São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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POLÍCIA

Interceptações telefônicas mostram ainda ligação dele com autoridades

Em MG, delegado é acusado de tortura

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Interceptações telefônicas realizadas pelo Ministério Público de Minas Gerais no celular do delegado Marco Túlio Fadel, preso preventivamente entre outubro de 2003 e fevereiro deste ano, revelam a suposta prática de tortura e coação de testemunhas pelo policial, além de contatos, mantidos de dentro da prisão, com várias autoridades do Estado, entre os quais dirigentes petistas.
Entre as autoridades flagradas nas gravações, feitas em outubro, estão a presidente do PT mineiro, deputada federal Maria do Carmo Lara, deputados estaduais, membros do Diretório do PT em Igarapé (cidade onde o delegado é lotado) e o juiz-corregedor e diretor do Fórum de Belo Horizonte, Wanderley Salgado de Paiva.
Denunciado pelo Ministério Público por tortura, coação de testemunhas e concussão (extorsão cometida por funcionário público), Fadel teve a prisão preventiva decretada em 7 de outubro. Ficou no Deoesp (Departamento de Operações Especiais) da Polícia Civil até fevereiro, quando obteve a revogação da prisão. Após a soltura, outros pedidos de prisão foram expedidos contra ele, que ainda não se apresentou.
Em uma das 29 fitas, ele pergunta ao seu advogado se "peteleco" e "tapas na cara" consistiam tortura. Em outro trecho, diz ter "pendurado mais de 1.500 homens" e que isso "nunca deu problema".
A denúncia de tortura contra o delegado foi feita por três acusadas de latrocínio. As gravações, periciadas pela PF, mostram ainda Fadel, após ser preso, articulando manifestações de apoio a ele, bem como a saída da prisão.
Do juiz Paiva, ex-delegado, ele recebeu orientações jurídicas. "Tem que entrar com o agravo [recurso judicial] também", diz.
Recebeu, na secretária eletrônica, votos de confiança do presidente do Diretório do PT em Igarapé, Marco Túlio Chiabi -que, segundo a Promotoria, auxiliou na organização de um ato de desagravo a favor do delegado. No dia 6 de outubro, antes de ser preso, Fadel recebeu ligação da presidente do PT em Minas e pediu a ela que intercedesse a seu favor.
Pelo telefone, o delegado também organizou um churrasco na carceragem e, segundo o Ministério Público, dirigiu ameaças a pessoas envolvidas nas investigações.
A PF, que entrou no caso a pedido do deputado estadual Durval Ângelo (PT), investiga indícios de outros crimes. Ângelo disse que pedirá o afastamento do juiz Paiva e do diretor do Deoesp, intervenção no diretório em Igarapé e expulsão de petistas supostamente envolvidos com Fadel.


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