São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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SOB SUSPEITA

Para delegado, laudos e perícia provam que não houve confronto no episódio que resultou em 5 mortes em Niterói

Crianças morreram sem reagir, diz polícia

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Os quatro policiais militares que atuaram na operação no morro do Estado, Niterói (15 km do Rio), no último sábado, responderão na Justiça por cinco homicídios e tentativa de homicídio.
Apesar de os PMs afirmarem que trocaram tiros com traficantes, o resultado do inquérito policial nega o confronto. Na ação, cinco pessoas morreram, entre elas duas crianças, de 11 e 12 anos.
A prisão preventiva deles será pedida hoje à Justiça. O inquérito descarta o envolvimento de outros oito PMs que ficaram na parte baixa do morro. A prisão administrativa dos 12 acaba hoje.
Segundo o delegado Paulo Henrique Silva Pinto, o sargento Antônio Carlos Miranda, o cabo José Francisco de Araújo Júnior e os soldados Wanderson Soares Nunes e José Roberto Primo Domingues assassinaram duas crianças, dois adolescentes, de 15 e 16, e um jovem sem que houvesse reação. "As contradições nos depoimentos dos policiais, o laudo da necropsia e, principalmente, a perícia e a reconstituição provam que não houve confronto."
O laudo de necropsia mostra que as vítimas foram assassinadas com uma grande quantidade de tiros, alguns pelas costas.
José Maicon dos Santos Fragoso, 16, tem um ferimento na mão esquerda que, segundo o delegado, é considerado "lesão de defesa". Ele teria levado a mão ao rosto, numa reação natural de defesa. O tiro atravessou a mão e furou o olho. No total, levou sete tiros.
Luciano Rocha Tavares, 12, levou dois tiros pelas costas. Edmilson Santos da Conceição, 15, foi atingido na barriga, na coxa esquerda e na perna direita. Wellington Lima, 11, levou um tiro na cabeça, três no peito e um no braço. Wedson Conceição Silva, 24, foi baleado na cabeça e no braço.
Já um jovem de 13 anos baleado na perna segue internado. Antes considerado suspeito, está agora sob guarda e será incluído no programa de proteção à testemunha. Em depoimento, o rapaz disse que 3 dos 5 mortos faziam parte do tráfico de drogas. Para o delegado, porém, o fato de fazerem ou não parte do tráfico não justifica os excessos dos policiais.
Ontem à tarde, policiais militares fizeram reunião com moradores do morro para apresentar a idéia de construir ali um novo grupamento. O local está sendo escolhido, e uma equipe será treinada para atuar no morro.


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