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ANÁLISE
Uma vacina contra as escolhas erradas
MARIA INÊS DOLCI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo federal tomou
providências, em 2010, para
evitar que a gripe A (H1N1),
provoque mortes e demais
efeitos maléficos à saúde dos
brasileiros. Definiu um calendário de vacinação por faixas
etárias e outros grupos de risco,
como as grávidas.
O fato de optar pela vacinação de alguns dos principais
ameaçados pela doença, cujo
risco aumenta com a queda de
temperatura típica do outono e
do inverno, não significa que
adultos de mais de 30 anos, por
exemplo, que não constam da
agenda do governo, não possam
pegar a doença. Podem.
Nesse caso, terão de recorrer
a empresas privadas, e pagar
pela vacina. Pagarão, contudo,
pela vacina trivalente, que protege contra duas cepas de gripe
sazonal, mais a gripe A. A vacina que o Ministério da Saúde
adquiriu é monovalente, porque só imuniza contra a gripe A.
Há dois aspectos relevantes
nessas informações. Primeiramente, saber por que não vacinarão, na rede pública, todos os
brasileiros. Questão de custos?
Bem, há outros investimentos
governamentais que talvez não
fossem tão prioritários que pudessem ser postergados.
A outra questão se refere à
informação. O Ministério da
Saúde deveria informar porque
está vacinando somente contra
a gripe A e a razão para ter escolhido a vacina monovalente.
Hoje, somente cidadãos de
60 anos em diante têm direito à
vacina contra a gripe sazonal,
aquela que imuniza contra as
cepas mais em evidência nos
últimos meses.
Não seria o caso de fazer um
gasto só, e combater os dois tipos de gripe com a vacina trivalente? E, mais do que isso, oferecê-la a todos os brasileiros?
São perguntas importantes,
ainda mais que estamos em ano
eleitoral. Diariamente, somos
bombardeados com anúncios
mirabolantes de programas para acelerar o crescimento. Como disse uma das prováveis
candidatas, são programas com
aspecto requentado. Saúde e
educação são as maiores prioridades de qualquer pessoa ou
governo, não importa de que
país estejamos falando.
Haja vista a queda de braço
entre o governo Barack Obama,
nos Estados Unidos, e os políticos do Partido Republicano,
para aprovar uma nova legislação para a saúde naquele país.
A impressão que episódios
como este da vacinação contra
a gripe A nos deixam é que
obras parecem ter muito mais
apelo do que ações de saúde pública. Não por culpa de um determinado ministério, mas pela
orientação geral em torno de
programas de crescimento.
Nesse caso, somente o eleitor
pode exigir mudanças. Mostrar
que valoriza a saúde como deveria ser valorizada pelos governantes. Cobrar medidas
mais amplas e abrangentes.
Sem novas contribuições,
porque já pagamos quase 40%
de impostos sobre toda a riqueza produzida no Brasil. É somente uma questão de direcionar recursos para as áreas mais
importantes, de fato.
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