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Verba extra não alivia a crise do Incor
Governo de São Paulo aumentou em 30% orçamento previsto, mas fundação não paga encargos trabalhistas há dois meses
David Uip, diretor-executivo do Incor, confirma o risco de insolvência da fundação; dívida corresponde a 82% do orçamento da instituição
FABIANE LEITE
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo estadual de São
Paulo aumentou em 30% os recursos destinados ao Instituto
do Coração do Hospital das Clínicas, mas isso não foi suficiente para conter a crise da Fundação Zerbini, entidade privada
que administra o hospital público -referência de cardiologia na América Latina.
Ontem a fundação, que acumula dívidas de R$ 245 milhões, decidiu não pagar os encargos trabalhistas de sua responsabilidade pelo segundo
mês consecutivo, liberando
apenas a complementação dos
salários dos cerca de 3.000 funcionários do Incor, atrasados
desde a última terça-feira -a
entidade paga de 60% a 100%
do valor de cada contracheque.
A fundação também divulgou
ontem plano de ajuste financeiro, que inclui estudos para reduzir a folha de pagamento. O
diretor-executivo do Incor, David Uip, voltou a confirmar o
risco de insolvência da Zerbini
[comparável à falência]. "Não
tem nada diferente."
Segundo o presidente do
conselho curador da fundação,
Jorge Kalil, nessa hipótese o
patrimônio da Zerbini, como
equipamentos hospitalares, teria de ser vendido para pagar
dívidas, o que prejudicaria o Incor. "O hospital ficaria mal."
A Secretaria Estadual da Saúde, a que o Incor está vinculado,
informou que o governo analisa
novos auxílios à fundação.
Segundo Kalil, a ajuda poderá vir tanto do Estado como do
governo federal e de bancos
privados ou estatais.
A dívida acumulada, de R$
245 milhões, corresponde a
82% do orçamento previsto para este ano, de R$ 300 milhões.
A maior parte do débito (R$ 117
milhões) é com o BNDES.
Para o promotor de fundações do Ministério Público Airton Grazzioli, que acompanha a
situação do Incor, o governo estadual deveria contribuir mais.
"A fundação é privada, mas
presta um serviço público. E
boa parte do endividamento
dela ocorreu para a ampliação
do hospital, o que aumentou a
oferta do serviço." Neste ano, o
Estado prometia repassar R$
150 milhões ao Incor, via fundação, mas aumentou o recurso
para R$ 200 milhões (acréscimo de 30%) por causa da crise,
informou Uip. A secretaria não
detalhou a origem do reajuste.
Segundo Uip, o Estado, com o
valor, cobriu as compras de órteses e próteses e assumiu os
salários de 900 funcionários
antes bancados só pela fundação e que passaram para a folha
do Hospital das Clínicas, que
abrange o Incor. No entanto,
afirma, ainda é necessária a incorporação de outros 700.
A fundação foi criada em
1978 para agilizar a administração do Incor e apoiar sua expansão -como é uma entidade
privada, não precisa fazer licitações nem concursos públicos,
o que, na avaliação da direção,
permitiu ao hospital se tornar
um serviço de ponta.
Em 2005, o Incor realizou
260 mil consultas -80% do
atendimento é público. O instituto também atende personalidades, como o presidente Lula.
Segundo Uip, reuniões com
os funcionários têm evitado
uma greve. "O que foi feito é pagar, nada pior que não receber,
mas estamos longe de equacionar a situação."
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