São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Brasileiros contam por que deixaram os EUA para trás

Sonho americano frustra imigrantes, que agora têm dificuldade para poupar

"É bem provável que cresça mais o número dos que voltam", diz cônsul-geral do Brasil em Nova York, José Alfredo Graça Lima

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Timidamente, o mecânico Alex Gomes, 29, conta que, em cinco anos de EUA, conseguiu "juntar só um pouquinho" de dinheiro para começar uma vida nova no Brasil. Da sonhada casa, deu apenas uma entrada.
No aeroporto de Nova York, ele explica que, há seis meses, os clientes começaram a diminuir na oficina em que trabalhava. Alex teve receio de ficar desempregado justamente na terra que, segundo ouviu falar, nunca faltam oportunidades.
Sua mulher, Simone, reclama: "Estava bom até dois, três anos atrás. Eu limpava casas de família e, de repente, o serviço ficou escasso. O dólar também está baixo demais, mal pagamos as despesas e quase não sobra".
Fizeram as contas e decidiram que não compensava o risco de ser pego pela imigração e deportado. Ansiosos para reencontrar a família, ainda não sabem onde vão morar.
"Somos de Governador Valadares, mas creio que vamos nos estabelecer em Belo Horizonte. Quero exercer a minha profissão de bióloga", sorri Simone, resignada, com Pedro Henrique, de cinco meses, no colo.
Segundo o cônsul-geral do Brasil em Nova York, José Alfredo Graça Lima, a tendência de retorno começa a ser identificada. "Concretizando-se as expectativas de que a economia dos EUA tenha um desempenho ruim em 2008 e o Brasil continue melhorando, é bem provável que cresça mais o número dos que voltam."
Não existe contabilização oficial dos cidadãos que deixam os EUA, mas os relatos dos que vivem nas regiões com alta concentração de brasileiros são semelhantes -vindos de proprietários de estabelecimentos comerciais, cujo faturamento está caindo; de empresas de mudanças, que a cada dia despacham mais caixas e contêineres para o Brasil; de casas de remessas de dinheiro, que fazem menos envios; e das agências de viagem.
"Comparando as vendas de passagens somente de ida para o país no segundo semestre de 2006 com o mesmo período deste ano, a alta é de 30%", afirma Francine Melo, da Francine's Travel, de Newark, Nova Jersey.
Retornam aqueles que nem sequer conseguiram chegar perto de desfrutar o sonho americano, em movimento contrário ao dos trabalhadores com alto grau de instrução, para quem o número de vistos de entrada dados pelos EUA subiu 185% em dez anos.
Os sinais de regresso definitivo de uma parte dos brasileiros são usados por líderes comunitários e políticos locais para pressionar parlamentares americanos por uma legislação que legalize os imigrantes ilegais, já que pode faltar mão-de-obra nas regiões mais afetadas.
Isso deve provocar, no curto prazo, aumento do número de vagas disponíveis e elevação dos salários pagos, atraindo imigrantes de volta em um ou dois anos, assim que a economia americana se recuperar.
"A esperança as pessoas jamais perdem", comenta Graça Lima.


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