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ISMENIA FONSECA FARAONE (1920-2008)
E a poesia do cotidiano em Americana
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando se nasce mulher
no interior, em Americana
(SP), no começo da década
de 20, a vida aponta tantas
direções quantos são os jovens que seguram os olhares
das moças durante o footing
na praça comendador Muller. Ou assim pensava Ismenia Fonseca, braço dado com
as amigas, ao fazer a escolha
de seus próximos 62 anos,
devidamente registrados em
seus cadernos de poesia.
Nunca quis ser escritora, a
menina que nutria-se menos
de sonhos do que dos doces
da mãe. Tempo em que, dizia, só tinha uma boneca e
era feliz. Fez o ginásio, casou-se, teve oito filhos, 14 netos e cada vez mais temas para suas poesias do cotidiano.
Nascia um filho, escrevia; outro neto, outro poema. Assim
que "sempre vi minha mãe
escrevendo e escrevendo
num ou noutro caderno."
Nunca usou preto, diz a filha, "ou jóias ou roupa sem
manga. Nem a orelha furada
ela tinha". Mas muitos foram
"os grandes bailes no Clube
Rio Branco, de longos vestidos produzidos", dançando
com o marido. Foi ele que a
convenceu, em 1981, a organizar a coletânea de poemas.
A segunda saiu em 1989. E
ela logo fez parte de academias regionais de letras e de
dezenas de antologias.
Havia seis anos, porém,
que a artrose "não lhe deixava segurar a caneta". Ainda
lúcida, lembrava em detalhes
da vida passada na rua Carioba, da praça, do footing. Mas
nunca mais escreveu. Morreu de parada cardiorespiratória, no sábado, aos 87.
obituario@folhasp.com.br
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