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RIO
67% dos seus moradores afirmam nunca ter sofrido nenhum tipo de violência, contra 55% dos habitantes de outras áreas
Favela se diz menos atingida por violência
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Pesquisa realizada pelo instituto
Databrasil, ligado à universidade
Candido Mendes, revela que moradores de favelas do Rio afirmam
sofrer menos violências do que os
habitantes de outras áreas da cidade. Segundo o levantamento,
67,1% dos que moram em favelas
afirmaram nunca ter sofrido nenhum tipo de violência, contra
55% do outro grupo.
No estudo, intitulado "Os perigos da cidade: violência e segurança no Rio de Janeiro", o sociólogo David Morais pretendia medir a percepção que os cariocas
têm da violência. Foram ouvidas
960 pessoas, entre 25 de junho e 1º
de julho de 1999.
Na pesquisa, 23,2% dos habitantes de áreas não-favelizadas revelaram já ter sofrido violência
pelo menos uma vez, enquanto
18,9% dos moradores das favelas
disseram já ter passado por essa
situação. Na opinião do sociólogo, isso está relacionado com a capacidade que as pessoas que moram em ambientes "tensos" como
as favelas têm de ver a violência de
forma mais "branda".
"Ela (a violência) está ali todos
os dias e acaba fazendo parte da
vida daquelas pessoas. Muitas vezes, é vista de forma mais branda
do que aos olhos de pessoas de
outra realidade." Para Morais,
muitos moradores de favelas não
têm coragem de falar sobre o assunto e acabam negando já ter
passado por determinada situação, com medo de represálias.
Insegurança
Apesar disso, a insegurança e o
medo atingem mais o grupo que
menos diz sofrer com a violência.
Segundo os dados, 43,7% dos habitantes de favelas gostariam de se
mudar para outra cidade. O número cai para 38,9% entre os moradores de outras áreas da capital.
Os dois grupos têm basicamente a mesma opinião sobre a violência no Rio: 86,7% e 85%, respectivamente, a consideram
grande ou muito grande.
David Morais explica que a diferença entre o número dos que
consideram o município violento
e dos que gostariam de se mudar
de cidade está ligado ao receio em
relação ao novo. "As pessoas querem fugir da violência, mas não
mudar toda sua vida. É muito
mais fácil achar que um lugar estranho, diferente, é mais perigoso
do que o conhecido. O "lá fora" é
muito temido."
Apesar de considerarem a cidade violenta, os cariocas são mais
benovolentes em relação ao próprio local de moradia: 36,4% dos
que vivem em favelas consideram
seus bairros violentos, contra
32,2% da outra amostra.
"O bairro é visto como a casa da
gente. Lá as pessoas conhecem as
outras, o lugar e os códigos do local. Quando saem de lá, perdem
seu referencial, estão de frente para o desconhecido", explica.
A principal causa apontada para a violência na cidade, pelos entrevistados, é o desemprego
(46,6%), seguido pelo tráfico de
drogas (11,1%) e a desigualdade
social (9,1%). Para 57,8% dos moradores de favela, os meios de comunicação contribuem para a
onda de violência na cidade e
65,1% dos que moram em outros
locais pensam do mesmo modo.
O estudo conclui que os que
mais temem a violência do Rio de
Janeiro são os homens, moradores de áreas não-favelizadas, com
alto nível de instrução e com idades entre 30 e 39 anos.
Segundo o pesquisador, esse temor provoca, de um modo geral,
uma sensação de insegurança,
com as pessoas evitando certos
lugares, sair à noite e não confiando nos órgãos de segurança pública -70% dos cariocas que sofreram algum tipo de violência não
prestaram queixa à polícia. A razão alegada por 53,7% deles é que
isso não resolveria nada.
Outro índice que mostra a descrença no Estado é a falta de confiança na polícia: 45,3% dos entrevistados a consideram péssima ou
ruim e apenas 13,9% a vêem como
boa ou ótima.
Metodologia
Foram entrevistados 379 moradores de favelas e 581 de outras
áreas da cidade, nos bairros das
zonas norte, sul, oeste e central da
capital. O levantamento foi realizado com pessoas com mais de 16
anos, com diversos graus de instrução. Segundo Moraes, as margens de erro da pesquisa são de
3% para o total, sendo 5% para os
dados relativos aos moradores de
favelas e 4% em relação aos habitantes de outras áreas da capital.
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