São Paulo, Quarta-feira, 10 de Março de 1999
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REDE DE CORRUPÇÃO
Pedro Saul confessa à polícia que recebia da Enterpa para ignorar irregularidades na coleta e varrição de lixo
Regional diz que pegava propina em empresa

da Reportagem Local

O engenheiro Pedro Antônio Saul, 49, confessou à polícia que recebia propina das mãos de um funcionário da Enterpa Ambiental para ignorar as irregularidades praticadas pela empresa nacoleta e varrição de lixo na área da Administração Regional da Penha.
Ele procurou a polícia após ter lido na Folha que testemunhas haviam confirmado a existência de um esquema de corrupção envolvendo engenheiros da Supervisão de Serviços Públicos da Penha e funcionários da Enterpa.
De março de 97 até a última sexta, Saul respondeu pelos Serviços Públicos, departamento responsável, entre outras coisas, pela fiscalização da limpeza.
Em seu depoimento, Saul disse que ficava com 30% da propina e repassava 70% para o administrador regional -primeiro Oswaldo Morgado da Cruz e, depois, Paulo Roberto Tirolli. O regional, por sua vez, mantinha 20% e repassava 50% ao vereador Viscome.
Saul foi nomeado administrador regional da Penha na sexta-feira, quando o ex-regional Paulo Roberto Tirolli foi indiciado por prevaricação (ele admitiu ter conhecimento do esquema de corrupção.
Ontem, após confessar que participava da rede e ser indiciado sob acusação de corrupção e formação de quadrilha, ele foi afastado pelo Secretário das Administrações Regionais, Domingos Dissei.
Saul afirmou à polícia que controlava a data que a Enterpa recebia da prefeitura através do SEO (Serviço de Execuções Orçamentárias), sistema informatizado acessível aos órgãos municipais.
Após o pagamento, ele sabia que em cerca de três dias receberia a ligação de um gerente da empresa que o avisava quando o dinheiro estaria disponível.
Na empresa, Saul pegava o dinheiro -sempre em dólares. O montante, segundo Saul, correspondia a 2% do que a Enterpa recebia mensalmente pela limpeza da Penha.Em 98, de acordo com o SEO, a prefeitura gastou R$ 26,3 milhões com coleta e varrição da região -R$ 2,2 milhões por mês. Por essas depesas, a propina mensal seria de R$ 44 mil.
Cada um dos beneficiados, dava "caixinha" a seus subordinados. Pelo acordo, os fiscais faziam constar nas planilhas de varrição que a empresa estava trabalhando com o número de funcionários determinado em contrato e varrendo a área prevista. As planilhas eram assinadas por Saul.
"Eu assinava as medições sem questionar as planilhas. Como a empresa varria menos e tinha menos funcionários do que deveria, isso causava gasto maior para a SAR e economia para a Enterpa, que dividia o lucro com a gente."


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