São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2011

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Megaoperação desocupa reitoria da USP

  400 POLICIAIS PARTICIPAM DE EXPULSÃO DE ESTUDANTES   72 PESSOAS SÃO DETIDAS E PASSAM O DIA NA DELEGACIA   ASSEMBLEIA CONVOCA GREVE GERAL DE ALUNOS DO CAMPUS A PARTIR DE HOJE

Governador afirma que invasores precisam de 'aula de democracia'; reitor da universidade não dá declarações

Danilo Verpa/Folhapress
Estudante que ocupava a reitoria deixa o prédio após ser rendido por PMs

DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Cerca de 400 policiais em carros, cavalos e até helicópteros cercaram a reitoria da USP e retiraram na madrugada de ontem os invasores que desde quarta estavam ali protestando contra a presença da Polícia Militar no campus, na zona oeste de São Paulo. Estudantes que dormiam no local saíram do prédio com as mãos na cabeça, em fila indiana, cercados pelos homens da Tropa de Choque. Ao todo, 72 pessoas foram levadas de ônibus à delegacia, entre elas um estudante da PUC e quatro funcionários que apoiam os invasores.
A detenção desencadeou protestos na universidade. Ainda pela manhã, um grupo impediu a entrada de alunos na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). As aulas da unidade foram suspensas.
Cerca de 200 pessoas marcharam até a delegacia, onde os invasores eram mantidos nos fundos, dentro dos ônibus. Depois, os manifestantes voltaram para a reitoria.
À noite, uma assembleia com 2.000 participantes, segundo cálculo dos organizadores, decretou greve geral dos alunos a partir de hoje -a votação foi feita por contraste, quando é possível saber visualmente que a maioria concorda, de braços levantados. Foi marcado ainda um ato para amanhã em frente à Faculdade de Direito, no largo São Francisco, no centro. As reivindicações dos grevistas incluem a saída da PM do campus, a criação de um grupo para discutir um programa de segurança especial, a renúncia do reitor João Grandino Rodas e a não punição administrativa dos invasores -eles podem ser suspensos ou até expulsos.
Na polícia, eles foram indiciados sob suspeita de desobediência a ordem judicial (descumpriram o prazo de deixar a reitoria anteontem) e dano ao patrimônio público (o prédio foi danificado).
A pena prevista para o primeiro crime varia de 15 dias a 6 meses de detenção. Para o segundo, de 6 meses a 3 anos. Elas podem ser substituídas por serviços comunitários.
Os 72 detidos foram ouvidos durante todo o dia de ontem. Todos afirmaram que só dariam declarações em juízo. Os invasores começaram a ser liberados aos poucos no fim da noite de ontem, após o pagamento de fiança de R$ 545 cada um e de passarem por exame no IML.

SURPRESA
Os invasores da reitoria foram pegos de surpresa pela megaoperação, que começou às 5h15. Eles não resistiram.
Alunos que protestavam contra as detenções, porém, protagonizaram confrontos pontuais com a PM. Alguns disseram ter sido agredidos. A Tropa de Choque chegou a isolar o vizinho Crusp, prédio de moradia estudantil. Uma bomba de gás lacrimogêneo foi lançada contra um grupo que tentava sair do edifício em direção à reitoria.
O comando da PM negou ter havido qualquer excesso. O reitor João Grandino Rodas não deu declarações públicas ontem. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou os invasores. "Alguns estudantes precisam ter aula de democracia", disse. A crise na USP começou em 27 de outubro, quando três alunos foram pegos com maconha no campus. Colegas tentaram impedir que eles fossem detidos e entraram em confronto com a PM. Na mesma noite, um prédio da FFLCH foi invadido.
Dias depois, uma assembleia decidiu pela desocupação por 559 votos a 458. Inconformada com a derrota, uma minoria deixou a FFLCH e invadiu a reitoria.
Os cerca de 50 estudantes passaram a condicionar a desocupação à saída da PM do campus e ao fim dos processos administrativos contra alunos que participaram de protestos anteriores, como a invasão da reitoria em 2007.
A PM reforçou a patrulha após assinar convênio com a direção da USP em setembro, numa reação ao assassinato de um aluno em maio. A Cidade Universitária tem cerca de 50 mil estudantes.
(CRISTINA MORENO DE CASTRO, RAPHAEL SASSAKI, RAFAEL SAMPAIO, EDUARDO GERAQUE e LEONARDO LÉLLIS)


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