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Sem água, morador recorre a poço em cemitério
População da favela de Paraisópolis usa também água de mina em bueiro
Sabesp diz que terminou reparo em adutora rompida no sábado e que a normalização no abastecimento já começou
Rubens Cavallari/Folha Imagem
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Moradores da favela de Paraisópolis enchem vasilhames com água disponibilizada pelo cemitério Gethsêmani, no Morumbi
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDA BARBOSA
DO "AGORA"
Se os paulistanos não aguentam mais o aguaceiro diário em
São Paulo, ao menos uma pessoa rezava ontem para chover
muito. A aposentada Eva Alves,
67, colocou vários baldes vazios
na laje de casa à espera de que a
chuva os enchesse e aplacasse a
falta d'água na favela Paraisópolis (zona oeste). "Mas não
choveu nenhuma gota."
Anteontem foi o primeiro dia
sem chuva na cidade em 47 dias.
Ontem choveu em parte da cidade; em Paraisópolis, não. A favela fica numa região que desde
sábado está sem água em consequência do rompimento de uma
adutora da Sabesp. O problema
deixou 750 mil pessoas sem
abastecimento em ao menos oito bairros das zonas oeste e sul.
A necessidade fez os moradores recorrerem a tubulações
instaladas em bueiros para tomar banho ou a poços artesianos no cemitério Gethsêmani,
no Morumbi.
Com apenas parte da cabeça
do lado de fora de um bueiro, o
pedreiro Leo Nertz, 30, acreditava que a água vinha de uma
mina local. Na associação de
moradores, informa-se que de
fato há minas de água ali, mas a
maioria está contaminada pelas fossas das casas.
"Ninguém garante a salubridade dessa água. Mas é o único
jeito que eles encontraram. O
galão de água aqui na comunidade, que estava custando R$ 4,
foi para R$ 20", diz a conselheira da União dos Moradores e
Comércio de Paraisópolis, Juliana Oliveira, 24.
No cemitério, a administração pendurou uma mangueira
em frente à qual 30 pessoas esperavam na fila para encher
baldes e garrafas às 13h de ontem. O Gethsêmani informou
ter atendido a pedido da associação local -mas não soube
dizer se a água era potável.
"Se não fosse por essa água,
não teríamos nada para beber",
disse a dona de casa Maria Helena dos Santos, 66.
"Estava preocupado em ter
velório e não ter água, porque
funcionamos 24 h. É como hospital", disse Francisco Mattos,
45, administrador do local.
A vizinhança dos luxuosos
condomínios da redondeza não
sofreu com a falta d'água porque os prédios são abastecidos
com caixas próprias. No edifício
Hermann Gehling, por exemplo, o porteiro informa que há
quatro caixas de água. "Tem que
ajudar a gente lá em Paraisópolis que está uma miséria", diz
Manuel Inácio de Lima, 40,
porteiro, morador da favela.
O abastecimento de água
chegou a voltar ontem, mas só
por três horas -às 17h, foi interrompido de novo.
A Sabesp disse que concluiu
os reparos na adutora à tarde e
que o abastecimento começou a
ser normalizado a partir de então. "O restabelecimento total
acontecerá, de forma gradual,
ao longo da noite." A empresa
afirmou ter usado um milhão
de litros de água de caminhões-pipa ("suficientes para abastecer 10 mil habitantes") para suprir o desabastecimento.
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