São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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Sem patrocínio, escolas de samba de SP usam sobras e improvisam para driblar crise

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um enredo luxuoso sobre a riqueza de Ouro Preto no século 19, a Unidos do Tucuruvi foi pega de surpresa pela crise econômica. O carro que traria esculturas de Aleijadinho perdeu a maioria delas -no lugar de 30 anjos de fibra de vidro, entraram cem estampas de mestre Athayde que sobraram das baianas. "É um Carnaval com muito detalhe, então tive que driblar a crise", diz o carnavalesco Fábio Borges.
É que os efeitos da crise chegaram aos barracões paulistanos, espantando patrocinadores e fornecedores e fazendo com que as escolas tirassem "da cabeça o que não têm no bolso".
"O Carnaval de São Paulo vive em crise, mas essa prejudicou todo mundo", diz Raul Diniz, carnavalesco da Unidos do Peruche, cujo enredo, sobre pedras preciosas, teve de ser adaptado. "Tivemos que trocar materiais, reduzir esculturas e até eliminar as próprias pedras. E nossas perspectivas de pegar patrocínio miaram, chegou só merrequinha", diz Diniz, que teve de desenhar os carros alegóricos duas vezes: "Uma foi a ideal; a outra, a que deu pra fazer". A escola estima gastar neste ano perto de R$ 800 mil.
Nenhuma delas fala de nomes ou valores. Mas garantem: neste ano, a verba não chegou. "O patrocínio não veio, nem das empresas nem do consulado, então falta dinheiro para terminar", diz o carnavalesco Marco Ruffin, da Tom Maior. A escola conta a história de Angola após a guerra civil; um dos carros fala da macumba -nem assim deu certo. A projeção também é de gastar R$ 800 mil; até agora, zero patrocínio.
Na X-9, o Carnaval sobre saúde está perto de ficar pronto, mas à base de improviso e lisolene -aquele plástico de cortina de banheiro, que aqui cobre um carro. "Minha mãe usava isso para fazer roupinha de liquidificador", ironiza o carnavalesco Paulo Führo. "Agora eu que uso para economizar no adereço."
Enquanto as escolas do Rio recebem cerca de R$ 3,5 milhões em subsídios da prefeitura e do Estado, as paulistanas se contentam com cerca de R$ 500 mil da prefeitura e R$ 200 mil do direito de transmissão pago pela TV Globo, mais parte da venda dos ingressos -o que nunca alcança R$ 1 milhão.
O resto vem da venda de fantasias e dos ensaios nas quadras, que acontecem de duas a três vezes por semana e levam até 10 mil pessoas. Mas haja ensaio para compensar o aumento de até 70% nos tecidos, importados ou nacionais.
"E a gente vai sentir ainda mais no ano que vem", afiança Sidnei Carrioulo, presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo. Plumas, aljofre, espelhos, tudo básico para montar um Carnaval, estão em falta. Ele estipula em R$ 800 mil a R$ 1,5 milhão o orçamento de uma escola paulistana -quase um quarto do que gasta uma do Rio.


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