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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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No endereço dos sócios de viações de SP, funciona firma que foi consultada para tentar evitar impeachment de Collor

Escritório é ligado à Operação Uruguai

CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO


DA REPORTAGEM LOCAL

O escritório da calle Juncal, 1.327, conjunto 2.201, em Montevidéu, Uruguai, onde estão instalados três sócios de empresários de ônibus de São Paulo, é de propriedade de um ex-ministro e foi consultado em 1992 pelos advogados do empresário Alcides dos Santos Diniz, amigo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, para criar a Operação Uruguai.
O escritório, cuja razão social é Posadas, Posadas e Vecino, recusou-se a dar um parecer sobre o assunto. Operação Uruguai foi uma ação montada por assessores de Collor para tentar evitar o seu impeachment.
Na edição de terça-feira, a Folha informou que a viação Vila Leopoldina possui como sócia a Tosno S/A e que a Penha-São Miguel tem duas "offshores" (empresas cujos donos são anônimos, sob proteção legal) no Uruguai, a Vathia Corporation e a Pombia International. As três têm a calle Juncal como endereço comum.
Outra viação que participa da concorrência para a concessão do sistema de transporte, a Gatusa, também tem uma sócia no Uruguai, a Livonpride, mas a localização não é o escritório de Posadas. Um sócio da Solution Bus, que operava em caráter emergencial, mas foi inabilitada no sábado passado pela prefeitura, também confirmou à Folha que a empresa tinha uma "offshore" como sócia.
Especialistas em direito tributário e procuradores da República consultados pela Folha disseram que a criação de "offshores" em paraísos fiscais não é ilegal, mas ressalvaram que na maioria dos casos as empresas utilizam esse expediente para lavar dinheiro ou para "proteger" os reais proprietários do arresto de bens.

Parecer
Entre 9 e 15 de julho de 1992, advogados do escritório Stroeter, Hallack, Apocalypse e Jucá foram a Montevidéu para discutir a forma como deveria ser feita a redação do documento de empréstimo a Collor. Por indicação de Alcides Diniz, procuraram o escritório de Posadas, conhecido por abrigar, entre 1989-90, uma "offshore" do empresário, a ASD del Uruguai.
Fernando Jucá Vieira de Campos, um dos sócios da empresa Stroeter, Hallack, Apocalypse e Jucá, disse ontem à Folha que os advogados brasileiros queriam um parecer dos colegas uruguaios sobre a forma de registrar legalmente o empréstimo.
"Nós informamos que um dos avalistas seria o presidente Collor e o escritório, então, preferiu não fazer o parecer porque o Ignacio de Posadas era senador e poderia lhe causar complicações políticas", disse Jucá.
Em seu livro "O Flagrante da Farsa: Operação Uruguai", a secretária Sandra Fernandes Oliveira confirma, na página 59, que a ASD del Uruguai funcionava no escritório de Posadas. Oliveira foi responsável por revelar no Congresso que a tal operação havia sido montada na ASD Empreendimentos e Participações, de Diniz, onde ela trabalhava na época.
O escritório em Montevidéu é um dos mais tradicionais do país. Iniciou suas atividades em 1926 e tem como um dos principais sócios Ignacio de Posadas Montero, ex-senador e ex-ministro da Economia. Companhias brasileiras como a Petrobras e a Ambev e bancos como o Pactual e o Itaú são clientes do escritório.
No endereço de Posadas funcionaram, ainda, uma ex-sócia de Ronan Maria Pinto, acusado pelo Ministério Público Estadual de participar de um esquema de recolhimento de propina na Prefeitura de Santo André, e a Datacity, que faz processamento de multas para diversos municípios.
Pinto tinha como sócia na Expresso Nova Cuiabá, no Mato Grosso, a Roanoake Holding S/A. Em julho do ano passado, a sociedade foi desfeita. A sócia da Datacity era a Porto Maria, que também encerrou as atividades.


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