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SAÚDE
Durante encontro em Belo Horizonte (MG), pesquisadores reivindicaram estudos sobre o causador de um tipo raro de leucemia
Médicos recomendam mais controle do vírus HTLV
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Apesar de afetar só uma pequena parcela da população -e desenvolver doenças em apenas 1%
a 4% dos infectados-, um vírus
"aparentado" do HIV (que provoca a Aids), o HTLV, está aumentando sua presença na América do Sul, por falta de controle
sanitário e estudos que definam
sua incidência no continente.
Essa é uma das conclusões do 1º
Encontro Sul-Americano de Pesquisadores do HTLV-1/2, que terminou anteontem na capital mineira com o lançamento da Carta
de Belo Horizonte, que traz recomendações para impedir a disseminação do vírus e melhorar o
atendimento ao portador.
O HTLV é um vírus da família
dos retrovírus (a mesma do HIV).
O tipo 1 do vírus (o tipo 2 não está
associado à doença) causa principalmente uma modalidade rara
de leucemia (doença que afeta as
células de defesa do organismo) e
uma doença neurológica grave
que afeta a capacidade de andar. É
transmitido pelo sangue e agulhas
contaminadas, relações sexuais e
de mãe para filho, por meio do
aleitamento materno.
Estima-se que 15 a 20 milhões
de pessoas no mundo sejam portadoras do HTLV-1. No Brasil, as
estimativas apontam para 2,5 milhões de infectados pelo vírus,
com incidências mais elevadas na
Bahia (1,35% a 1,80% da população), Pará (1,61%) e Pernambuco
(0,33% a 0,82%). No entanto, assim como no resto do continente,
são dados baseados em estudos
de grupos específicos, como doadores de sangue e gestantes.
Por conta disso, os pesquisadores reivindicam recursos para
pesquisas que representem a população em geral. O único estudo
desse tipo na América do Sul foi
feito em Salvador entre 1998 e
1999 e apontou cerca de 40 mil infectados por HTLV-1 na cidade.
Pesquisas relacionaram a alta incidência do vírus na capital baiana à introdução de linhagens virais vindas da África.
Outra recomendação da Carta
de Belo Horizonte é a adoção, pelos governos dos países participantes, de testes obrigatórios para
detecção de HTLV em bancos de
leite e consultas pré-natais, o que
não ocorre hoje. No Brasil, a triagem do vírus nos bancos de sangue é feita desde 1993 -na América do Sul, apenas Peru e Colômbia seguem o procedimento.
Estudo de 1998 do médico Mário Ivo Serinolli revelou que, de 96
bancos de sangue do SUS (Sistema Único de Saúde) analisados,
12 não faziam teste para HTLV.
Para o pesquisador da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz) em
Salvador Bernardo Galvão, a
transmissão do HTLV de mãe para filho no país tende a aumentar
se campanhas de incentivo à amamentação não forem acompanhadas de orientações sobre o vírus. Daí vem outra recomendação
dos especialistas: a criação de centros de referência em HTLV e esclarecimento de equipes de saúde
nos diversos países.
Sem citar o valor, a hematologista e pesquisadora Anna Bárbara Proietti, presidente da Fundação Hemominas, afirma que o
custo anual de pacientes com
doenças causadas pelo HTLV é
muito alto, o que justificaria investimentos em prevenção. Seu
colega argentino, Carlos Remondegui, apresentou estudo no qual
indicava um custo de cerca de
US$ 19 mil/ano.
Também foi consenso entre os
participantes do encontro -pesquisadores do Brasil, Argentina,
Chile, Peru, Colômbia e Venezuela- que o impacto do HTLV na
saúde pública vem sendo subestimado pelas autoridades sanitárias
e que falta definir a gravidade do
problema.
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