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EDUCAÇÃO
Para ex-titulares da pasta da Educação e representantes de professores, ingerência e ações assistenciais prejudicam trabalhos
Ex-secretários criticam pressão e marketing
ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma secretaria de governo com
muito dinheiro, prestígio e visibilidade -a vitrine da administração da maior cidade do país.
Em vez de ajudar, essa privilegiada condição tem atrapalhado a
vida da Secretaria Municipal da
Educação de São Paulo.
A pasta teve três secretários em
dois anos e está há um mês com
uma secretária interina -especula-se que a decisão sobre o novo
nome possa sair nesta semana.
Dois dos ex-secretários avaliam
que na raiz dos problemas estão
pressões por ações assistenciais
rápidas e grandiosas e "olho gordo" por causa das verbas -a secretaria concentra quase um terço
dos recursos da prefeitura, e muita gente quer se intrometer na sua
gestão, inclusive para fazer marketing e obter efeitos eleitorais.
Representantes de professores,
diretores e supervisores da rede
corroboram essa análise e ainda
reclamam de outros pontos:
1. As ações sociais, como distribuição de uniformes e material e
criação de transporte escolar gratuito, consideradas importantes,
mas não as principais, superaram
a preocupação com o ensino;
2. Por causa disso, não existe um
projeto pedagógico, e as escolas
estão sem orientação;
3. O cargo de secretário está esvaziado, porque há muita interferência externa. Essa seria a causa
da dificuldade de encontrar um titular para a pasta.
A Secretaria Municipal da Educação discorda da avaliação (leia
texto nesta página).
O primeiro secretário da gestão
Marta, o professor da PUC-SP
Fernando José de Almeida, diz
que é favorável às ações sociais
["são essenciais, maravilhosas"",
mas a pressão eleitoral exigiu uma
aplicação muito rápida.
"[A eleição" pressionou. Foram
antecipadas as possibilidades de a
escola assumir esse trabalho [social". Você produzir 2 milhões de
uniformes é muito complexo. Botar 100 mil crianças dentro de peruas é uma operação de guerra.
Então, essas ações sociais têm um
tempo de maturação na escola
que não é o tempo dos calendários eleitorais", afirma Almeida.
Para ele, era preciso discutir
mais. Essa diferença de tempos foi
o que precipitou sua saída.
O último secretário titular, Nelio Bizzo, vice-diretor da Faculdade de Educação da USP, que ficou
só seis dias no cargo também fala
sobre as interferências políticas.
"Este foi o conselho que a equipe que me assessorou em minha
curta permanência na secretaria
me deu: trabalhar mantendo uma
linha técnica, sem se sujeitar a injunções políticas."
Cobiça
Almeida nega que houvesse ingerência excessiva de fora, mas
ressalta o aspecto das verbas.
"Um terço do dinheiro que entra na prefeitura está na mão de
um cara, os olhos de todos crescem. Aí todo mundo tem idéia para educação por causa do dinheiro que a gente tem. Então, nesse
sentido, houve uma tensão muito
grande, mas não houve nenhuma
invasão", declara.
Para Bizzo, a questão da verba é
importante. "O orçamento da secretaria pode dar uma falsa impressão de que se dispõe de recursos muito vastos, mas é dinheiro
"carimbado", que já tem destino
certo em sua grande maioria. Isso
pode ter produzido um entusiasmo inicial excessivo. A secretaria
se comprometeu com metas numéricas ambiciosas, dentro de
prazos apertados."
Os volume de recursos serviria
para fazer uma boa propaganda
do governo Marta Suplicy, com
ações de marketing e, por isso, haveria interferência do gabinete da
prefeita. Assim pensam os críticos
da política educacional.
"Ninguém está disposto a ser
rainha da Inglaterra", diz Ismael
Nery Palhares Junior, presidente
do Sindicato dos Professores e
Funcionários do Ensino Municipal (Aprofem), ao afirmar que o
secretário não define as políticas.
Para ele, a divisão em subprefeituras vai piorar tudo. "Os recursos vão ser geridos pelos subprefeitos. O secretário fica com o
ônus, mas não com o bônus", diz.
"O secretário está ali só para
cumprir tabela", concorda Marisa
Lage Albuquerque, presidente do
Sindicato dos Especialistas de
Educação do Ensino Público do
Município de São Paulo (Sinesp).
Na vida cotidiana da educação,
alguns dos projetos propostos pela administração foram atingidos,
como implantação do renda mínima, mas outros não foram conseguidos, como criação dos "escolões", os Centros Educacionais
Unificados (veja quadro).
"A verdade é que, transcorridos
dois anos, não há marca da administração na educação. O que
existe é uma opção de governo de
marcar com programa assistencialista", avalia o vereador Claudio Fonseca (PC do B), presidente
do Sindicato dos Profissionais em
Educação no Ensino Municipal
de São Paulo (Sinpeem).
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