|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PM espionou protesto de estudantes para punir diretor em MS
Policiais à paisana fotografaram alunos durante ato contra o governo do Estado; foram abertos processos contra 7 diretores
Procuradoria apura se educadores liberaram alunos para participar de passeata em abril; para federação, método é "ditatorial"
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O serviço de inteligência da
Polícia Militar de Mato Grosso
do Sul espionou, para o governo
do Estado, uma passeata de estudantes, índios e sem-terra.
O ato ocorreu em 13 de abril
em Campo Grande e teve como
objetivo criticar a suspensão de
programas sociais pelo governo
André Puccinelli (PMDB). Os
policiais participaram do protesto à paisana.
Com base no relatório da PM,
que incluiu fotos de estudantes,
foram abertos processos disciplinares contra diretores e os
substitutos deles de sete escolas estaduais de Campo Grande. A Procuradoria Geral do Estado, órgão que defende o governo e que recebeu o relatório,
mandou, três dias após a passeata, apurar se os diretores liberaram os alunos para o ato.
A Fetems (Federação dos
Trabalhadores em Educação de
Mato Grosso do Sul) tachou o
método do governo de "ditatorial" e de "patrulhamento".
Segundo a entidade, em razão dos processos disciplinares
os diretores podem perder o
cargo para o qual foram eleitos
por alunos, pais e professores.
A Fetems disse que foi o movimento estudantil quem convocou a passeata.
A federação divulgou nota na
qual diz que "o governo estadual utilizou-se do serviço reservado da PM para filmar e fotografar cidadãos que faziam
uso do seu direito constitucional de manifestar-se, com o intuito de pressionar e punir profissionais da educação".
A Folha teve acesso a um dos
sete processos disciplinares
abertos pela Secretaria Estadual de Educação.
Na sindicância, o chefe do
serviço de inteligência da PM, o
tenente-coronel Marcos Antônio David dos Santos, disse que
"é norma acompanhar movimentos sociais que possam interferir na segurança pública".
Segundo ele, "existe uma
orientação do Estado para que
não aconteçam ações negativas
nas manifestações".
No relatório que fez no dia da
manifestação, o tenente-coronel informou que a passeata
contou "com menos manifestantes [cerca de 500 pessoas]
do que o previsto pela organização". Segundo ele, a Coordenação de Movimentos Sociais e
o Cimi (Conselho Indigenista
Missionário) organizaram a
passeata. Em seguida, citou os
nomes das escolas estaduais
"que dispensaram seus alunos
para a passeata".
O tenente-coronel informou
que o grupo se organizou devido à proximidade do Dia do Índio (19 de abril). "Os temas
centrais [do ato] foram falta de
alimentação, como o corte de
cestas básicas (...), e a polêmica
envolvendo a questão da terra".
Puccinelli suspendeu a entrega de cestas básicas aos índios alegando dificuldade financeira. Também cortou os
programas sociais. Do total de
famílias que eram atendidas,
35 mil recebiam R$ 100 mensais e 24.032 (incluindo 11 mil
índios) ganhavam cestas com
32 kg de alimentos.
A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) retomou a distribuição de cestas para índios.
Texto Anterior: Prostituição: 5 suspeitos de aliciar meninas são presos no RS Próximo Texto: Ação foi para proteger alunos, diz procurador Índice
|