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Major do Bope ironiza morte de seqüestrador do 174
"Eu não fiz questão realmente de ressuscitá-lo muito, não; foi embora!", afirmou
Em palestra, oficial absolvido em processo que apurou morte de Sandro Nascimento conta como apertou o pescoço do rapaz
RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO A PORTO ALEGRE
Absolvido pela Justiça da
acusação de assassinato, o major do Bope Ricardo Soares narrou em palestra a cerca de 130
policiais de todo o país como o
seqüestrador do ônibus 174,
Sandro do Nascimento, 21,
morreu dentro de um camburão no Rio, em junho de 2000.
O relato foi feito no fim de semana, em Porto Alegre.
"Eu não fiz questão realmente de ressuscitá-lo muito, não.
Foi embora!", declarou, provocando risos na platéia. "Vou ser
sincero: entre ele e eu, vai ele,
porque tenho muita vida pela
frente, se Deus quiser", disse.
Soares -capitão do Bope em
2000- descreveu como, após
resistência de Nascimento no
carro policial, asfixiou o criminoso até ele desfalecer.
"Embarquei junto com Sandro. (...) Ele lutou muito conosco. Dois camaradas, dois soldados, estavam segurando as pernas dele, ele me mordeu, tentou se livrar do golpe e eu acabei apertando o pescoço dele, e
aí ele desfaleceu. E eu não fiz
questão realmente de ressuscitá-lo muito, não. Foi embora!
(risos) A verdade é essa", disse,
em relato gravado pela Folha.
Hoje chefe da seção de pessoal, correição disciplinar e
processos administrativos do
Bope, o major é instrutor de
"progressão em favelas" no 9º
SWAT, curso promovido pelo
Cati (sigla em inglês para Centro para Imobilização de Táticas Avançadas), empresa especializada em treino policial.
Ele criticou o fato de ter sido
preso administrativamente por
30 dias pelo episódio, ao lado
de dois soldados. "Eu, particularmente, sofri muito. Fiquei
preso por 30 dias de uma forma
covarde, me prenderam para
dar justificativa à Rede Globo."
O Cati prega o aperfeiçoamento de policiais e o uso da
técnica em detrimento da violência, objetivando o menor
número de mortos e feridos em
ação. O carro-chefe é o ensino
de táticas especiais de imobilização de suspeitos para o emprego policial, o que passou a
ser difundido pelo mundo.
Outro chamariz do curso,
que dura nove dias, são as aulas
dadas por policiais da SWAT do
Texas (EUA) sobre técnicas de
resgate de reféns e confronto
em ambientes confinados, visando reduzir a letalidade.
O procurador de Justiça
Afrânio Silva Jardim disse que,
embora tivesse admitido ter
aplicado um "mata-leão" em
Nascimento no inquérito, Soares teve comportamento diferente quando foi julgado. "No
banco dos réus ele estava pianinho, de cabeça baixa, sem contar essas bravatas de agora. Falar isso em público assim passa
um mau exemplo", afirmou.
Em junho de 2000, Sandro
do Nascimento manteve 11 reféns por mais de quatro horas
em um ônibus no Jardim Botânico (zona sul do Rio). Um policial do Bope avançou sobre o
seqüestrador que já saíra do
ônibus e disparou duas vezes.
Errou os dois tiros (acertou o
queixo da refém e errou o outro) e Sandro matou a refém, a
professora Geísa Firmo Gonçalves, 20, com três tiros.
Nascimento foi asfixiado e
morto depois de preso, no carro policial do Bope. Apesar de
terem ficado presos na PM por
um mês, Soares e os soldados
Flávio do Val Dias e Márcio da
Araújo David, que estavam no
veículo, foram absolvidos pelo
Tribunal do Júri por 4 a 3.
O Tribunal de Justiça confirmou a decisão - da qual não
cabe recurso. Sindicância da
PM não apontou culpados para
a morte da professora.
"Fazendo um mea-culpa, a
gente aprendeu muito, precisou sangrar para aprender
muita coisa. Apesar de termos
salvo a vida de 10 de 11 reféns",
disse Soares aos policiais.
No final da palestra, logo depois de comentar o caso 174,
ele gritou o lema do Bope: "Caveira!" A platéia, empolgada,
respondeu: "Caveira!"
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