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REDE DE CORRUPÇÃO
Polícia crê que vereador comande máfia da Penha; advogado diz que ele não está foragido e "não é bandido"
Viscome tem prisão decretada e foge
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
A Justiça decretou às 13h30
de ontem a prisão temporária
do vereador Vicente Viscome
(PPB), 58, acusado de comandar a máfia da propina na Administração Regional da Penha, em
São Paulo, que ele controla.
Como não o encontrou na Câmara, em sua casa e em sua quadra de
esportes, às 18h a polícia declarou
o vereador foragido. O parlamentar tem ido regularmente à Câmara, mas faltou ontem, dia de sessão.
A prisão temporária foi autorizada por três dias, a contar da apresentação do vereador, e pode ser
renovada pelo mesmo período, a
pedido da polícia. O mandado foi
assinado pelo juiz Ivo de Almeida,
do Departamento de Inquéritos
Policiais. Viscome ainda não foi
indiciado (acusado formalmente).
O advogado do vereador, José
Guilherme Raimundo, disse que
seu cliente viajou na noite de anteontem para Mogi Mirim por motivos particulares e não se apresentará à polícia enquanto a prisão vigorar. "Vou entrar com pedido de
habeas corpus amanhã (hoje)."
Para Raimundo, a decretação da
prisão foi um "abuso total de autoridade", porque seu cliente nunca
foi intimado a depor. "Se for intimado, ele vai, mas não para ser
preso. Ele não é bandido."
Viscome está em seu segundo
mandato, para o qual foi eleito
com 27.046 votos.
A polícia pretende indiciá-lo indiretamente por concussão (exigir
vantagem para deixar de cumprir
função pública) e formação de
quadrilha, caso ele não apareça até
o final da semana, quando o inquérito do caso deve ser encaminhado
ao Ministério Público.
O pepebista é o primeiro vereador a ter a prisão decretada durante as investigações da máfia da
propina -um esquema de extorsão infiltrado na estrutura da prefeitura paulistana.
Em troca de propina, os fiscais da
prefeitura ignoram as irregularidades no comércio ambulante, na
instalação de bancas de jornais, na
construção civil, na coleta e na varrição de lixo, por exemplo.
Boa parte do montante arrecadado, segundo depoimentos colhidos no inquérito, segue para vereadores da base governista, que controlam as regionais e os demais órgãos públicos, indicando seus administradores. Em troca, são fiéis à
orientação do Executivo e votam a
favor de projetos do prefeito.
Há indícios de que outros vereadores comandam esquemas em
outras regionais.
Namorada
De acordo com o delegado Naief
Saad Neto, que investiga a ação da
máfia na Penha, pelo menos três
depoimentos foram decisivos para
que a polícia decidisse pedir a prisão do vereador: do ex-chefe da fiscalização da Regional, Vladimir
Augusto Ferreira, 37, do ex-administrador Pedro Antônio Saul, 49, e
da assessora enamorada de Viscome, Tânia de Paula, 39.
Ferreira e Saul admitiram participar do esquema, disseram à polícia ter conhecimento da conivência do vereador com a rede e afirmaram saber que Tânia de Paula e
Oswaldo Morgado da Cruz (ex-administrador regional) eram responsáveis por entregar ao parlamentar sua parte da propina vinda
de todos os setores da regional.
O depoimento de Tânia de Paula,
no entanto, é o que mais complica
a situação de Viscome. Presa há
uma semana, ela admitiu que recebia o dinheiro da extorsão e repassava a maior parte ao parlamentar.
"Era tempo de vacas magras. Eu
dava ao Vicente de R$ 8.000 a R$ 10
mil por semana", disse Tânia, em
depoimento dado no dia 6. A mando de Viscome, ela trabalhou na
Penha de março a setembro de 97,
época em que, segundo ela, a prefeitura estava assustada com o escândalo dos precatórios.
A namorada-assessora calcula
que, em 97, Vicente Viscome faturava cerca de R$ 50 mil por mês em
propina da regional, incluindo a
parcela em dólar que vinha da empresa de lixo. Ela entregava a propina ao namorado em casa, normalmente quinta ou sexta.
Ela disse que parte das anotações
que a polícia encontrou em sua
agenda referem-se de fato à "contabilidade da propina" -o que
pode ser usado como prova material em eventual processo criminal.
"Anotei para não esquecer de cobrar", explicou Tânia, referindo-se
ao movimento de propina escrito
na agenda, relativo a período em
que se afastou da regional.
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