São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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CRM investigará médico suspeito de abusos

Para presidente de conselho de medicina de SP, indícios de culpa são "fortíssimos"; Abdelmassih nega as acusações

Mais quatro mulheres afirmam ter sido molestadas; já o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução diz nunca ter ouvido queixas

Eduardo Anizelli - 7.jan.09/Folha Imagem
Clínica de reprodução assistida de Roger Abdelmassih, no Jardim América, na zona sul de SP

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo abriu ontem uma sindicância contra o médico Roger Abdelmassih, 65, que está sendo investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por suposto crime sexual contra pacientes.
Abdelmassih, um dos pioneiros da fertilização in vitro no Brasil e um dos especialistas mais procurados em sua área, disse ontem, por meio de nota, estar indignado com as acusações, mas confiar na Justiça.
A Folha publicou que a polícia e o Ministério Público tinham ouvido até quinta-feira oito ex-pacientes e uma ex-funcionária, que acusam o médico de tentar molestá-las. Ouviram também o marido de uma das acusadoras.
O presidente do Conselho, Henrique Carlos Gonçalves, que determinou a abertura de sindicância contra o médico, afirma ver "indícios fortíssimos de culpa" de Abdelmassih.
"Num caso como esse, normalmente é a palavra da paciente contra a do médico. Mas esse princípio não se aplica agora. A palavra de um médico não pode prevalecer sobre a palavra de nove mulheres. É um indício fortíssimo de culpa", afirma Gonçalves.
Segundo o presidente do Conselho, para cada uma das mulheres será aberto um processo sigiloso. Em 90 dias, o pleno do Conselho, formado por 11 médicos, analisará preliminarmente as acusações e poderá suspender de forma cautelar a licença médica de Abdelmassih, até que o caso seja julgado em definitivo.
A assessoria de Abdelmassih informou que o médico não comentará as declarações do presidente da entidade.
O médico Waldemar Naves do Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, afirma que técnica e cientificamente não há nada que deponha contra Abdelmassih. "Pelo contrário. A clínica dele, a maior do Brasil, só traz bons resultados", diz.
Segundo Amaral, a sociedade nunca recebeu queixas contra Abdelmassih. "Não ouvi falar nada a respeito, mas é preciso que seja feita uma investigação", afirma.
O ginecologista Malcolm Montgomery, do hospital Albert Einstein, se disse surpreso. Ele conhece Abdelmassih há 30 anos e costuma indicar-lhe pacientes. "Nunca tive uma reclamação. Roger é educado, carinhoso, um homem muito "família". É inteligente, e um homem inteligente dificilmente jogaria a carreira fora por uma bobagem dessas."
Ontem, após a publicação da reportagem, mais quatro mulheres afirmaram ter sofrido problemas semelhantes enquanto se tratavam com Abdelmassih. Uma delas, acompanhada do marido, prestou depoimento à polícia, duas procuraram o Ministério Público e uma deu entrevista ao jornal. Todas elas também falaram na condição de anonimato.
As mulheres afirmam terem sido surpreendidas por investidas do médico quando estavam sozinhas -sem o marido e sem enfermeira presente.
Não há prova material contra o médico, só relatos. O crime seria atentado violento ao pudor (ato libidinoso diferente de estupro), que pode acarretar até dez anos de prisão.
O médico ainda não foi ouvido. Chamado a depor em agosto, alegou problemas de saúde e não compareceu.


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