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Trânsito não é mercado, diz ex-chefe do Denatran
Liberação dos preços é criticada por especialistas da área de transportes
Para professor da UnB, é preciso haver controle de preço e fiscalização; ambos dizem que aumento de valor pode incentivar ilegalidade
DA REPORTAGEM LOCAL
A liberação de preços em cursos para renovar a carteira de
habilitação é reprovada por
dois renomados especialistas
em trânsito ouvidos pela Folha. De acordo com eles, a formação dos motoristas precisa
de interferência do poder público, sem ficar somente sujeita
às regras da iniciativa privada.
"O trânsito não pode ser visto
como uma questão de mercado", afirma Ailton Brasiliense,
ex-presidente do Denatran responsável pela exigência das aulas ou do exame desde 2005.
Atualmente, além de presidente da ANTP (Associação
Nacional de Transportes Públicos), Brasiliense é técnico de
transportes do Estado.
"É preciso um controle de
preços de um lado e fiscalização
do outro. A CNH no Brasil já é
cara e burocratizada. Esse tema
não pode ser visto como atividade mercantil. É necessário
um equilíbrio", afirma David
Duarte Lima, professor da UnB
(Universidade de Brasília).
Uma das preocupações dos
dois especialistas é que uma
eventual disparada de preços
para renovar a carteira de habilitação seja um incentivo para
que motoristas optem por ficar
na ilegalidade -sem realizar
cursos ou provas e dirigindo
com o documento vencido.
Inabilitados
Só em estradas federais, mais
de 200 condutores são flagrados por dia sem nem mesmo
possuir a carteira. Os custos para tirar a CNH são uma das explicações para tamanha incidência de inabilitados -assim
como a falta de fiscalização.
Brasiliense e Duarte Lima
defendem a importância dos
cursos de direção defensiva e
de primeiros socorros sob a justificativa de que a formação do
motorista é muito deficiente,
até para noções básicas.
"O conhecimento dos condutores é baixíssimo. O nível dos
cursos também é muito ruim.
Qualquer educação primária é
útil para quem sabe muito pouco", defende Duarte Lima.
"Nem taxistas sabem que é
obrigatório e importante utilizar cinto de segurança no banco traseiro", diz Brasiliense.
Os dois reconhecem, porém,
que há muitas falhas nesses
cursos obrigatórios. Elas vão
das fraudes em autoescolas que
só cobram uma taxa sem exigir
que motoristas façam aulas ou
prova até a própria qualidade
das aulas e das perguntas.
"Há razão em muitas críticas.
Tem de melhorar também a formação de quem examina. Não
era para ser só um testezinho
para botar X", diz Brasiliense.
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