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Após ordem de Lula, FAB recebe os controladores
Conversa entre Luiz Carlos Bueno, comandante da Aeronáutica, e operadores de vôo foi "áspera e inconclusiva", segundo relatos
Relatório de técnico da empresa responsável pelo sistema de rádio confirma que pane de terça-feira não foi resultado de sabotagem
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Logo depois de receber ordem do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para negociar com
os controladores de tráfego aéreo, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos
Bueno, convocou os líderes da
categoria para uma conversa
que, segundo relatos, foi áspera
e inconclusiva.
A reunião foi anteontem à
tarde, antes da entrevista na
qual Bueno elogiou os controladores publicamente pela primeira vez.
Porém, a portas fechadas, a
atitude do brigadeiro teria sido
de exasperação e cobrança, em
tom de voz elevado.
Os diretores da ABCTA (Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo) teriam sido questionados por
Bueno sobre suas reivindicações, especialmente na questão
de aumento salarial.
Num momento mais tenso,
Bueno teria culpado os sargentos pela possibilidade de "perda
do poder", alusão ao estudo do
governo sobre a desmilitarização do controle aéreo civil.
A Aeronáutica confirmou a
reunião de quarta-feira, realizada na presença do comandante do Cindacta-1, Carlos de
Aquino, mas não comentou o
teor da conversa.
Antes da audiência com Bueno, a ABCTA tinha sido recebida só pelo ministro Waldir Pires (Defesa), o que irritou o comandante da FAB e foi tratado
internamente como quebra de
hierarquia.
A mudança de postura, para o
presidente do sindicatos de
controladores (que representa
a minoria civil do setor), Jorge
Carlos Botelho, só ocorreu devido à ordem de Lula. "Essa nova atitude de concórdia e humildade só pode ser explicada
assim", disse.
Atrito
De acordo com relatos sobre
a reunião, algumas questões
pontuais viraram motivo de
atrito, como as viagens de Bueno para o Rio de Janeiro, onde
ele mora. Segundo os controladores, os vôos do comandante
nos finais de semana são perigosos porque têm prioridade e
controle independentes das regras seguidas para o resto da
aviação, o que causa conflitos
no ar.
Também teria sido discutida
uma provável nova evasão de
sargentos controladores, que
poderiam decidir prestar o
concurso para controlador civil
e ganhar um salário mais vantajoso que o do setor militar.
Relatório técnico
Em relatório enviado ao Ministério da Defesa, o técnico da
empresa italiana responsável
pelo sistema de rádio do Cindacta-1 (centro de controle de
tráfego aéreo de Brasília) concluiu que não houve sabotagem, mas falha humana na pane que praticamente parou os
aeroportos de todo o país na última terça-feira.
Esse relatório confirma os
resultados preliminares da investigação conduzida pela Aeronáutica.
"É correto excluir a possibilidade de sabotagem", escreveu o
técnico, em relatório de oito
parágrafos sobre a pane, explicando que tudo começou com
uma interferência (os "zumbidos estranhos", segundo oficiais da Aeronáutica) e que a
queda geral do sistema foi resultado da tentativa de correção.
No texto, o italiano diz que os
funcionários da manutenção
chegaram à conclusão de que
havia problemas técnicos e tentaram fazer uma troca.
Foi justamente nessa troca
que o problema se intensificou,
porque houve um conflito de
números que "derrubou o link
de comunicação entre as centrais". Essa, enfim, foi a verdadeira pane.
Colaborou ELIANE CANTANHÊDE , colunista da
Folha
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