São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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Litoral vira terra sem lei, afirma morador

Sociedade de amigos da Barra do Sahy defende construção de base da PM no local para intensificar policiamento durante todo o ano

"A violência tem data certa para aumentar no litoral. Quando acaba o verão, a polícia some e aumentam os casos", diz o comerciante

Reginaldo Pupo - 30.dez.09/Folha Imagem
PM observa praia do Curral (Ilhabela) durante operação verão

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

No mundo das estatísticas da polícia, a praia da Barra do Sahy, no litoral norte de São Paulo, registrou um roubo e um furto nos três dias de feriado de Páscoa. Na vida real, ocorreram mais oito furtos, segundo levantamento de moradores. Três furtos, quando há subtração de bens sem uso da violência, ocorreram ao lado da casa do delegado geral de polícia, Domingos de Paulo Neto.
Foram levados celulares, relógios, DVDs e computador portátil, entre outros itens.
O caso da Barra do Sahy revela dois fenômenos paralelos: a subnotificação de furtos e o aumento da violência logo depois que a Polícia Militar encerra a Operação Verão nas praias.
Pesquisa Datafolha feita em 1997 mostra que a subnotificação de arrombamentos de casas era de 60%. No caso da Barra do Sahy, 80% das vítimas deixaram de registrar boletim de ocorrência.
"A violência tem data certa para aumentar no litoral. Quando acaba o verão, a polícia some e aumentam os casos de roubos e furtos", diz o comerciante Anderson Estavsky, dono de um supermercado que já foi assaltado com uso de armas.
O advogado Fernando Castelo Branco diz que a falta de policiamento é a causa dos furtos e roubos: "Fora do verão, o litoral norte vira terra sem lei".
A sociedade de amigos da praia defende a construção de uma base comunitária da PM, mas a Secretaria de Segurança diz que não há falta de policiais na região.
Castelo Branco critica os que não registram boletim de ocorrência de furto por considerar que a omissão é um estímulo à violência.
Ricardo Berlinck -dono de dez casas de aluguel, das quais três foram furtadas, segundo ele- afirma que um inquilino que foi furtado foi até a delegacia de Boissucanga no feriado, mas encontrou-a fechada.
O delegado da região, Múcio Monteiro, diz que isso é "impossível". "Um policial só sai da delegacia quando outro começa a trabalhar", afirma.

Medo
A polícia e os moradores da Barra do Sahy dizem saber quem são os autores dos crimes, um deles já confessou quatro furtos realizados na Páscoa, mas ninguém foi preso.
Após a Páscoa, moradores relatam que um dos autores dos furtos vendia um DVD portátil por R$ 25 e um laptop por R$ 150 na Vila Baiana, uma favela que fica colada à serra do Mar na Barra do Sahy.
Na última segunda-feira, Aristides Junqueira Neto, que é neto de um caiçara que dá nome à avenida principal da Barra do Sahy, confessou quatro furtos, mas foi liberado pela polícia porque é réu primário.
O delegado Monteiro, que responde pela costa sul de São Sebastião, diz que os casos de violência na Barra do Sahy não deveriam ser tratados pela polícia. "Prendemos um rapaz, ele confessou os crimes, mas ele é dependente de crack. Isso não é caso de polícia, é de saúde pública", afirma.
De acordo com ele, não há oferta para tratamento de dependentes nessa parte do litoral paulista.


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