São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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SAÚDE

Durante encontro em Belo Horizonte (MG), pesquisadores reivindicaram estudos sobre o causador de um tipo raro de leucemia

Médicos recomendam mais controle do vírus HTLV

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Apesar de afetar só uma pequena parcela da população -e desenvolver doenças em apenas 1% a 4% dos infectados-, um vírus "aparentado" do HIV (que provoca a Aids), o HTLV, está aumentando sua presença na América do Sul, por falta de controle sanitário e estudos que definam sua incidência no continente.
Essa é uma das conclusões do 1º Encontro Sul-Americano de Pesquisadores do HTLV-1/2, que terminou anteontem na capital mineira com o lançamento da Carta de Belo Horizonte, que traz recomendações para impedir a disseminação do vírus e melhorar o atendimento ao portador.
O HTLV é um vírus da família dos retrovírus (a mesma do HIV). O tipo 1 do vírus (o tipo 2 não está associado à doença) causa principalmente uma modalidade rara de leucemia (doença que afeta as células de defesa do organismo) e uma doença neurológica grave que afeta a capacidade de andar. É transmitido pelo sangue e agulhas contaminadas, relações sexuais e de mãe para filho, por meio do aleitamento materno.
Estima-se que 15 a 20 milhões de pessoas no mundo sejam portadoras do HTLV-1. No Brasil, as estimativas apontam para 2,5 milhões de infectados pelo vírus, com incidências mais elevadas na Bahia (1,35% a 1,80% da população), Pará (1,61%) e Pernambuco (0,33% a 0,82%). No entanto, assim como no resto do continente, são dados baseados em estudos de grupos específicos, como doadores de sangue e gestantes.
Por conta disso, os pesquisadores reivindicam recursos para pesquisas que representem a população em geral. O único estudo desse tipo na América do Sul foi feito em Salvador entre 1998 e 1999 e apontou cerca de 40 mil infectados por HTLV-1 na cidade. Pesquisas relacionaram a alta incidência do vírus na capital baiana à introdução de linhagens virais vindas da África.
Outra recomendação da Carta de Belo Horizonte é a adoção, pelos governos dos países participantes, de testes obrigatórios para detecção de HTLV em bancos de leite e consultas pré-natais, o que não ocorre hoje. No Brasil, a triagem do vírus nos bancos de sangue é feita desde 1993 -na América do Sul, apenas Peru e Colômbia seguem o procedimento.
Estudo de 1998 do médico Mário Ivo Serinolli revelou que, de 96 bancos de sangue do SUS (Sistema Único de Saúde) analisados, 12 não faziam teste para HTLV.
Para o pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Salvador Bernardo Galvão, a transmissão do HTLV de mãe para filho no país tende a aumentar se campanhas de incentivo à amamentação não forem acompanhadas de orientações sobre o vírus. Daí vem outra recomendação dos especialistas: a criação de centros de referência em HTLV e esclarecimento de equipes de saúde nos diversos países.
Sem citar o valor, a hematologista e pesquisadora Anna Bárbara Proietti, presidente da Fundação Hemominas, afirma que o custo anual de pacientes com doenças causadas pelo HTLV é muito alto, o que justificaria investimentos em prevenção. Seu colega argentino, Carlos Remondegui, apresentou estudo no qual indicava um custo de cerca de US$ 19 mil/ano.
Também foi consenso entre os participantes do encontro -pesquisadores do Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela- que o impacto do HTLV na saúde pública vem sendo subestimado pelas autoridades sanitárias e que falta definir a gravidade do problema.


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