São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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Jovens contam seus dramas em seminário

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Reunidas em uma oficina de comunicação, cem meninos e meninas de todas as regiões brasileiras contam as suas histórias por meio de vídeo, rádio, fotos e em desenhos no seminário em Belo Horizonte. As histórias são diferentes, mas os dramas, comuns.
Desde muito cedo eles começaram a trabalhar. O motivo é sempre a baixa renda familiar. Hoje, todos estudam e participam de movimentos que cuidam de crianças e adolescentes.
Em Abaetetuba (PA), Dalcenira Melo Pantoja, 14, teve a sua vida marcada para sempre ainda muito cedo. Desde os 7 anos trabalhava na olaria do pai. Aos 9, um acidente arrancou dela o couro cabeludo e a orelha esquerda.
Agora, Dalcenira usa uma peruca e luta para fazer uma cirurgia, pela qual possa recompor o couro cabeludo e a orelha. Ela está sendo acompanhada pelo conselho tutelar da sua cidade e recebe R$ 25 por mês do bolsa-escola.
"Hoje, eu me arrependo de ter trabalhado muito criança. Era para estar mais adiantada no estudo. Mas eu tinha pena dos meus pais. Somos pobres e temos necessidades", disse ela, que cursa a 5ª série do ensino fundamental.
Já o estudante Francisco Alexandre Pereira da Silva, 12, deixou Fortaleza há dois meses. Ele vendia limão e faturava por dia de R$ 2 a R$ 5. Com mais três irmãos, o pai desempregado e a mãe trabalhando como cozinheira, entrou em um centro de assistência.
"O centro é bem melhor porque lá não existe discriminação. Quando vendia limão, era muito discriminado. Todo mundo pensava que ia assaltar."
Lidiane Pereira dos Santos, 16, mora em Paranoá, em Brasília. Desde os 12 ela trabalha em casas de famílias. Começou como babá, recebendo R$ 12 por semana. Embora esteja fazendo um curso supletivo e frequentando um centro de assistência, ela prossegue trabalhando como faxineira.
"O pessoal do centro fala para eu não ir, mas eu preciso comprar material escolar e outras coisas. Minha mãe (que é lavadeira) não pode comprar."
Em Contagem (MG), Jéssico Emílio Semeão, 15, deixou de trabalhar há cinco meses. Está integrado ao programa Agente Jovem, do governo federal. Recebe por mês R$ 65. São onze pessoas em casa: pai, mãe e nove filhos.
Ele trabalhava desde os 9 anos, vendendo picolé e como servente de pedreiro. "Eu vi que precisava ajudar a minha família. Por isso fui para a rua vender picolé", disse ele, que cursa a 7ª série.
Tiago Portes da Silva, 16, de São Leopoldo (RS), trabalhou durante dois anos como servente de pedreiro, ganhando R$ 85 por semana. Agora, ele recebe R$ 100 participando de um curso de papel reciclável. E voltou a estudar.
Tiago não se arrepende da troca. Com sete irmãos e o pai aposentado, ele não gosta de falar do tempo de servente. "Era difícil. Para mim é passado".
(PAULO PEIXOTO)


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