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Obra só ameniza as enchentes, diz engenheiro
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas em obras se
mostram céticos quando são
questionados sobre a possibilidade de um futuro sem o transbordamento dos rios da cidade
São Paulo.
"As enchentes não têm solução. Não têm. Algumas obras
podem amenizá-las, mas não
acabar com elas", afirma o engenheiro João Francisco Soares, especialista em hidráulica e
saneamento e membro do Instituto de Engenharia.
Uma das causas das enchentes em São Paulo é a ocupação
desordenada do solo urbano.
Casas foram indevidamente
construídas sobre as várzeas,
terrenos nas bordas dos rios
que serviriam como "margem
de segurança" para os transbordamentos. Além disso, os
terrenos construídos em toda a
cidade deixam pouca área verde que permita a absorção da
água da chuva.
"A cidade tem pessoas demais e que vivem em lugares
ocupados irresponsavelmente.
E isso, da forma como está hoje,
não pode ser mudado", diz.
César Bergström, diretor de
urbanismo do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de
Arquitetura e Engenharia Consultiva), também faz uma avaliação pouco otimista: "Sempre
que chover assim [como ontem] vai haver enchente".
Entre as medidas que minimizariam o impacto das chuvas
torrenciais sobre os rios, Bergström cita o tratamento de todo
o esgoto de São Paulo. Hoje, em
parte da cidade, o esgoto é despejado diretamente nos rios.
Sem tratamento, os resíduos
sólidos se acumulam no fundo,
reduzem o espaço da água e facilitam o transbordamento. Isso exige a construção de tubulações que levem o esgoto a estações de tratamento.
"Os governantes não despoluem o rio nem constroem as
redes de esgoto porque isso não
é visível. Não há o que inaugurar. Os transbordamentos
ocorrem nesta época, longe das
eleições, e a população acaba se
esquecendo na hora de votar.
Os governantes resolveriam o
problema se as eleições fossem
em fevereiro", diz Bergström.
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