro para golpear as vítimas

Morte foi planejada há 2 meses, diz polícia

Flavio Grieger/Folha Imagem
Da esq. para a dir., Daniel, Andreas e Suzane no enterro de Manfred e Marísia


DA REPORTAGEM LOCAL

O planejamento de dois meses do assassinato do casal Marísia e Manfred von Richthofen contou até com a preparação de duas barras de ferro para golpear a cabeça das vítimas, segundo a polícia.
Os detalhes da premeditação foram revelados ontem pela delegada Cintia Tucunduva Gomes, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Segundo ela, houve um cuidados para não deixar vestígios e uma tentativa de confundir a polícia, com a montagem de um álibi.
Para a polícia, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, 21, e Suzane von Richthofen, 19, decidiram juntos cometer o crime e depois convidaram Cristian, irmão dele.
O planejamento, segundo a polícia, começou com os cuidados para não deixar vestígios na casa. Daniel e Cristian usaram luvas cirúrgicas que pertenciam a Marísia von Richthofen, repassadas a eles dias antes por Suzane.
Os irmãos usavam meia-calça quando entraram no local do crime. A intenção era evitar a queda de pêlos que poderiam ser submetidos a exames de DNA.
A delegada afirmou que foi o próprio Daniel quem fez as barras de ferro, recheadas com madeira. O instrumento causou afundamento de crânio nas vítimas.
Mas, apesar do planejamento, o álibi dos autores do crime não se sustentou. Daniel e Suzane permaneceram no motel da 1h36 às 2h56 do dia 31 de outubro. Só que as mortes, segundo laudo médico do IML, ocorreram por volta da meia-noite do dia 30.
A versão de Cristian também foi desmentida pela polícia. Ele afirmou que, na hora do crime, teria levado um amigo ao hospital. Uma mulher disse, no entanto, que rapaz só chegou ao local por volta das 2h do dia 31.
Os depoimentos dados por Suzane e Andreas, outro filho do casal assassinado, foram contraditórios em alguns pontos. Segundo a polícia, Andreas disse que Suzane comentou com ele que, por volta da meia-noite, encontrou a porta aberta ao passar em casa com o objetivo de pegar dinheiro para ir ao motel. Suzane negou essa informação em depoimento.

Suspeita
No início da investigação, a polícia gravou conversas entre o casal de namorados, nas quais eles combinavam não falar do assunto por telefone, mas apenas pessoalmente. Os grampos, feitos com ordens judiciais pelo Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil) para o setor de homicídios, chamaram a atenção.
No fim, a compra de uma moto Suzuki 1.100 cilindradas por US$ 3.600 dez horas após a morte do casal Richthofen levou os policiais do 27º DP (Campo Belo) a fazer a primeira prisão -Cristian.
Na manhã da última quarta-feira, o investigador Artur Manoel Salvador, 53, viu a moto parada na frente da casa dos pais dos rapazes, que disseram que ela pertencia a um amigo dos filhos.
Por meio da placa da moto, o investigador descobriu que ela havia sido comprada por Marcos Nahime, da loja M. Nahime Motos. Segundo Nahime, Cristian chegou ao local dizendo que a moto era para o amigo Jorge March. Mas foi Cristian quem escolheu a moto e se decidiu pela compra em 20 minutos. Pagou em dólares.
No início da tarde de anteontem, Salvador localizou Cristian na rua onde March mora. Ele convenceu o rapaz a ir à delegacia ao dizer que um suspeito de ter matado o casal estava preso no 27º DP. "Ele se mostrou nervoso, dando aquelas engasgadas enquanto falava", disse Salvador.
Por volta das 15h, ambos chegaram ao 27º DP. Quando o delegado Enjolras Rello de Araújo começou a perguntar sobre a moto, Cristian disse que não era dele. Horas depois, acabou recuando.
Por volta das 21h30, os dois irmãos e Suzane foram levados ao DHPP. A acareação entre eles durou toda a madrugada. A estratégia era vencê-los pelo cansaço, o que aconteceu às 6h30 de ontem, quando os três confessaram o crime, de acordo com a polícia.
No final do dia, os dois irmãos foram levados para o 77º DP (Santa Cecília), onde receberam apenas a visita do pai, Astrogildo Cravinhos de Paula e Silva. Ele levou duas sacolas com roupas e cigarros para os filhos.
Suzane foi para o 89º DP (Portal do Morumbi), cuja carceragem é reservada a detentas com diploma universitário ou presas temporárias. Onze mulheres ocupam quatro celas projetadas para abrigar no máximo 22 detentas.
Não há camas no lugar. Todas dormem em colchões no chão. Durante a tarde, segundo funcionários da delegacia, ela conversou com as demais presas.
Logo após o jantar, quando foram oferecidos arroz, feijão, frango e farofa, um investigador do DHPP trouxe à delegacia duas sacolas contendo um cobertor e roupas de Suzane, que haviam sido deixadas no departamento.
Ontem, a polícia divulgou uma declaração escrita por Suzane em que ela afirma não querer dar entrevista a nenhum veículo para falar do assassinato.


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