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Sem depor, pilotos do Legacy voltam aos EUA
Joe Lepore e Jan Paladino foram indiciados pela PF por "expor aeronave a perigo'
Os dois americanos embarcaram ontem à tarde no aeroporto de Cumbica (Grande SP) em um jato Legacy, como passageiros
DANIELA TÓFOLI
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Os americanos Joe Lepore e
Jan Paladino, pilotos do jato
Legacy que se chocou com o
Boeing da Gol provocando a
morte de 154 pessoas, deixaram ontem o país sem prestar
depoimento à Polícia Federal.
Eles se recusaram a falar porque, antes de depor, foram indiciados sob a acusação de "expor
a perigo embarcação ou aeronave, na modalidade culposa
[sem intenção], agravado pelo
resultado morte", segundo nota emitida pela PF.
Depois de 70 dias proibidos
de sair do país por determinação da Justiça, os pilotos embarcaram, como passageiros,
em um jato Legacy, em Guarulhos, por volta das 15h30, com
destino aos Estados Unidos.
Os dois chegaram à sede da
PF em São Paulo por volta das
8h e foram indiciados pelo delegado Ramón Almeida da Silva. Orientados pelos advogados
José Carlos Dias e Theo Dias,
não responderam a nenhuma
pergunta feita por Silva.
"O delegado não estava interessado em ouvir as explicações, que ajudariam muito no
caso porque tinham informações importantes a dar. De forma descabida e preconceituosa, já havia decidido pelo indiciamento", disse José Carlos.
Assim, explicou, recomendou que seus clientes ficassem
calados durante as seis horas
que permaneceram na polícia.
"Por mais de dois meses, eles
esperaram o momento de serem ouvidos e o delegado não
se interessou. O silêncio ocorreu porque ele decidiu indiciá-los antes de ouvi-los", disse.
"Foi um ato discriminatório
e parece que há um conteúdo
político, como que desculpando os que representam o governo. Ele foi cauteloso com os
controladores, não os indiciou,
mas não foi com os pilotos. Só
por que eles não pertencem ao
governo? Não me conformo
com a decisão." Para José Carlos, parece haver um interesse
em dizer que foram os americanos que causaram as mortes. "É
mais fácil para o governo."
No Brasil, disse Theo, o indiciamento não tem grande importância jurídica. "Mas tem
efeito moral estigmatizante.
Eles deixaram o país arrasados,
de cabeça baixa." O indiciamento é um procedimentos da
fase de instrução do inquérito.
Indica que o delegado estabelece sua convicção de quem pode
ser o autor do fato criminoso.
Após o fim do inquérito, que
deverá ser concluído em 13 de
dezembro, o caso será entregue
ao Ministério Público Federal e
à Justiça Federal no município
de Sinop (MT). O Ministério
Público Federal irá denunciar
ou não os indiciados. Se a decisão for pela denúncia, a Justiça
terá um prazo para se manifestar. Se a acolher, o processo é
instaurado e o indiciado passa a
ser chamado de réu.
Os pilotos foram indiciados
no artigo 261, parágrafo 3º,
combinado com artigos 263 e
258, todos do Código Penal, que
prevêem o delito de "expor a
perigo embarcação ou aeronave", na modalidade culposa,
agravado pelo resultado "morte". A pena prevista é a mesma
aplicada ao homicídio culposo
(de 1 a 3 anos de prisão), aumentada de um terço.
Segundo Theo, não é possível
afirmar a qual avião o delegado
se refere no indiciamento.
A Folha procurou o delegado
Ramón Silva e o informou sobre as críticas feitas pelos advogados dos dois pilotos. A assessoria de imprensa da Polícia
Federal informou que ele não
responderia ontem.
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