São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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RIO

67% dos seus moradores afirmam nunca ter sofrido nenhum tipo de violência, contra 55% dos habitantes de outras áreas

Favela se diz menos atingida por violência

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisa realizada pelo instituto Databrasil, ligado à universidade Candido Mendes, revela que moradores de favelas do Rio afirmam sofrer menos violências do que os habitantes de outras áreas da cidade. Segundo o levantamento, 67,1% dos que moram em favelas afirmaram nunca ter sofrido nenhum tipo de violência, contra 55% do outro grupo.
No estudo, intitulado "Os perigos da cidade: violência e segurança no Rio de Janeiro", o sociólogo David Morais pretendia medir a percepção que os cariocas têm da violência. Foram ouvidas 960 pessoas, entre 25 de junho e 1º de julho de 1999.
Na pesquisa, 23,2% dos habitantes de áreas não-favelizadas revelaram já ter sofrido violência pelo menos uma vez, enquanto 18,9% dos moradores das favelas disseram já ter passado por essa situação. Na opinião do sociólogo, isso está relacionado com a capacidade que as pessoas que moram em ambientes "tensos" como as favelas têm de ver a violência de forma mais "branda".
"Ela (a violência) está ali todos os dias e acaba fazendo parte da vida daquelas pessoas. Muitas vezes, é vista de forma mais branda do que aos olhos de pessoas de outra realidade." Para Morais, muitos moradores de favelas não têm coragem de falar sobre o assunto e acabam negando já ter passado por determinada situação, com medo de represálias.

Insegurança
Apesar disso, a insegurança e o medo atingem mais o grupo que menos diz sofrer com a violência. Segundo os dados, 43,7% dos habitantes de favelas gostariam de se mudar para outra cidade. O número cai para 38,9% entre os moradores de outras áreas da capital.
Os dois grupos têm basicamente a mesma opinião sobre a violência no Rio: 86,7% e 85%, respectivamente, a consideram grande ou muito grande.
David Morais explica que a diferença entre o número dos que consideram o município violento e dos que gostariam de se mudar de cidade está ligado ao receio em relação ao novo. "As pessoas querem fugir da violência, mas não mudar toda sua vida. É muito mais fácil achar que um lugar estranho, diferente, é mais perigoso do que o conhecido. O "lá fora" é muito temido."
Apesar de considerarem a cidade violenta, os cariocas são mais benovolentes em relação ao próprio local de moradia: 36,4% dos que vivem em favelas consideram seus bairros violentos, contra 32,2% da outra amostra.
"O bairro é visto como a casa da gente. Lá as pessoas conhecem as outras, o lugar e os códigos do local. Quando saem de lá, perdem seu referencial, estão de frente para o desconhecido", explica.
A principal causa apontada para a violência na cidade, pelos entrevistados, é o desemprego (46,6%), seguido pelo tráfico de drogas (11,1%) e a desigualdade social (9,1%). Para 57,8% dos moradores de favela, os meios de comunicação contribuem para a onda de violência na cidade e 65,1% dos que moram em outros locais pensam do mesmo modo.
O estudo conclui que os que mais temem a violência do Rio de Janeiro são os homens, moradores de áreas não-favelizadas, com alto nível de instrução e com idades entre 30 e 39 anos.
Segundo o pesquisador, esse temor provoca, de um modo geral, uma sensação de insegurança, com as pessoas evitando certos lugares, sair à noite e não confiando nos órgãos de segurança pública -70% dos cariocas que sofreram algum tipo de violência não prestaram queixa à polícia. A razão alegada por 53,7% deles é que isso não resolveria nada.
Outro índice que mostra a descrença no Estado é a falta de confiança na polícia: 45,3% dos entrevistados a consideram péssima ou ruim e apenas 13,9% a vêem como boa ou ótima.

Metodologia
Foram entrevistados 379 moradores de favelas e 581 de outras áreas da cidade, nos bairros das zonas norte, sul, oeste e central da capital. O levantamento foi realizado com pessoas com mais de 16 anos, com diversos graus de instrução. Segundo Moraes, as margens de erro da pesquisa são de 3% para o total, sendo 5% para os dados relativos aos moradores de favelas e 4% em relação aos habitantes de outras áreas da capital.



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