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Ladrões de carro furtaram o Masp, diz polícia
Presos nunca tiveram envolvimento nesse tipo de crime; para os policiais, isso reforça a tese de furto encomendado
Quadros de Portinari e de Picasso ficaram 19 dias em uma casa simples de Ferraz de Vasconcelos, na maior parte do tempo sem vigia
Marcelo Soares/Folha Imagem
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"O Retrato de Suzanne Bloch" e "O Lavrador de Café" após vistoria na sala de restauro do Masp |
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As pinturas de Pablo Picasso
e Candido Portinari foram furtadas do Masp (Museu de Arte
de São Paulo) por ladrões de
carro que agiam na zona leste
da capital paulista, que não passaram das primeiras séries do
ensino fundamental nem tinham noção nenhuma de arte.
As obras, por sua vez, permaneceram escondidas 19 dias em
uma casa simples da periferia
de Ferraz de Vasconcelos
(Grande SP), na maior parte do
tempo sem nenhum vigia.
Para a polícia paulista, que
recuperou anteontem as pinturas furtadas do Masp em 20 de
dezembro, o perfil dos dois homens presos e as condições em
que as obras foram encontradas não deixam dúvidas de que
o crime foi por encomenda. A
polícia diz, no entanto, que ainda não identificou o mandante
nem um possível comprador.
"Desde o início trabalhamos
com a investigação de crime
por encomenda", afirma Adilson Marcondes, delegado-assistente do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado). Ele disse desconhecer qualquer pedido de
resgate pelas obras.
Para o delegado, os presos
Francisco Laerton Lopes de Lima, 33, e Robson Jesus Jordão,
32, participaram do furto das
pinturas -o sistema de câmeras do Masp captou imagens de
três ladrões.
A polícia identificou um terceiro suspeito -Moisés Manoel de Lima Sobrinho-, que
também teria participado do
furto das obras. Ele ainda não
foi localizado.
Os ladrões usaram um pé-de-cabra e um macaco hidráulico
para arrombar o museu. O furto durou três minutos. Os funcionários disseram que não
perceberam a movimentação.
Os dois presos negam participação no furto das telas. Mas
admitem, segundo a polícia, envolvimento nas duas tentativas
anteriores de roubo e furto ao
museu. Lima foi preso em 27 de
dezembro, no Jardim das Camélias (zona leste de SP). Jordão foi capturado anteontem,
na Barra Funda (zona oeste).
Jordão levou os policiais até
o local onde os quadros estavam. Ele afirma, porém, que só
era o guardião das obras. Disse
que recebeu as pinturas de outros criminosos e citou nomes
que a polícia acredita serem fictícios. Para o delegado, Jordão
chefiou o furto ao Masp.
Segundo suas fichas criminais, Jordão tem ensino fundamental incompleto e Lima não
passou do primeiro ciclo (até a
4ª série). Os dois têm condenações por roubo de carro. Foram
crimes ocorridos na zona leste
da capital paulista. Eles estavam armados quando abordaram as vítimas, segundo as sentenças da Justiça paulista.
Lima estava em liberdade
condicional. Jordão fugiu do
regime semi-aberto de uma penitenciária de Valparaíso (interior de SP).
"Eles nunca tiveram nenhuma ligação com crimes envolvendo qualquer obra de arte",
disse o delegado.
Segundo Marcondes, os dois
presos não falaram quanto receberiam pela tarefa. A Folha
não teve acesso aos acusados.
Casa
Após ser preso, Jordão levou
os policiais até uma casa de três
pavimentos na periferia de Ferraz de Vasconcelos. À polícia
ele disse que passava a noite no
local esporadicamente. Na
maior parte do tempo as obras
ficaram abandonadas, sem nenhum vigia, segundo seu relato.
A polícia tenta esclarecer
quem são os proprietários da
casa e se sabiam que o local era
usado como esconderijo. Segundo vizinhos, o responsável
pelo local seria um jovem, que
herdou o imóvel dos pais, que
faleceram. A polícia também
tenta localizar o jovem.
As obras ficaram no primeiro
pavimento da casa, a maior da
rua Antonio Vitorino da Costa,
no Jardim Sara, em Ferraz de
Vasconcelos. Segundo vizinhos, esse imóvel não foi colocado para locação.
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