São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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8 em 10 fumantes citam problema de saúde

Estudo realizado pela Universidade de Waterloo (Canadá) entrevistou 1.826 pessoas no Brasil, dos quais 1.215 fumantes

Levantamento mostrou ainda que nove em cada dez entrevistados fumantes dizem estar preocupados com a própria saúde

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

De cada dez fumantes brasileiros, oito afirmam que já sofreram de algum problema de saúde relacionado ao cigarro. E nove dizem estar preocupados com a própria saúde.
Esses números estão no estudo ITC Project, realizado pela Universidade de Waterloo, no Canadá, em 19 países no ano passado. No Brasil, foram entrevistadas 1.826 pessoas (sendo 1.215 fumantes) de São Paulo, Rio e Porto Alegre.
O objetivo dessa pesquisa, ainda a primeira de uma série, é verificar os impactos das medidas tomadas pelos governos contra o tabagismo.
No Brasil, os maços de cigarro estão obrigados a conter avisos sobre os riscos à saúde, a indústria do tabaco é proibida de fazer propaganda e os impostos sobre os cigarros ficaram mais pesados, por exemplo.
No Estado de São Paulo, o fumo não é permitido em nenhum lugar público fechado, nem sequer em fumódromos. O Ministério da Saúde tenta aprovar no Congresso uma lei semelhante para todo o país.
Para Tânia Cavalcante, do Inca (Instituto Nacional de Câncer), que é ligado ao Ministério da Saúde, o fato de os fumantes relacionarem eventuais doenças ao tabagismo mostra que as advertências nos maços têm surtido efeito.
A médica Jaqueline Issa, que trabalha com pacientes do InCor (Instituto do Coração) que precisam parar de fumar por causa de doenças cardíacas, concorda. "Pesquisas mostram que, quando sentem dor no peito, os fumantes chegam mais rápido ao pronto-socorro que o não-fumante com o mesmo sintoma. Eles têm consciência [dos riscos do cigarro]", diz.
O tabagismo é considerado uma doença capaz originar outras cinco dezenas de males, como rinite, bronquite, pneumonia, osteoporose, impotência sexual, câncer, infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
Entre 1989 e 2008, segundo o IBGE, os fumantes no Brasil caíram de 33% para 17% da população acima de 15 anos. Hoje cerca de 24 milhões fumam.
O estudo ITC Project mostrou ainda que metade dos fumantes brasileiros pretende parar de fumar nos seis meses seguintes. "Agora precisamos apoiar esses fumantes", diz Cavalcante. "A assistência para quem depende do SUS [Sistema Único de Saúde] é muito restrita. É difícil conseguir atendimento gratuito", acrescenta Issa.
Para 82% dos fumantes entrevistados, o governo deveria fazer mais para ajudá-los a superar o vício.
O Ministério da Saúde envia remédios à base de nicotina (adesivos, gomas e pastilhas) e antidepressivos para as prefeituras preparadas para atender aos fumantes na rede pública.
O governo federal pretende gastar R$ 66 milhões para ampliar o programa dos atuais 358 municípios para 1.240 até o final deste ano.
"É uma doença que muda o funcionamento do cérebro", explica Issa, do InCor. "A abstinência é terrível. Já vi paciente que tinha falta de ar e mesmo assim fumava. O suporte é fundamental para ajudar as pessoas a enfrentarem a dependência."


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