São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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TELEFONIA CELULAR

Número de reclamações aumenta 363%, segundo a Anatel

País registra ao menos um celular clonado por hora

FERNANDO BADÔ
DA REPORTAGEM LOCAL

A clonagem de telefones celulares cresce a todo vapor no Brasil. No primeiro bimestre deste ano, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) recebeu 1.513 reclamações de celulares clonados, ou seja, 26 por dia ou mais de uma por hora. Em comparação com o mesmo período de 2004, quando ocorreram 327 casos, houve aumento de 362,7%.
São Paulo é o Estado que mais registrou ocorrências na Anatel em 2005 (668), seguido por Minas Gerais (378), de acordo com levantamento da Anatel.
O número pode ser bem maior. Quantificar o total de aparelhos clonados é difícil porque as operadoras preferem não falar sobre o assunto.
Dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (www.abcf.org.br) apontam números mais alarmantes: 10 mil celulares clonados por mês.
Ao clonar um celular, os falsários usam a linha para fazer ligações gratuitamente, uma vez que a conta será enviada para o assinante da linha original.
A reportagem apurou que existe até um mercado negro de celulares clonados, apelidados de "bodinhos". O comprador paga, em média, R$ 50 e pode usar o aparelho para telefonar livremente enquanto ele não for bloqueado.

Captura e cópia
Para realizar a clonagem, os golpistas se aproveitam de brechas de segurança do sistema das operadoras ou do descuido do próprio usuário e capturam dois dados que são a chave para a identificação do celular original: o número da linha e o número de série do aparelho. Para isso é utilizado um scanner de freqüência, um aparelho capaz de rastrear ondas de rádio que passem num raio de até cem metros -distância que varia dependendo da potência do equipamento.
Essas brechas ocorrem principalmente nos sistemas analógicos. "Sistemas digitais têm criptografia, um método de segurança que dificulta o acesso a essas informações. No analógico, elas ficam mais expostas", afirma o engenheiro eletrônico Paul Jean Jeszensky, da USP.
Outro procedimento de risco é consertar celulares em lojas não-autorizadas porque um funcionário desonesto pode, ao abrir o telefone, ter acesso aos dados.
De posse dessas informações, as quadrilhas reprogramam um aparelho sem linha com ela. Para Jeszensky, há várias pessoas sem idoneidade trabalhando sob a fachada de assistência técnica. "Ao abrirem um celular, eles conseguem acessar esses dados e, conseqüentemente, fazer clonagem com total facilidade", diz.
Embora a telefonia celular no Brasil seja majoritariamente digital, ainda há casos em que o sistema analógico é utilizado. "Em algumas situações, quando o celular entra em roaming, ou seja, sai da área de cobertura original, ele pode operar em modo analógico, aí uma brecha se abre", diz o engenheiro eletrônico Michel Daoud Yacoub, da Unicamp.
No entender de Yacoub, os casos de clonagem em celulares da Vivo são mais comuns porque parte dos sistema ainda opera em modo analógico, uma herança da época da Telesp Celular.
Procurada pela reportagem, a Vivo informou, por meio da assessoria de imprensa, que não se pronunciaria sobre o assunto.

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