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"Exames têm sido usados para amenizar preocupação dos pais"
JULLIANE SILVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O neurorradiologista Marcelo Valente, responsável pelo
centro de diagnóstico do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas da USP, critica pedidos
em exagero de exames para as
crianças. Para ele, médico e família devem priorizar a consulta e usar os métodos de diagnóstico como complemento
-quando necessários.
FOLHA - Quando passou a perceber
excessos nos pedidos de exame?
MARCELO VALENTE - Para nossa
observação, pedimos que os
médicos do Instituto da Criança fizessem uma consulta minuciosa, mas sem pedir exames, e as famílias saíram desconfiadas. Percebo que os exames têm sido usados para amenizar a preocupação dos pais.
FOLHA - A consulta médica é suficiente para um diagnóstico correto?
VALENTE - Todos os casos podem ser analisados com avaliação clínica, a princípio. Um
exemplo é a convulsão febril,
uma condição chocante que
preocupa os pais, mas que tem
diagnóstico exclusivamente
clínico, pois é uma resposta à
febre. Pacientes que sofrem batidas na cabeça, a princípio,
também não precisam fazer
exames. O médico examina o
crânio com apalpação e mantém a criança em observação.
Exames, só em caso de alteração de comportamento.
FOLHA - Qual é a importância do
vínculo médico-paciente?
VALENTE - Uma relação confiante contribui para o melhor
tratamento. Quando a consulta
é feita às pressas, propicia exames desnecessários e traz diagnósticos que não são benéficos.
FOLHA - Como saber se o exame
pedido pelo médico é pertinente?
VALENTE - O profissional bem
informado consegue, muitas
vezes, antever o que virá no
exame. O mau profissional deixa transparecer que não tem
idéia do que o paciente tem e
pede vários exames, muitas vezes sem explicação ou sem foco.
Pode-se fazer um excelente
exame técnico, mas sem atenção à queixa do paciente.
FOLHA - O exame faz falta para
comparar as condições antigas do
paciente com a atual?
VALENTE - Não. O histórico da
criança pode responder às
principais dúvidas, não é preciso fazer exames por causa dessa
preocupação.
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