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1.500 professores "nota zero" vão dar aulas em SP
Após liminar, governo desiste de exame de seleção para docente temporário na rede pública
Rede utiliza 100 mil temporários, pois tem mais demanda do que cargos;
são 230 mil professores e
só 130 mil concursados
FÁBIO TAKAHASHI
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 1.500 professores
que tiraram zero em uma prova
de seleção do próprio governo
estadual de São Paulo poderão
lecionar neste ano na rede.
O exame foi promovido pela
Secretaria da Educação do governo José Serra (PSDB) com a
intenção de selecionar 100 mil
docentes temporários. 214 mil
pessoas se candidataram.
Os 1.500 professores "nota
zero" vão poder dar aulas porque uma decisão liminar (provisória) da 13ª Vara da Fazenda
Pública suspendeu os resultados do exame, de 25 testes, realizado em dezembro passado.
A liminar atendeu ao pedido
da Apeoesp (sindicato dos professores), que alegou que os docentes temporários que já trabalham na rede há muitos anos
não podem ser descartados
com base numa "provinha".
Considera que o correto seria
realizar um concurso público.
Com receio de atrasar ainda
mais o início das aulas (que deveria começar amanhã, mas foi
adiado para segunda por conta
do impasse judicial), a secretaria desistiu de tentar reverter a
liminar e optou por manter o
critério para selecionar os temporários -titulação e, principalmente, tempo de serviço.
Déficit de cargos
A rede pública utiliza 100 mil
docentes temporários, porque
tem mais demanda por professores do que cargos públicos
criados por lei. No total, são necessários 230 mil professores,
mas há só 130 mil concursados.
O Estado afirma que estuda
criar 75 mil cargos, mas não há
prazo. O cargo público traz gastos adicionais ao governo, como pagamento de férias.
Segundo a secretaria, se a
prova não tivesse sido cancelada pela Justiça, cerca de 50 mil
dos atuais professores temporários seriam substituídos por
docentes de fora da rede, que tiveram nota melhor no exame.
Como o tempo de serviço
voltou a ser o critério mais importante para a escolha, os
1.500 professores que não acertaram nenhum dos 25 testes da
prova, mas que já eram da rede,
passarão à frente dos candidatos que tiveram bom desempenho no exame. Outros 2.000
candidatos que não eram do
sistema também zeraram.
"A Apeoesp é contra a avaliação. Ela faz o possível para atrapalhar o ensino. Quisemos fazer exames nos professores
temporários para melhorar a
qualidade", disse Serra.
"A Apeoesp defende professores que, por incapacidade,
não conseguem passar em concursos. Há bons profissionais
temporários, mas outros não
sabem o conteúdo. Por isso a
prova é importante", afirmou à
Folha a secretária estadual da
Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. Ela diz ainda
que o número de professores
que zeraram "é assustador, sem
contar aqueles que acertaram
um ou dois testes, em 25".
A pasta diz que ainda tabula
todos os resultados do exame.
Informações preliminares indicam que 50% dos candidatos
não acertarem nem metade.
"Não somos contra a avaliação. Mas isso precisa ser feito
por concurso público, não por
uma provinha malfeita", disse a
presidente da Apeoesp, Maria
Izabel Azevedo Noronha.
O cancelamento do exame
causou protestos tanto de professores de fora da rede quanto
dos que possuem pouco tempo
de serviço, mas que poderiam
melhorar suas posições com a
prova. Os candidatos mais bem
colocados têm o direito de escolher as aulas que querem ministrar (horários, locais etc).
Com três anos na rede, pegando só aulas que outros desistem, Gabriel Minutti de Godoy, diz ter acertado 22 dos 25
testes. Na lista que considerava
o exame, estava na posição 29
na região de Jaú (interior de
SP), para aula de história.
Com a mudança, caiu para
107º e não deve pegar nenhuma
aula (o limite deve ficar por volta da posição número 50). "É
revoltante. Estudei para a prova e já aplicava o currículo nas
aulas, por isso fui bem. Não poderia ficar fora", diz Godoy, 22.
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