São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Próximo Texto | Índice

Ladrões de carro furtaram o Masp, diz polícia

Presos nunca tiveram envolvimento nesse tipo de crime; para os policiais, isso reforça a tese de furto encomendado

Quadros de Portinari e de Picasso ficaram 19 dias em uma casa simples de Ferraz de Vasconcelos, na maior parte do tempo sem vigia

Marcelo Soares/Folha Imagem
"O Retrato de Suzanne Bloch" e "O Lavrador de Café" após vistoria na sala de restauro do Masp


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As pinturas de Pablo Picasso e Candido Portinari foram furtadas do Masp (Museu de Arte de São Paulo) por ladrões de carro que agiam na zona leste da capital paulista, que não passaram das primeiras séries do ensino fundamental nem tinham noção nenhuma de arte.
As obras, por sua vez, permaneceram escondidas 19 dias em uma casa simples da periferia de Ferraz de Vasconcelos (Grande SP), na maior parte do tempo sem nenhum vigia.
Para a polícia paulista, que recuperou anteontem as pinturas furtadas do Masp em 20 de dezembro, o perfil dos dois homens presos e as condições em que as obras foram encontradas não deixam dúvidas de que o crime foi por encomenda. A polícia diz, no entanto, que ainda não identificou o mandante nem um possível comprador.
"Desde o início trabalhamos com a investigação de crime por encomenda", afirma Adilson Marcondes, delegado-assistente do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado). Ele disse desconhecer qualquer pedido de resgate pelas obras.
Para o delegado, os presos Francisco Laerton Lopes de Lima, 33, e Robson Jesus Jordão, 32, participaram do furto das pinturas -o sistema de câmeras do Masp captou imagens de três ladrões.
A polícia identificou um terceiro suspeito -Moisés Manoel de Lima Sobrinho-, que também teria participado do furto das obras. Ele ainda não foi localizado.
Os ladrões usaram um pé-de-cabra e um macaco hidráulico para arrombar o museu. O furto durou três minutos. Os funcionários disseram que não perceberam a movimentação.
Os dois presos negam participação no furto das telas. Mas admitem, segundo a polícia, envolvimento nas duas tentativas anteriores de roubo e furto ao museu. Lima foi preso em 27 de dezembro, no Jardim das Camélias (zona leste de SP). Jordão foi capturado anteontem, na Barra Funda (zona oeste).
Jordão levou os policiais até o local onde os quadros estavam. Ele afirma, porém, que só era o guardião das obras. Disse que recebeu as pinturas de outros criminosos e citou nomes que a polícia acredita serem fictícios. Para o delegado, Jordão chefiou o furto ao Masp.
Segundo suas fichas criminais, Jordão tem ensino fundamental incompleto e Lima não passou do primeiro ciclo (até a 4ª série). Os dois têm condenações por roubo de carro. Foram crimes ocorridos na zona leste da capital paulista. Eles estavam armados quando abordaram as vítimas, segundo as sentenças da Justiça paulista.
Lima estava em liberdade condicional. Jordão fugiu do regime semi-aberto de uma penitenciária de Valparaíso (interior de SP).
"Eles nunca tiveram nenhuma ligação com crimes envolvendo qualquer obra de arte", disse o delegado.
Segundo Marcondes, os dois presos não falaram quanto receberiam pela tarefa. A Folha não teve acesso aos acusados.

Casa
Após ser preso, Jordão levou os policiais até uma casa de três pavimentos na periferia de Ferraz de Vasconcelos. À polícia ele disse que passava a noite no local esporadicamente. Na maior parte do tempo as obras ficaram abandonadas, sem nenhum vigia, segundo seu relato.
A polícia tenta esclarecer quem são os proprietários da casa e se sabiam que o local era usado como esconderijo. Segundo vizinhos, o responsável pelo local seria um jovem, que herdou o imóvel dos pais, que faleceram. A polícia também tenta localizar o jovem.
As obras ficaram no primeiro pavimento da casa, a maior da rua Antonio Vitorino da Costa, no Jardim Sara, em Ferraz de Vasconcelos. Segundo vizinhos, esse imóvel não foi colocado para locação.


Próximo Texto: Masp terá câmeras robotizadas e sensores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.