São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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Sem água, morador recorre a poço em cemitério

População da favela de Paraisópolis usa também água de mina em bueiro

Sabesp diz que terminou reparo em adutora rompida no sábado e que a normalização no abastecimento já começou

Rubens Cavallari/Folha Imagem
Moradores da favela de Paraisópolis enchem vasilhames com água disponibilizada pelo cemitério Gethsêmani, no Morumbi

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDA BARBOSA
DO "AGORA"

Se os paulistanos não aguentam mais o aguaceiro diário em São Paulo, ao menos uma pessoa rezava ontem para chover muito. A aposentada Eva Alves, 67, colocou vários baldes vazios na laje de casa à espera de que a chuva os enchesse e aplacasse a falta d'água na favela Paraisópolis (zona oeste). "Mas não choveu nenhuma gota."
Anteontem foi o primeiro dia sem chuva na cidade em 47 dias. Ontem choveu em parte da cidade; em Paraisópolis, não. A favela fica numa região que desde sábado está sem água em consequência do rompimento de uma adutora da Sabesp. O problema deixou 750 mil pessoas sem abastecimento em ao menos oito bairros das zonas oeste e sul.
A necessidade fez os moradores recorrerem a tubulações instaladas em bueiros para tomar banho ou a poços artesianos no cemitério Gethsêmani, no Morumbi.
Com apenas parte da cabeça do lado de fora de um bueiro, o pedreiro Leo Nertz, 30, acreditava que a água vinha de uma mina local. Na associação de moradores, informa-se que de fato há minas de água ali, mas a maioria está contaminada pelas fossas das casas.
"Ninguém garante a salubridade dessa água. Mas é o único jeito que eles encontraram. O galão de água aqui na comunidade, que estava custando R$ 4, foi para R$ 20", diz a conselheira da União dos Moradores e Comércio de Paraisópolis, Juliana Oliveira, 24.
No cemitério, a administração pendurou uma mangueira em frente à qual 30 pessoas esperavam na fila para encher baldes e garrafas às 13h de ontem. O Gethsêmani informou ter atendido a pedido da associação local -mas não soube dizer se a água era potável.
"Se não fosse por essa água, não teríamos nada para beber", disse a dona de casa Maria Helena dos Santos, 66.
"Estava preocupado em ter velório e não ter água, porque funcionamos 24 h. É como hospital", disse Francisco Mattos, 45, administrador do local.
A vizinhança dos luxuosos condomínios da redondeza não sofreu com a falta d'água porque os prédios são abastecidos com caixas próprias. No edifício Hermann Gehling, por exemplo, o porteiro informa que há quatro caixas de água. "Tem que ajudar a gente lá em Paraisópolis que está uma miséria", diz Manuel Inácio de Lima, 40, porteiro, morador da favela.
O abastecimento de água chegou a voltar ontem, mas só por três horas -às 17h, foi interrompido de novo.
A Sabesp disse que concluiu os reparos na adutora à tarde e que o abastecimento começou a ser normalizado a partir de então. "O restabelecimento total acontecerá, de forma gradual, ao longo da noite." A empresa afirmou ter usado um milhão de litros de água de caminhões-pipa ("suficientes para abastecer 10 mil habitantes") para suprir o desabastecimento.


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