São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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ANÁLISE

Uma vacina contra as escolhas erradas

MARIA INÊS DOLCI
COLUNISTA DA FOLHA

O governo federal tomou providências, em 2010, para evitar que a gripe A (H1N1), provoque mortes e demais efeitos maléficos à saúde dos brasileiros. Definiu um calendário de vacinação por faixas etárias e outros grupos de risco, como as grávidas.
O fato de optar pela vacinação de alguns dos principais ameaçados pela doença, cujo risco aumenta com a queda de temperatura típica do outono e do inverno, não significa que adultos de mais de 30 anos, por exemplo, que não constam da agenda do governo, não possam pegar a doença. Podem.
Nesse caso, terão de recorrer a empresas privadas, e pagar pela vacina. Pagarão, contudo, pela vacina trivalente, que protege contra duas cepas de gripe sazonal, mais a gripe A. A vacina que o Ministério da Saúde adquiriu é monovalente, porque só imuniza contra a gripe A.
Há dois aspectos relevantes nessas informações. Primeiramente, saber por que não vacinarão, na rede pública, todos os brasileiros. Questão de custos? Bem, há outros investimentos governamentais que talvez não fossem tão prioritários que pudessem ser postergados.
A outra questão se refere à informação. O Ministério da Saúde deveria informar porque está vacinando somente contra a gripe A e a razão para ter escolhido a vacina monovalente.
Hoje, somente cidadãos de 60 anos em diante têm direito à vacina contra a gripe sazonal, aquela que imuniza contra as cepas mais em evidência nos últimos meses.
Não seria o caso de fazer um gasto só, e combater os dois tipos de gripe com a vacina trivalente? E, mais do que isso, oferecê-la a todos os brasileiros?
São perguntas importantes, ainda mais que estamos em ano eleitoral. Diariamente, somos bombardeados com anúncios mirabolantes de programas para acelerar o crescimento. Como disse uma das prováveis candidatas, são programas com aspecto requentado. Saúde e educação são as maiores prioridades de qualquer pessoa ou governo, não importa de que país estejamos falando.
Haja vista a queda de braço entre o governo Barack Obama, nos Estados Unidos, e os políticos do Partido Republicano, para aprovar uma nova legislação para a saúde naquele país.
A impressão que episódios como este da vacinação contra a gripe A nos deixam é que obras parecem ter muito mais apelo do que ações de saúde pública. Não por culpa de um determinado ministério, mas pela orientação geral em torno de programas de crescimento.
Nesse caso, somente o eleitor pode exigir mudanças. Mostrar que valoriza a saúde como deveria ser valorizada pelos governantes. Cobrar medidas mais amplas e abrangentes.
Sem novas contribuições, porque já pagamos quase 40% de impostos sobre toda a riqueza produzida no Brasil. É somente uma questão de direcionar recursos para as áreas mais importantes, de fato.


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