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Jovens contam seus dramas em seminário
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Reunidas em uma oficina de comunicação, cem meninos e meninas de todas as regiões brasileiras
contam as suas histórias por meio
de vídeo, rádio, fotos e em desenhos no seminário em Belo Horizonte. As histórias são diferentes,
mas os dramas, comuns.
Desde muito cedo eles começaram a trabalhar. O motivo é sempre a baixa renda familiar. Hoje,
todos estudam e participam de
movimentos que cuidam de
crianças e adolescentes.
Em Abaetetuba (PA), Dalcenira
Melo Pantoja, 14, teve a sua vida
marcada para sempre ainda muito cedo. Desde os 7 anos trabalhava na olaria do pai. Aos 9, um acidente arrancou dela o couro cabeludo e a orelha esquerda.
Agora, Dalcenira usa uma peruca e luta para fazer uma cirurgia,
pela qual possa recompor o couro
cabeludo e a orelha. Ela está sendo
acompanhada pelo conselho tutelar da sua cidade e recebe R$ 25
por mês do bolsa-escola.
"Hoje, eu me arrependo de ter
trabalhado muito criança. Era para estar mais adiantada no estudo.
Mas eu tinha pena dos meus pais.
Somos pobres e temos necessidades", disse ela, que cursa a 5ª série
do ensino fundamental.
Já o estudante Francisco Alexandre Pereira da Silva, 12, deixou
Fortaleza há dois meses. Ele vendia limão e faturava por dia de R$
2 a R$ 5. Com mais três irmãos, o
pai desempregado e a mãe trabalhando como cozinheira, entrou
em um centro de assistência.
"O centro é bem melhor porque
lá não existe discriminação.
Quando vendia limão, era muito
discriminado. Todo mundo pensava que ia assaltar."
Lidiane Pereira dos Santos, 16,
mora em Paranoá, em Brasília.
Desde os 12 ela trabalha em casas
de famílias. Começou como babá,
recebendo R$ 12 por semana. Embora esteja fazendo um curso supletivo e frequentando um centro
de assistência, ela prossegue trabalhando como faxineira.
"O pessoal do centro fala para
eu não ir, mas eu preciso comprar
material escolar e outras coisas.
Minha mãe (que é lavadeira) não
pode comprar."
Em Contagem (MG), Jéssico
Emílio Semeão, 15, deixou de trabalhar há cinco meses. Está integrado ao programa Agente Jovem, do governo federal. Recebe
por mês R$ 65. São onze pessoas
em casa: pai, mãe e nove filhos.
Ele trabalhava desde os 9 anos,
vendendo picolé e como servente
de pedreiro. "Eu vi que precisava
ajudar a minha família. Por isso
fui para a rua vender picolé", disse
ele, que cursa a 7ª série.
Tiago Portes da Silva, 16, de São
Leopoldo (RS), trabalhou durante
dois anos como servente de pedreiro, ganhando R$ 85 por semana. Agora, ele recebe R$ 100
participando de um curso de papel reciclável. E voltou a estudar.
Tiago não se arrepende da troca. Com sete irmãos e o pai aposentado, ele não gosta de falar do
tempo de servente. "Era difícil.
Para mim é passado".
(PAULO PEIXOTO)
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