São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Paschoal Perrotta e a vida orquestrada

WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ele não compôs nenhuma canção, mas fez parte da história da música brasileira. Da Jovem Guarda à bossa nova, do rock-denúncia ao pagode, de Roberto Carlos a Só Pra Contrariar -todos passaram pelas orquestras arregimentadas por Paschoal Perrotta.
A foto na carteira da Ordem dos Músicos do Brasil é de um jovem carioca bochechudo, recém-formado em teoria musical e violino e que, por indicação do pai -contrabaixista da orquestra da Rádio Nacional-, foi logo trabalhar no maior palco musical da época, entre divas como Emilinha Borba e Dalva de Oliveira.
Só saiu para virar clarinetista do corpo de bombeiros, onde chegou a fazer treinamento para salvar vidas. Mas só salvou a pele dos músicos da banda, que, mesmo após sua aposentadoria por causa de um infarto, ligavam implorando pelas partituras -que ele sabia em qual armário e gaveta estariam.
Ainda um garoto de 7 anos, Perrota já tocava violino ensinado pelo pai, que o queria parte de uma sinfônica. Mas não ele, que preferia o frenesi das gravações nos grandes estúdios, organizando orquestras de até 80 músicos.
Quando a Jovem Guarda ainda engatinhava, ele já era violinista da orquestra do maestro Pachequinho, o mitológico arranjador dos sucessos de Roberto Carlos. Desde então não parou mais -arregimentou gravações de Elis Regina e Tom Jobim no auge da Bossa Nova; de sucessos de Ney Matogrosso, Elza Soares, Chico Buarque; e de mais de duas mil músicas, até mesmo o Tema da Vitória do maestro Eduardo Souto para Ayrton Senna.
E ele adorava organizar uma orquestra, convocando cada músico pelo telefone -milhares de números que enegreciam "a famosa agenda caindo aos pedaços".
Mas o coração estava cansado dos infartos e três pontes de safena. "A música ainda vai te matar", dizia o médico. Dito e feito -envolvido em uma gravação ele sofreu infarto e derrame. Deixou um casal de filhos e um casal de netos, ao morrer no dia 23, aos 71 anos, no Rio. Em sua missa de sétimo dia, a viúva recebeu, entre lágrimas, o consolo de Nana Caymmi, em memória aos velhos tempos.


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