São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Suposto ex-agente da DEA tem ficha criminal

Polícia afirma que testemunha mente ao narrar atentado em SP

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um paulista de 31 anos disse em depoimento a um delegado da PF e a um procurador da República que foi alvo de um atentado após se recusar a cumprir uma missão da DEA (departamento norte-americano de combate às drogas). A missão: matar o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
A testemunha em questão chama-se Maurício William Vilela. Ontem, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo convocou os jornalistas para sustentar que o cidadão é um golpista.
As denúncias feitas por Vilela vieram à tona por intermédio do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), integrante de uma comissão mista que investiga as ações de agências de inteligência no país.
Há duas semanas, Vilela depôs pela primeira vez. Na ocasião, ele narrou ter levado dois tiros pelas costas, no Jaçanã (zona norte de São Paulo), em 14 de dezembro de 2002, após se recusar a ajudar a matar Beira-Mar, entregando US$ 20 mil e dois tubos com bactérias a dois policiais militares do Rio. Os PMs misturariam a substância à comida do traficante, que morreria em 30 dias, de infecção generalizada.
Após os tiros, o homem diz ter sido socorrido a um hospital no Jaçanã, do qual, afirma, fugiu de medo, levando sua ficha médica.
A Polícia Civil afirma que toda a história é mentirosa. Na terça passada, policiais de Itapetininga (163 km de São Paulo) localizaram um Clio prata abandonado havia 15 dias numa rua da cidade.
"Chegamos ao local e constatamos que o carro, placas GWF-8421, de Sete Barras (MG), tinha queixa de furto", narrou o delegado Alexandre César Costa Viana, titular da DIG. No carro estavam documentos de Vilela -entre eles, textos que o identificam como diretor da ONU e o contrato social de uma agência de turismo.
Enquanto trabalhava na agência, Vilela foi denunciado por estelionato (por clientes) e por furto (pela dona da agência), pois teria sumido com computador, som, quadros e até geladeira da firma.
Na ficha criminal de Vilela aparecem acusações desde 1992, sempre na região de Itapetininga. Além de estelionato e furto, a lista inclui desacato, corrupção de testemunha, sumiço de documento, lesões e roubo -crime pelo qual ele ficou preso por um ano.
Em dezembro de 2002, dizem os policiais paulistas, ele foi de fato baleado. Foram dois tiros nas costas, mas disparados pelo padrasto de Vilela, Iloir Ferrarez, com uma carabina calibre 22, numa briga, dentro de casa, em São José dos Campos (91 km de São Paulo).
"A divulgação desses fatos, sem preocupação com a veracidade deles, sugere falta de seriedade", afirmou o delegado Viana.
O senador Suplicy rebate: "Eles prestaram um desserviço de falar assim, sem nos avisar. Se isso for verdade, o rapaz irá sumir".
Na segunda-feira, tudo o que foi apurado pela Polícia Civil de São Paulo seguirá à PF. Na quarta, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, devem ser ouvidos pela comissão mista sobre essas e outras denúncias.


Texto Anterior: Presença é constante na América do Sul
Próximo Texto: Panorâmica - Acidente: Menina cai em fosso de elevador
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.