São Paulo, Quarta-feira, 10 de Março de 1999
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SAÚDE
Apenas dois Estados têm índice conforme ao recomendado
Diminui número de partos por cesariana feitos na rede pública

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

O índice de cesáreas no Brasil caiu 12,5% de 97 para 98. É a primeira vez na década que o país registra queda significativa. Dos 2,5 milhões de partos feitos no país em 98, 28,7% foram cesáreas. Em 97, o índice havia sido de 32,5%.
Apenas dois Estados -Amapá e Sergipe- têm índice de cesáreas dentro do limite aceitável pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 15%.
Segundo a OMS, as cesáreas trazem mais riscos para a gestante e para o bebê e só devem ser feitas quando não for possível optar pelo parto normal.
Estudo realizado pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) em 11 países sul-americanos concluiu que a cesárea traz risco de morte materna até sete vezes maior do que o parto normal, por aumentar o risco de infecções.
O bebê também tem mais chances de ter problemas de saúde. O risco de nascer prematuro é maior e há mais chances de apresentar problemas respiratórios.
A principal razão da queda no número de cesáreas foram as medidas tomadas pelo Ministério da Saúde em maio para incentivar a realização de partos normais.
O valor pago aos hospitais da rede pública pela realização do parto normal assistido por médico recebeu aumento de 66,5%, passando de R$ 114,23 para R$ 190,19.
Já as cesáreas tiveram um reajuste menor (50,8%), indo de R$ 194,79 para R$ 293,84.
Além disso, o Ministério da Saúde passou a pagar pela anestesia peridural nos partos normais.
Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), os altos índices de cesáreas no Brasil têm dois motivos: o baixo valor pago pelo parto normal na rede pública até maio passado e a noção equivocada de que a cesárea é menos traumática para a mãe.

Campeões
Mato Grosso do Sul é o campeão: 41% dos partos realizados no Estado foram cesáreas. A vice-liderança é do vizinho Mato Grosso, com 39,2% de cesarianas. Em terceiro lugar, aparece outro Estado do Centro-Oeste: Goiás, com 38,7%.
Paraná e São Paulo e Rio de Janeiro também tiveram índices de cesáreas acima de 35%. Já os Estados no Norte e Nordeste têm índices menores (veja quadro).
Segundo Nelson Cardoso, da Coordenação de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, os Estados do Sudeste e Centro-Oeste fazem mais cesáreas porque os hospitais são mais bem equipados.
"As pesquisas mostram que a maior incidência de cesáreas é em mulheres de maior escolaridade e melhor condição financeira, o que é lamentável", diz Carolina Sui.
Para o chefe do Departamento de Obstetrícia do HC da USP, Marcelo Zugaib, a realização de cesáreas hoje é mais responsabilidade dos médicos do que das gestantes.
Segundo Zugaib, os médicos que acumulam vários empregos escolhem a cesariana por ter curta duração e poder ser programada.
Zugaib afirma ainda que para um país como o Brasil seria aceitável que até 20%.
Entre as razões apontadas pelo médico para a realização de uma cesárea é a gestante já ter passado por outras duas cirurgias semelhantes anteriormente.
"É um círculo vicioso. Encontramos muitas mulheres que já fizeram cesárea e por isso temos de repetir o procedimento. Essa é a razão mais comum para a cesárea hoje no HC, quando deveria ser a menos frequente."


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