São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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ENSINO SUPERIOR

Expansão das particulares está próxima do limite, e 21% da oferta não é aproveitada, segundo o Ipea

Sobram vagas em universidades privadas

ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é a toa que se vê tanta publicidade de universidades particulares anunciando mais e mais vagas em seus vestibulares. Estudo do sociólogo Paulo Corbucci, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mostra que 21% das 686 mil vagas oferecidas pelas instituições particulares em 1999 não foram preenchidas.
Para o pesquisador, a expansão do ensino superior privado no Brasil está próxima do limite.
Com base em dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC), Corbucci analisou a expansão da demanda nas universidades públicas e particulares.
Nesses dois setores houve expansão da oferta de vagas. No entanto, nas escolas públicas o crescimento se deu em ritmo menos acelerado do que a procura por um lugar na sala de aula.
O inverso ocorreu na rede privada, ou seja, a procura foi menor do que a oferta na década de 90.

Vestibular
Em 1990, havia mais inscrições em vestibulares de particulares do que no de públicas. Em 1999, o oposto foi verificado.
"Os limites da demanda por ensino superior privado estão mais próximos do que se poderia supor. Uma política de expansão desse setor não pode prescindir de uma ampliação de programas de financiamento estudantil. O simples aumento da oferta de vagas nesse setor não ajuda a diminuir o problema de acesso ao ensino superior", afirma o pesquisador do Ipea.
Segundo ele, o não-preenchimento das vagas nas escolas pagas não acontece por falta de demanda, mas porque nem todos os estudantes que completaram o ensino médio têm condições de pagar mensalidades.
O estudo mostra que, de 1990 a 1999, a relação candidato/vaga nas universidades públicas subiu de 5,69 para 8,26, um crescimento de 45%. No mesmo período, essa taxa caiu de 2,94 para 2,26 nas particulares, uma queda de 23%.
Nas instituições do governo, 96% das vagas oferecidas foram preenchidas pelos estudantes.
Uma das saídas apontadas por Corbucci para aumentar o número de universitários no país é incentivar a expansão da rede pública. Sobre esse tema, ele afirma que não é correto dizer que houve contenção do crescimento do setor público nos últimos anos.
"Houve uma expansão significativa, só que ela se deu de forma vertical, ou seja, quase não foram criadas novas universidades. O que aconteceu foi que as instituições já existentes, mesmo sem contratar novos professores, estão conseguindo oferecer mais vagas", diz o pesquisador.
Fenômeno inverso se deu na rede particular, onde o crescimento no número de faculdades foi mais significativo.

Comparação
O estudo questiona também a tese de que o estudante de instituições públicas é mais rico do que o das particulares.
Com base na Pesquisa sobre Padrões de Vida do IBGE, Corbucci mostra que 78% dos matriculados em escolas pagas pertencem aos 20% mais ricos da população. Nas públicas, essa porcentagem é um pouco menor: 72%.
Outro ponto abordado é a predominância do setor comando pelos governos na formação de doutores e mestres. O setor particular responde por apenas 15% das matrículas em cursos de mestrado e 9% nos de doutorado.
"As universidades públicas desempenham um papel importante nessa área. A qualidade do ensino nas particulares está atrelada à formação na pós-graduação", diz o pesquisador do Ipea.
Ele explica que as instituições privadas necessitam de doutores e mestres para melhorar o ensino e sua avaliação nos exames do MEC. "Quem mais forma esses profissionais são as universidades públicas", constata Corbucci.


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