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SISTEMA PRISIONAL
Fotos achadas na memória de celular apreendido mostram Marcos Camacho, o Marcola, com o aparelho
Líder do PCC é flagrado com celular na prisão
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentado tranqüilamente, de
bermuda e sem camisa, um homem segura o telefone celular. A
cena, registrada em uma fotografia por outro celular com câmera
digital, poderia parecer corriqueira se o local não fosse uma prisão
e se esse homem não fosse o líder
máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital), o detento
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, 38.
A foto digital confirma o que
autoridades paulistas já admitiam: o chefe da facção criminosa
que promoveu uma megarrebelião em 29 presídios, em 2001, e
atentados contra policiais nos últimos anos continuou usando o
telefone celular dentro dos presídios administrados pelo governo
de Geraldo Alckmin (PSDB), segundo um relatório enviado à Justiça pela própria Secretaria Estadual da Administração Penitenciária. A imagem comprova que
as medidas anunciadas pelo governo para impedir a entrada de
aparelhos nas cadeias falharam.
O flagrante ocorreu em uma cela da Penitenciária 1 de Presidente
Bernardes (589 km da capital
paulista), onde Marcola e outros
líderes do PCC permaneceram até
o final de janeiro deste ano. O presídio tem regime comum e não
tem bloqueador de celular.
Na foto, Marcola parece nem ter
se importado com o flagrante, feito pela câmera digital de outro celular. A foto foi feita por outro
preso, não-identificado.
A imagem foi descoberta depois
que dez aparelhos foram apreendidos em uma revista feita no dia
10 de janeiro deste ano, um dia depois de a polícia conseguir frustrar uma tentativa de resgate em
Presidente Bernardes. Os alvos da
ação seriam Marcola e outros integrantes da cúpula do PCC, segundo uma investigação policial.
Depois da ação, Marcola foi transferido para Avaré, também para
um presídio de regime comum.
Os aparelhos foram encontrados em sete celas e em um pavilhão. Pelo menos dois líderes do
PCC estavam nessas celas, entre
eles o preso José Carlos Rabelo, o
Pateta, segundo um relatório da
secretaria com data do dia 23 de
maio, encaminhado à Vara de
Execuções Penais de São Paulo.
A perícia, que inicialmente procurava números telefônicos que
poderiam esclarecer a tentativa de
resgate, acabou encontrando fotografias arquivadas na memória
de um dos dez celulares.
A secretaria usou as fotos e outros cruzamentos de ligações telefônicas para pedir a transferência
de Marcola e outros líderes para o
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) -sistema mais rigoroso aplicado em três presídios paulistas que prevê cela individual,
monitoramento por câmeras 24h
por dia e que proíbe o acesso do
preso à TV e ao rádio. Até agora,
não houve nenhuma apreensão
de celular nas cadeias com RDD.
Dias antes, em 18 de janeiro, a
Justiça tinha negado um pedido
cautelar (medida rápida e provisória) de transferência de Marcola
para o RDD. Na época, no entanto, o Deic (Departamento Estadual de Investigações sobre o Crime Organizado) apresentou escutas telefônicas, que o juiz considerou indícios frágeis demais.
O pedido da Secretaria da Administração Penitenciária ainda
está sendo analisado pela Justiça.
A decisão deve sair em 30 dias.
Descontração
O flagrante de Marcola é apenas
uma das 23 fotos feitas por celular
que foram encaminhadas à Justiça pela secretaria. Essas imagens
também registram momentos de
descontração dos presos.
Além de trazer fotos de filhos e
namoradas de detentos, o celular
com câmera também captou imagens que revelam que o aparelho é
comum entre os líderes do PCC.
Em outra das fotos, onde aparecem três presos não-identificados, dois deles portam celulares.
A entrada de celulares nos presídios é um problema que o governo tenta impedir, sem sucesso,
desde a megarrebelião de 2001. O
aparelho foi um dos instrumentos
importantes para a mobilização e
o contato entre os presídios.
O governo começou a investir
em bloqueadores de celular, mas
o projeto foi abandonado porque
a tecnologia foi considerada ineficiente. Os presos conseguiam fazer ligações mesmo com o sistema de bloqueio.
Hoje, das 144 unidades prisionais, seis têm bloqueador de celular -entre elas o CRP (Centro de
Readaptação Penitenciária) de
Presidente Bernardes, que adota o
RDD, considerada a prisão mais
segura do país. Depois disso, a secretaria passou a investir em aparelhos de raio-x. Hoje, 73 unidades têm esse sistema.
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