São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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Trânsito não é mercado, diz ex-chefe do Denatran

Liberação dos preços é criticada por especialistas da área de transportes

Para professor da UnB, é preciso haver controle de preço e fiscalização; ambos dizem que aumento de valor pode incentivar ilegalidade

DA REPORTAGEM LOCAL

A liberação de preços em cursos para renovar a carteira de habilitação é reprovada por dois renomados especialistas em trânsito ouvidos pela Folha. De acordo com eles, a formação dos motoristas precisa de interferência do poder público, sem ficar somente sujeita às regras da iniciativa privada.
"O trânsito não pode ser visto como uma questão de mercado", afirma Ailton Brasiliense, ex-presidente do Denatran responsável pela exigência das aulas ou do exame desde 2005.
Atualmente, além de presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Brasiliense é técnico de transportes do Estado.
"É preciso um controle de preços de um lado e fiscalização do outro. A CNH no Brasil já é cara e burocratizada. Esse tema não pode ser visto como atividade mercantil. É necessário um equilíbrio", afirma David Duarte Lima, professor da UnB (Universidade de Brasília).
Uma das preocupações dos dois especialistas é que uma eventual disparada de preços para renovar a carteira de habilitação seja um incentivo para que motoristas optem por ficar na ilegalidade -sem realizar cursos ou provas e dirigindo com o documento vencido.

Inabilitados
Só em estradas federais, mais de 200 condutores são flagrados por dia sem nem mesmo possuir a carteira. Os custos para tirar a CNH são uma das explicações para tamanha incidência de inabilitados -assim como a falta de fiscalização.
Brasiliense e Duarte Lima defendem a importância dos cursos de direção defensiva e de primeiros socorros sob a justificativa de que a formação do motorista é muito deficiente, até para noções básicas.
"O conhecimento dos condutores é baixíssimo. O nível dos cursos também é muito ruim. Qualquer educação primária é útil para quem sabe muito pouco", defende Duarte Lima. "Nem taxistas sabem que é obrigatório e importante utilizar cinto de segurança no banco traseiro", diz Brasiliense.
Os dois reconhecem, porém, que há muitas falhas nesses cursos obrigatórios. Elas vão das fraudes em autoescolas que só cobram uma taxa sem exigir que motoristas façam aulas ou prova até a própria qualidade das aulas e das perguntas.
"Há razão em muitas críticas. Tem de melhorar também a formação de quem examina. Não era para ser só um testezinho para botar X", diz Brasiliense.


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