São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2001

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PERIGO NAS ALTURAS

Entre 2 e 4 pessoas morreram ao descer de viaduto em 2000

Despreparo causa mortes de participantes de rapel urbano

DA REPORTAGEM LOCAL

Não há como passar pela avenida Sumaré, à noite, sem ver algumas pessoas descendo por uma corda o viaduto da avenida Doutor Arnaldo. Parece uma coisa simples, principalmente quando se toma conhecimento de que muitos dos que estão ali são iniciantes no esporte, denominado rapel.
E, caso a curiosidade da pessoa vá além de apreciar a descida dos outros, ela poderá fazer rapel ali mesmo, na hora. Não precisa curso. Uma pessoa lhe dará algumas dicas e alugará o equipamento na hora.
Também não há risco de ser preso pela polícia. O rapel não é ilegal. Não há nenhuma lei municipal que impeça a prática. Tampouco federal.
E, após a primeira descida, a pessoa já se sente experiente. Parece que é praticante do esporte há anos.
Tudo muito fácil. Quer dizer, tudo seria muito fácil, caso o rapel urbano não fosse um dos esportes mais perigosos que existem. Aliás, o rapel não chega a ser um esporte. É apenas uma técnica de descida do alpinismo.
Para agravar a situação, os "instrutores" são totalmente despreparados, segundo o alpinista profissional Eduardo Carcenovai. "São picaretas que convencem as pessoas a descer, cobrando dinheiro para alugar o equipamento, muitas vezes em péssimo grau de conservação."
Eliseu Frechou, instrutor de alpinismo da academia Montanhismo, concorda com Carcenovai. "Os rapeleiros descem uma vez e acham que já sabem tudo", afirma.

Mortes
Segundo levantamento feito pela Folha em academias de alpinismo de São Paulo, morreram entre duas e quatro pessoas no ano passado fazendo rapel na avenida Sumaré. Porém não há números oficiais confirmando esse dado.
O único número que atesta o risco do rapel vem do alpinismo. Do total de acidentes fatais nesse esporte, que já é um dos mais arriscados, 70% acontecem durante o rapel, quando os alpinistas estão descendo do topo das montanhas.
O tenente Robson Garcia Góes, coordenador do curso de salvamento em alturas do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, considera a prática do rapel segura, mas não a descida realizada no viaduto da Dr. Arnaldo.
"Antes de qualquer coisa, para fazer isso, o bombeiro precisa passar por um curso de sete semanas. Além disso, o material utilizado aqui é completo e de qualidade", diz.
Para os "rapeleiros", a situação não é tão grave assim. Rodrigo Franco, publicitário, 25, vai todas as semanas ao local. "Nunca vi nenhum acidente, apesar de saber que alguns ocorreram. Mas, se isso fosse problema, ninguém deveria praticar ciclismo, esporte que também produz elevado índice de acidentes."




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