São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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Obra só ameniza as enchentes, diz engenheiro

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas em obras se mostram céticos quando são questionados sobre a possibilidade de um futuro sem o transbordamento dos rios da cidade São Paulo.
"As enchentes não têm solução. Não têm. Algumas obras podem amenizá-las, mas não acabar com elas", afirma o engenheiro João Francisco Soares, especialista em hidráulica e saneamento e membro do Instituto de Engenharia.
Uma das causas das enchentes em São Paulo é a ocupação desordenada do solo urbano. Casas foram indevidamente construídas sobre as várzeas, terrenos nas bordas dos rios que serviriam como "margem de segurança" para os transbordamentos. Além disso, os terrenos construídos em toda a cidade deixam pouca área verde que permita a absorção da água da chuva.
"A cidade tem pessoas demais e que vivem em lugares ocupados irresponsavelmente. E isso, da forma como está hoje, não pode ser mudado", diz.
César Bergström, diretor de urbanismo do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), também faz uma avaliação pouco otimista: "Sempre que chover assim [como ontem] vai haver enchente".
Entre as medidas que minimizariam o impacto das chuvas torrenciais sobre os rios, Bergström cita o tratamento de todo o esgoto de São Paulo. Hoje, em parte da cidade, o esgoto é despejado diretamente nos rios. Sem tratamento, os resíduos sólidos se acumulam no fundo, reduzem o espaço da água e facilitam o transbordamento. Isso exige a construção de tubulações que levem o esgoto a estações de tratamento.
"Os governantes não despoluem o rio nem constroem as redes de esgoto porque isso não é visível. Não há o que inaugurar. Os transbordamentos ocorrem nesta época, longe das eleições, e a população acaba se esquecendo na hora de votar. Os governantes resolveriam o problema se as eleições fossem em fevereiro", diz Bergström.


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