|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RIO
Com cerca de 2.000 afiliados, associação visa impedir que cabos e soldados dispensados pelo Exército sejam recrutados por quadrilhas
Ex-militares tentam evitar adesão ao tráfico
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Cabos e soldados que foram colocados em disponibilidade pelo
Exército formaram uma associação cujo objetivo principal é evitar que ex-militares sejam cooptados por traficantes de drogas.
Anualmente, cerca de 2.000 militares lotados em batalhões especializados, como os de Infantaria
e de Pára-Quedistas, são desligados do Exército. Muitos não encontram emprego e são recrutados pelo tráfico, que oferece pagamentos atraentes -um soldado
pára-quedista ganha, em média,
R$ 700. No tráfico, a remuneração
para quem entende de armamentos vai de R$ 2.500 a R$ 8.000.
Criada há dois anos, a Associação dos Ex-Cabos e Soldados do
Exército tem cerca de 2.000 afiliados. Um dos seus projetos é a criação de uma cooperativa de segurança. O presidente, Luiz André
Ferreira da Silva, disse que vem
mantendo contato com empresas
de vigilância para conseguir descontos de 50% para os associados
receberem o registro de vigilante.
Ex-pára-quedista, Silva, 30, não
conseguiu emprego fixo desde
que foi desligado do Exército, em
2001. Ele faz bicos como segurança e entregador de gás para sustentar a mulher e três filhos.
Os representantes da associação
contam histórias sobre ex-colegas
que acabaram no tráfico, onde fazem a manutenção dos arsenais,
atuam como seguranças dos chefes de quadrilha e participam de
confrontos com rivais ou a polícia. Há também os que se tornaram fornecedores do tráfico.
Um ex-soldado e um ex-sargento estão entre os suspeitos do assalto ao Depósito de Aeronáutica
do Rio, na segunda-feira passada.
O promotor Aílton José da Silva,
do Ministério Público Militar, diz
que em 100% dos casos de roubos
a quartéis há o envolvimento de
militares ou ex-militares.
Um dos casos relatados na associação é o do ex-sargento pára-quedista conhecido como Jorge
Luiz Negão. Casado, três filhos,
ele entrou para o Exército em 91 e
foi desligado em 95. Logo em seguida, foi recrutado por traficantes do morro da Formiga (Tijuca,
zona norte), onde morava. Lá, se
tornou um dos chefes do tráfico.
Jorge Luiz, no entanto, se desentendeu com traficantes do morro
e acabou sendo expulso. Foi morar na favela da Chacrinha, em Jacarepaguá (zona oeste). Em dezembro de 99, acabou morto por
traficantes da Vila Kennedy (zona
oeste). A mulher, Andréa, vive até
hoje na Chacrinha e disse que o
marido "não era nenhum santo".
Outra história é a do soldado Ivã
(nome fictício). Ele ingressou no
Exército em 1999 e, em 2000, se
tornou pára-quedista. Foi dispensado por falta de vagas na turma e,
com experiência no uso de armamento, não ficou muito tempo
sem emprego. Em 2001, com 20
anos, passou a trabalhar para o
traficante Róbson André da Silva,
o Robinho Pinga. Ele era um dos
seguranças das bocas-de-fumo de
Pinga na favela da Coréia (Senador Camará, zona oeste).
No início de 2003, uma operação da polícia na Coréia resultou
na morte de 14 pessoas, entre elas
um policial militar e um civil. Por
ter sido o autor dos tiros que mataram o PM, Ivã foi promovido a
segurança particular de Pinga e
hoje é um dos braços direitos dele,
segundo os membros da Associação de Ex-Cabos e Soldados.
Outra história é a do cabo João,
morador da favela do Muquiço,
em Deodoro (zona oeste). Com
nove anos de Exército, ele foi desligado da 9ª Brigada de Infantaria
em 2002. Logo depois, foi recrutado pelos traficantes e hoje é um
dos principais armeiros da facção
criminosa ADA (Amigo dos Amigos). Faz a manutenção dos arsenais de várias favelas onde o tráfico é controlado pelo grupo.
A polícia tem investigado o envolvimento de ex-militares com o
tráfico. Em dezembro, foi preso
na favela de Acari (zona norte) o
ex-soldado pára-quedista Marcelo Santos das Dores, 22. Ele estava
com o traficante Nei Conceição
da Cruz, o Facão, de quem era segurança. Um dos ex-militares
mais procurados é Cláudio da
Conceição, o Claudinho, que controla o tráfico no morro da Casa
Branca, na Tijuca (zona norte).
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Rosinha diz que cobrará verba do governo federal Índice
|