São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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PM espionou protesto de estudantes para punir diretor em MS

Policiais à paisana fotografaram alunos durante ato contra o governo do Estado; foram abertos processos contra 7 diretores

Procuradoria apura se educadores liberaram alunos para participar de passeata em abril; para federação, método é "ditatorial"

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O serviço de inteligência da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul espionou, para o governo do Estado, uma passeata de estudantes, índios e sem-terra.
O ato ocorreu em 13 de abril em Campo Grande e teve como objetivo criticar a suspensão de programas sociais pelo governo André Puccinelli (PMDB). Os policiais participaram do protesto à paisana.
Com base no relatório da PM, que incluiu fotos de estudantes, foram abertos processos disciplinares contra diretores e os substitutos deles de sete escolas estaduais de Campo Grande. A Procuradoria Geral do Estado, órgão que defende o governo e que recebeu o relatório, mandou, três dias após a passeata, apurar se os diretores liberaram os alunos para o ato.
A Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul) tachou o método do governo de "ditatorial" e de "patrulhamento".
Segundo a entidade, em razão dos processos disciplinares os diretores podem perder o cargo para o qual foram eleitos por alunos, pais e professores. A Fetems disse que foi o movimento estudantil quem convocou a passeata.
A federação divulgou nota na qual diz que "o governo estadual utilizou-se do serviço reservado da PM para filmar e fotografar cidadãos que faziam uso do seu direito constitucional de manifestar-se, com o intuito de pressionar e punir profissionais da educação".
A Folha teve acesso a um dos sete processos disciplinares abertos pela Secretaria Estadual de Educação.
Na sindicância, o chefe do serviço de inteligência da PM, o tenente-coronel Marcos Antônio David dos Santos, disse que "é norma acompanhar movimentos sociais que possam interferir na segurança pública".
Segundo ele, "existe uma orientação do Estado para que não aconteçam ações negativas nas manifestações".
No relatório que fez no dia da manifestação, o tenente-coronel informou que a passeata contou "com menos manifestantes [cerca de 500 pessoas] do que o previsto pela organização". Segundo ele, a Coordenação de Movimentos Sociais e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) organizaram a passeata. Em seguida, citou os nomes das escolas estaduais "que dispensaram seus alunos para a passeata".
O tenente-coronel informou que o grupo se organizou devido à proximidade do Dia do Índio (19 de abril). "Os temas centrais [do ato] foram falta de alimentação, como o corte de cestas básicas (...), e a polêmica envolvendo a questão da terra".
Puccinelli suspendeu a entrega de cestas básicas aos índios alegando dificuldade financeira. Também cortou os programas sociais. Do total de famílias que eram atendidas, 35 mil recebiam R$ 100 mensais e 24.032 (incluindo 11 mil índios) ganhavam cestas com 32 kg de alimentos.
A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) retomou a distribuição de cestas para índios.


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