São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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ISMENIA FONSECA FARAONE (1920-2008)

E a poesia do cotidiano em Americana

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se nasce mulher no interior, em Americana (SP), no começo da década de 20, a vida aponta tantas direções quantos são os jovens que seguram os olhares das moças durante o footing na praça comendador Muller. Ou assim pensava Ismenia Fonseca, braço dado com as amigas, ao fazer a escolha de seus próximos 62 anos, devidamente registrados em seus cadernos de poesia.
Nunca quis ser escritora, a menina que nutria-se menos de sonhos do que dos doces da mãe. Tempo em que, dizia, só tinha uma boneca e era feliz. Fez o ginásio, casou-se, teve oito filhos, 14 netos e cada vez mais temas para suas poesias do cotidiano. Nascia um filho, escrevia; outro neto, outro poema. Assim que "sempre vi minha mãe escrevendo e escrevendo num ou noutro caderno."
Nunca usou preto, diz a filha, "ou jóias ou roupa sem manga. Nem a orelha furada ela tinha". Mas muitos foram "os grandes bailes no Clube Rio Branco, de longos vestidos produzidos", dançando com o marido. Foi ele que a convenceu, em 1981, a organizar a coletânea de poemas. A segunda saiu em 1989. E ela logo fez parte de academias regionais de letras e de dezenas de antologias.
Havia seis anos, porém, que a artrose "não lhe deixava segurar a caneta". Ainda lúcida, lembrava em detalhes da vida passada na rua Carioba, da praça, do footing. Mas nunca mais escreveu. Morreu de parada cardiorespiratória, no sábado, aos 87.


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