São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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Investigação ágil é crucial, afirma delegado em livro

Carneiro Lima defende relevância das primeiras 48 h

DA REPORTAGEM LOCAL

As primeiras 48 horas após a ocorrência de um crime são fundamentais para a investigação policial. Esse preceito é reforçado em artigo do delegado Marcos Carneiro Lima na edição de 2008 do anuário do DHPP, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da polícia paulista, que reúne as estatísticas do período. Segundo a obra, o DHPP esclareceu 47% dos 1.499 casos que investigou em 2007. Em formato de livro, editado pela editora Roca, a obra será distribuída gratuitamente. Leia os principais trechos da entrevista. (LUÍS KAWAGUTI)

 

FOLHA - Como é atualmente a investigação de um assassinato?
MARCOS CARNEIRO DE LIMA
- A investigação policial é a montagem de um grande quebra-cabeça, e a peça central de uma investigação de homicídio é a vítima. Hoje, o nosso maior foco é na chegada imediata ao local do crime para colher o maior número possível de provas, que podem ser provas materiais e testemunhais.

FOLHA - O que são essas provas materiais?
LIMA
- Pode ser uma mancha de sangue, um tecido com sangue, uma faca, drogas...

FOLHA - Ainda existe dificuldade com a Polícia Militar, que nem sempre preservava o local do crime?
LIMA
- Isso aí está tendo uma evolução boa e paulatina. Ainda há falhas, mas às vezes elas se devem exatamente à dinâmica do crime. Muitas vezes uma pessoa foi vítima de agressão a tiros, mas ainda respira. Num primeiro momento, a própria ação de tentar salvar aquela vítima acaba prejudicando o local. Mas não tem o que fazer.
Mesmo assim a perícia é feita.
Basicamente, a importância de preservar o local é para a observação do policial, para entender quem é que morreu e qual foi a dinâmica que envolveu a ação que resultou na morte. A partir daí, a polícia começa a entrevistar as pessoas que estão ao redor da cena do crime para tentar obter delas o maior número possível de informações dentro das primeiras 48 horas.

FOLHA - Hoje a polícia consegue começar a investigar todos os assassinatos em 48 horas?
LIMA
- Quando o cadáver fica no local do crime e a autoria é desconhecida, o DHPP é acionado e conseguimos chegar em até 48 horas. A nossa atuação é na capital e, em casos de chacina, na Grande São Paulo.

FOLHA - É melhor falar com as testemunhas quando estão abaladas?
LIMA
- Quando está emocionalmente abalada, você pega a pessoa na maior sinceridade. Por exemplo, a mãe de uma vítima diz: "Eu sabia que pelo fato de estar utilizando drogas isso iria acabar acontecendo".
Depois que a emoção passa, esfria, se você perguntar se a vítima consumia drogas, a pessoa nega. Isso acontece não porque a pessoa é mal-intencionada.
Ela não quer que o filho que morreu tenha a imagem que consumia drogas. Mas, por outro lado, a polícia tem que fazer uma filtragem, levar em consideração que está nervosa. A mãe da vítima pode falar: "É a ex-mulher que mandou matar, foi a ex-mulher". Porque ela descarrega toda a mágoa que ela tinha em uma pessoa que pode não ser culpada.

FOLHA - Que recursos o DHPP tem para analisar a cena do crime?
LIMA
- Verificamos vestígios embaixo das unhas da vítima, para saber se ela lutou com o assassino, se há manchas de sangue, encontramos com uma substância química reagente. É checado se havia iluminação no local e qual era a temperatura na hora do crime. Em uma noite quente, por exemplo, a pessoa poderia ter usado álcool. Já a temperatura baixa pode dificultar a constatação da hora exata do crime.

FOLHA - Mas o DHPP é sempre acionado? Cada delegado não quer resolver os homicídios que acontecem em sua área?
LIMA
- Os casos de complexidade, que vão interferir com o trabalho geral da delegacia, estão sendo remetidos para o DHPP.
A mentalidade está mudando.
Entende-se hoje o que é uma conduta profissional. Deixa-se de lado a vaidade para que prevaleça o interesse público. A gente tem de lembrar que, quando o caso é resolvido, foi a polícia e não o policial A ou B.


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