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ANÁLISE
Discussão sobre Enem é mais ampla que o erro no exame
PEDRO FLEXA RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA
As trapalhadas na aplicação das provas prejudicam
candidatos e abalam a credibilidade da avaliação. São
decorrência direta e sintoma
do gigantismo a que o Enem
foi conduzido. No entanto,
por maiores que sejam os
transtornos, as controvérsias
em torno desse exame ultrapassam -e antecedem- os
tropeços operacionais.
O sentido maior de todo o
investimento feito pelo governo no Enem deve ser também o de melhorar a qualidade da sala de aula e das práticas docentes. Ele deveria
apontar caminhos, induzir
inflexões e orientar o sistema
de ensino como um todo. Para isso, o governo deveria garantir que, em todo o país,
professores do ensino médio
recebessem relatórios detalhados do desempenho de
seus alunos em cada prova e
em cada competência.
No entanto, desde 2007, só
o que se tem tido é a divulgação de rankings de efeito sensacionalista, que apenas semeiam desconfiança em relação ao sistema de ensino
brasileiro, sem indicar caminhos para aperfeiçoamentos.
Ao negligenciar esse aspecto, o governo permite que se
escoe um dos principais sentidos do investimento feito
em uma avaliação tão dispendiosa.
De outro lado, é oportuno
também que se reflita acerca
dos usos e sentidos do próprio exame. Com o Sisu, o governo incorporou parte do
processo de ingresso nas universidades públicas. O Enem
pretende aglutinar diferentes
objetivos: avaliar o desempenho individual do estudante,
produzir avaliações da qualidade, relevância ou mérito
de instituições de ensino e
ainda selecionar candidatos
ao ingresso na universidade.
No entanto, esses objetivos
são distintos, têm sentidos e
lógicas diferentes. A tentativa de síntese e reunião desses objetivos em um único
exame implica perda de foco
e de precisão da avaliação
feita, abalando sua precisão
e confiabilidade.
Resta a reflexão sobre os
motivos de o governo querer
controlar diretamente critérios para acesso às universidades públicas e converter o
Enem em um gigantesco vestibular de Estado. Essa investida centralizadora expõe o
mesmo espírito de tutela inspirador dos mecanismos de
"controle social da imprensa". Ou daqueles que despendem energia patrulhando obras de Monteiro Lobato.
PEDRO FLEXA RIBEIRO é educador e
diretor do Colégio Andrews, no Rio
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