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No endereço dos sócios de viações de SP, funciona firma que foi consultada para tentar evitar impeachment de Collor
Escritório é ligado à Operação Uruguai
CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritório da calle Juncal,
1.327, conjunto 2.201, em Montevidéu, Uruguai, onde estão instalados três sócios de empresários
de ônibus de São Paulo, é de propriedade de um ex-ministro e foi
consultado em 1992 pelos advogados do empresário Alcides dos
Santos Diniz, amigo do ex-presidente Fernando Collor de Mello,
para criar a Operação Uruguai.
O escritório, cuja razão social é
Posadas, Posadas e Vecino, recusou-se a dar um parecer sobre o
assunto. Operação Uruguai foi
uma ação montada por assessores
de Collor para tentar evitar o seu
impeachment.
Na edição de terça-feira, a Folha
informou que a viação Vila Leopoldina possui como sócia a Tosno S/A e que a Penha-São Miguel
tem duas "offshores" (empresas
cujos donos são anônimos, sob
proteção legal) no Uruguai, a Vathia Corporation e a Pombia International. As três têm a calle
Juncal como endereço comum.
Outra viação que participa da
concorrência para a concessão do
sistema de transporte, a Gatusa,
também tem uma sócia no Uruguai, a Livonpride, mas a localização não é o escritório de Posadas.
Um sócio da Solution Bus, que
operava em caráter emergencial,
mas foi inabilitada no sábado passado pela prefeitura, também
confirmou à Folha que a empresa
tinha uma "offshore" como sócia.
Especialistas em direito tributário e procuradores da República
consultados pela Folha disseram
que a criação de "offshores" em
paraísos fiscais não é ilegal, mas
ressalvaram que na maioria dos
casos as empresas utilizam esse
expediente para lavar dinheiro ou
para "proteger" os reais proprietários do arresto de bens.
Parecer
Entre 9 e 15 de julho de 1992, advogados do escritório Stroeter,
Hallack, Apocalypse e Jucá foram
a Montevidéu para discutir a forma como deveria ser feita a redação do documento de empréstimo a Collor. Por indicação de Alcides Diniz, procuraram o escritório de Posadas, conhecido por
abrigar, entre 1989-90, uma "offshore" do empresário, a ASD del
Uruguai.
Fernando Jucá Vieira de Campos, um dos sócios da empresa
Stroeter, Hallack, Apocalypse e
Jucá, disse ontem à Folha que os
advogados brasileiros queriam
um parecer dos colegas uruguaios
sobre a forma de registrar legalmente o empréstimo.
"Nós informamos que um dos
avalistas seria o presidente Collor
e o escritório, então, preferiu não
fazer o parecer porque o Ignacio
de Posadas era senador e poderia
lhe causar complicações políticas", disse Jucá.
Em seu livro "O Flagrante da
Farsa: Operação Uruguai", a secretária Sandra Fernandes Oliveira confirma, na página 59, que a
ASD del Uruguai funcionava no
escritório de Posadas. Oliveira foi
responsável por revelar no Congresso que a tal operação havia sido montada na ASD Empreendimentos e Participações, de Diniz,
onde ela trabalhava na época.
O escritório em Montevidéu é
um dos mais tradicionais do país.
Iniciou suas atividades em 1926 e
tem como um dos principais sócios Ignacio de Posadas Montero,
ex-senador e ex-ministro da Economia. Companhias brasileiras
como a Petrobras e a Ambev e
bancos como o Pactual e o Itaú
são clientes do escritório.
No endereço de Posadas funcionaram, ainda, uma ex-sócia de
Ronan Maria Pinto, acusado pelo
Ministério Público Estadual de
participar de um esquema de recolhimento de propina na Prefeitura de Santo André, e a Datacity,
que faz processamento de multas
para diversos municípios.
Pinto tinha como sócia na Expresso Nova Cuiabá, no Mato
Grosso, a Roanoake Holding S/A.
Em julho do ano passado, a sociedade foi desfeita. A sócia da Datacity era a Porto Maria, que também encerrou as atividades.
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