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foco
Sem patrocínio, escolas de samba de SP usam sobras e improvisam para driblar crise
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um enredo luxuoso sobre a riqueza de Ouro Preto
no século 19, a Unidos do Tucuruvi foi pega de surpresa
pela crise econômica. O carro
que traria esculturas de Aleijadinho perdeu a maioria delas -no lugar de 30 anjos de
fibra de vidro, entraram cem
estampas de mestre Athayde
que sobraram das baianas. "É
um Carnaval com muito detalhe, então tive que driblar a
crise", diz o carnavalesco Fábio Borges.
É que os efeitos da crise
chegaram aos barracões paulistanos, espantando patrocinadores e fornecedores e fazendo com que as escolas tirassem "da cabeça o que não
têm no bolso".
"O Carnaval de São Paulo
vive em crise, mas essa prejudicou todo mundo", diz Raul
Diniz, carnavalesco da Unidos
do Peruche, cujo enredo, sobre pedras preciosas, teve de
ser adaptado. "Tivemos que
trocar materiais, reduzir esculturas e até eliminar as próprias pedras. E nossas perspectivas de pegar patrocínio
miaram, chegou só merrequinha", diz Diniz, que teve de
desenhar os carros alegóricos
duas vezes: "Uma foi a ideal; a
outra, a que deu pra fazer". A
escola estima gastar neste ano
perto de R$ 800 mil.
Nenhuma delas fala de nomes ou valores. Mas garantem: neste ano, a verba não
chegou. "O patrocínio não
veio, nem das empresas nem
do consulado, então falta dinheiro para terminar", diz o
carnavalesco Marco Ruffin,
da Tom Maior. A escola conta
a história de Angola após a
guerra civil; um dos carros fala da macumba -nem assim
deu certo. A projeção também
é de gastar R$ 800 mil; até
agora, zero patrocínio.
Na X-9, o Carnaval sobre
saúde está perto de ficar pronto, mas à base de improviso e
lisolene -aquele plástico de
cortina de banheiro, que aqui
cobre um carro. "Minha mãe
usava isso para fazer roupinha
de liquidificador", ironiza o
carnavalesco Paulo Führo.
"Agora eu que uso para economizar no adereço."
Enquanto as escolas do Rio
recebem cerca de R$ 3,5 milhões em subsídios da prefeitura e do Estado, as paulistanas se contentam com cerca
de R$ 500 mil da prefeitura e
R$ 200 mil do direito de
transmissão pago pela TV
Globo, mais parte da venda
dos ingressos -o que nunca
alcança R$ 1 milhão.
O resto vem da venda de
fantasias e dos ensaios nas
quadras, que acontecem de
duas a três vezes por semana e
levam até 10 mil pessoas. Mas
haja ensaio para compensar o
aumento de até 70% nos tecidos, importados ou nacionais.
"E a gente vai sentir ainda
mais no ano que vem", afiança
Sidnei Carrioulo, presidente
da Liga das Escolas de Samba
de São Paulo. Plumas, aljofre,
espelhos, tudo básico para
montar um Carnaval, estão
em falta. Ele estipula em R$
800 mil a R$ 1,5 milhão o orçamento de uma escola paulistana -quase um quarto do
que gasta uma do Rio.
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