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Paschoal Perrotta e a vida orquestrada
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ele não compôs nenhuma
canção, mas fez parte da história da música brasileira. Da
Jovem Guarda à bossa nova,
do rock-denúncia ao pagode,
de Roberto Carlos a Só Pra
Contrariar -todos passaram
pelas orquestras arregimentadas por Paschoal Perrotta.
A foto na carteira da Ordem
dos Músicos do Brasil é de um
jovem carioca bochechudo, recém-formado em teoria musical e violino e que, por indicação do pai -contrabaixista da
orquestra da Rádio Nacional-,
foi logo trabalhar no maior palco musical da época, entre divas como Emilinha Borba e
Dalva de Oliveira.
Só saiu para virar clarinetista do corpo de bombeiros, onde chegou a fazer treinamento
para salvar vidas. Mas só salvou a pele dos músicos da banda, que, mesmo após sua aposentadoria por causa de um infarto, ligavam implorando pelas partituras -que ele sabia
em qual armário e gaveta estariam.
Ainda um garoto de 7 anos,
Perrota já tocava violino ensinado pelo pai, que o queria
parte de uma sinfônica. Mas
não ele, que preferia o frenesi
das gravações nos grandes estúdios, organizando orquestras de até 80 músicos.
Quando a Jovem Guarda
ainda engatinhava, ele já era
violinista da orquestra do
maestro Pachequinho, o mitológico arranjador dos sucessos
de Roberto Carlos. Desde então não parou mais -arregimentou gravações de Elis Regina e Tom Jobim no auge da Bossa Nova; de sucessos de
Ney Matogrosso, Elza Soares,
Chico Buarque; e de mais de
duas mil músicas, até mesmo o
Tema da Vitória do maestro
Eduardo Souto para Ayrton
Senna.
E ele adorava organizar uma
orquestra, convocando cada
músico pelo telefone -milhares de números que enegreciam "a famosa agenda caindo
aos pedaços".
Mas o coração estava cansado dos infartos e três pontes de
safena. "A música ainda vai te
matar", dizia o médico. Dito e
feito -envolvido em uma gravação ele sofreu infarto e derrame. Deixou um casal de filhos e um casal de netos, ao morrer no dia 23, aos 71 anos,
no Rio. Em sua missa de sétimo dia, a viúva recebeu, entre
lágrimas, o consolo de Nana
Caymmi, em memória aos velhos tempos.
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