|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileiros contam por que deixaram os EUA para trás
Sonho americano frustra imigrantes, que agora têm dificuldade para poupar
"É bem provável que cresça mais o número dos que voltam", diz cônsul-geral
do Brasil em Nova York, José Alfredo Graça Lima
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Timidamente, o mecânico
Alex Gomes, 29, conta que, em
cinco anos de EUA, conseguiu
"juntar só um pouquinho" de
dinheiro para começar uma vida nova no Brasil. Da sonhada
casa, deu apenas uma entrada.
No aeroporto de Nova York,
ele explica que, há seis meses,
os clientes começaram a diminuir na oficina em que trabalhava. Alex teve receio de ficar
desempregado justamente na
terra que, segundo ouviu falar,
nunca faltam oportunidades.
Sua mulher, Simone, reclama: "Estava bom até dois, três
anos atrás. Eu limpava casas de
família e, de repente, o serviço
ficou escasso. O dólar também
está baixo demais, mal pagamos as despesas e quase não sobra".
Fizeram as contas e decidiram que não compensava o risco de ser pego pela imigração e
deportado. Ansiosos para reencontrar a família, ainda não sabem onde vão morar.
"Somos de Governador Valadares, mas creio que vamos nos
estabelecer em Belo Horizonte.
Quero exercer a minha profissão de bióloga", sorri Simone,
resignada, com Pedro Henrique, de cinco meses, no colo.
Segundo o cônsul-geral do
Brasil em Nova York, José Alfredo Graça Lima, a tendência
de retorno começa a ser identificada. "Concretizando-se as
expectativas de que a economia
dos EUA tenha um desempenho ruim em 2008 e o Brasil
continue melhorando, é bem
provável que cresça mais o número dos que voltam."
Não existe contabilização
oficial dos cidadãos que deixam
os EUA, mas os relatos dos que
vivem nas regiões com alta concentração de brasileiros são semelhantes -vindos de proprietários de estabelecimentos comerciais, cujo faturamento está caindo; de empresas de mudanças, que a cada dia despacham mais caixas e contêineres
para o Brasil; de casas de remessas de dinheiro, que fazem
menos envios; e das agências de
viagem.
"Comparando as vendas de
passagens somente de ida para
o país no segundo semestre de
2006 com o mesmo período
deste ano, a alta é de 30%", afirma Francine Melo, da Francine's Travel, de Newark, Nova
Jersey.
Retornam aqueles que nem
sequer conseguiram chegar
perto de desfrutar o sonho
americano, em movimento
contrário ao dos trabalhadores
com alto grau de instrução, para quem o número de vistos de
entrada dados pelos EUA subiu
185% em dez anos.
Os sinais de regresso definitivo de uma parte dos brasileiros
são usados por líderes comunitários e políticos locais para
pressionar parlamentares
americanos por uma legislação
que legalize os imigrantes ilegais, já que pode faltar mão-de-obra nas regiões mais afetadas.
Isso deve provocar, no curto
prazo, aumento do número de
vagas disponíveis e elevação
dos salários pagos, atraindo
imigrantes de volta em um ou
dois anos, assim que a economia americana se recuperar.
"A esperança as pessoas jamais perdem", comenta Graça
Lima.
Texto Anterior: 7 mandamentos para a salvação do condutor preso no inferno Próximo Texto: "Situação já não é tão boa", diz Ferreira, que vai voltar Índice
|