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Investigação ágil é crucial, afirma delegado em livro
Carneiro Lima defende relevância das primeiras 48 h
DA REPORTAGEM LOCAL
As primeiras 48 horas após a
ocorrência de um crime são
fundamentais para a investigação policial. Esse preceito é reforçado em artigo do delegado
Marcos Carneiro Lima na edição de 2008 do anuário do
DHPP, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da
polícia paulista, que reúne as
estatísticas do período.
Segundo a obra, o DHPP esclareceu 47% dos 1.499 casos
que investigou em 2007. Em
formato de livro, editado pela
editora Roca, a obra será distribuída gratuitamente. Leia os
principais trechos da entrevista.
(LUÍS KAWAGUTI)
FOLHA - Como é atualmente a investigação de um assassinato?
MARCOS CARNEIRO DE LIMA - A investigação policial é a montagem de um grande quebra-cabeça, e a peça central de uma
investigação de homicídio é a
vítima. Hoje, o nosso maior foco é na chegada imediata ao local do crime para colher o
maior número possível de provas, que podem ser provas materiais e testemunhais.
FOLHA - O que são essas provas
materiais?
LIMA - Pode ser uma mancha
de sangue, um tecido com sangue, uma faca, drogas...
FOLHA - Ainda existe dificuldade
com a Polícia Militar, que nem sempre preservava o local do crime?
LIMA - Isso aí está tendo uma
evolução boa e paulatina. Ainda
há falhas, mas às vezes elas se
devem exatamente à dinâmica
do crime. Muitas vezes uma
pessoa foi vítima de agressão a
tiros, mas ainda respira. Num
primeiro momento, a própria
ação de tentar salvar aquela vítima acaba prejudicando o local. Mas não tem o que fazer.
Mesmo assim a perícia é feita.
Basicamente, a importância de
preservar o local é para a observação do policial, para entender
quem é que morreu e qual foi a
dinâmica que envolveu a ação
que resultou na morte. A partir
daí, a polícia começa a entrevistar as pessoas que estão ao redor da cena do crime para tentar obter delas o maior número
possível de informações dentro
das primeiras 48 horas.
FOLHA - Hoje a polícia consegue
começar a investigar todos os assassinatos em 48 horas?
LIMA - Quando o cadáver fica
no local do crime e a autoria é
desconhecida, o DHPP é acionado e conseguimos chegar em
até 48 horas. A nossa atuação é
na capital e, em casos de chacina, na Grande São Paulo.
FOLHA - É melhor falar com as testemunhas quando estão abaladas?
LIMA - Quando está emocionalmente abalada, você pega a
pessoa na maior sinceridade.
Por exemplo, a mãe de uma vítima diz: "Eu sabia que pelo fato de estar utilizando drogas isso iria acabar acontecendo".
Depois que a emoção passa, esfria, se você perguntar se a vítima consumia drogas, a pessoa
nega. Isso acontece não porque
a pessoa é mal-intencionada.
Ela não quer que o filho que
morreu tenha a imagem que
consumia drogas. Mas, por outro lado, a polícia tem que fazer
uma filtragem, levar em consideração que está nervosa. A
mãe da vítima pode falar: "É a
ex-mulher que mandou matar,
foi a ex-mulher". Porque ela
descarrega toda a mágoa que
ela tinha em uma pessoa que
pode não ser culpada.
FOLHA - Que recursos o DHPP tem
para analisar a cena do crime?
LIMA - Verificamos vestígios
embaixo das unhas da vítima,
para saber se ela lutou com o
assassino, se há manchas de
sangue, encontramos com uma
substância química reagente. É
checado se havia iluminação no
local e qual era a temperatura
na hora do crime. Em uma noite quente, por exemplo, a pessoa poderia ter usado álcool. Já
a temperatura baixa pode dificultar a constatação da hora
exata do crime.
FOLHA - Mas o DHPP é sempre
acionado? Cada delegado não quer
resolver os homicídios que acontecem em sua área?
LIMA - Os casos de complexidade, que vão interferir com o trabalho geral da delegacia, estão
sendo remetidos para o DHPP.
A mentalidade está mudando.
Entende-se hoje o que é uma
conduta profissional. Deixa-se
de lado a vaidade para que prevaleça o interesse público. A
gente tem de lembrar que,
quando o caso é resolvido, foi a
polícia e não o policial A ou B.
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