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"Eu não me arrependo"
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um acidente com o preservativo, dois dias de atraso num ciclo
menstrual "reguladinho" e a suspeita se tornou aflitiva demais para esperar. No banheiro de casa, a
produtora Maria (nome fictício),
28, mergulhou a haste de papelão
de teste de gravidez em sua urina
e, ao surgirem duas linhas paralelas no marcador, o que mais temia
se confirmara: estava grávida.
Maria nem era tão novinha
-estava com 24 anos-, mas, segundo ela, não tinha "a menor estrutura financeira e psicológica
para colocar um filho no mundo".
"Junto com a suspeita já veio a
certeza de que, se estivesse grávida, faria um aborto", admite.
Leia, a seguir, trechos de seu depoimento à Folha.
Folha - Como você descobriu a
gravidez e optou pelo aborto?
Maria - Foi tudo junto. Se ainda
hoje eu não tenho nenhuma estrutura para ter um filho, imagine
há quatro anos. Precisava de mais
maturidade e dinheiro.
Folha - Mas, para evitar uma gravidez, também há meios.
Maria - Admito que tem toda essa questão da prevenção. No meu
caso, foi acidente. A camisinha estourou. Aconteceu, e o aborto foi
a melhor opção para mim.
Folha - Você, na época, sabia que
aborto é crime?
Maria - Sabia de tudo. Mas não
concordo com isso. A mulher tem
de ter uma opção. Não acho que
aborto tem de ser usado como
método contraceptivo, ou seja,
engravidou, faz. Só que há casos e
casos, e isso deve ser respeitado.
Folha - Como fez o aborto?
Maria - No mesmo dia do resultado positivo do exame, saí procurando um meio de fazer o aborto. Queria fazê-lo o quanto antes,
para que o feto não estivesse formado ainda. Tinha uma amiga
que já tinha feito, e ela me indicou
o médico que havia cuidado do
caso dela. Fiz o aborto em um
hospital-maternidade, com toda a
estrutura. Paguei, na época, R$
1.000 por ele. Acordei da anestesia
com cólicas e uma sensação esquisita. Não sou um monstro,
mas sabia o que tinha de fazer naquele caso. E não me arrependo
nem um pouco disso.
Folha - Por que você acha que há
quem seja contra o aborto?
Maria - Há os preconceitos e os
preceitos religiosos. Mas abortos
sempre serão feitos. É algo que,
apesar de qualquer lei, sempre vai
existir. E eu acho que é melhor
que sejam evitados problemas
mais graves de saúde e até mortes
de mulheres por conta de remédios e clínicas de fundo de quintal.
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