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Colégio militar domina olimpíada de matemática da escola pública
Alunos submetidos a disciplina rígida vão melhor em todos os níveis de ensino
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Quase 40% dos 300 alunos
mais bem colocados na 4ª
Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
(Obmep) são de colégios militares ou das escolas preparatórias das Forças Armadas.
Entre os meninos e meninas
de todo o país que receberam a
medalha de ouro, 118 pertencem a instituições militares
(39,3%). Participaram 18,3 milhões de alunos da rede pública
brasileira da edição de 2008.
O predomínio é ainda maior
no nível 3 (ensino médio). Entre os cem primeiros colocados
nessa categoria, 49 estudam em
colégios militares, inclusive os
11 primeiros colocados.
O primeiro foi César Ilhaco
Magalhães, 15, cujo pai, José
Ronaldo, só foi estudar pouco
antes dos 16 anos. O filho nasceu quando o pai já fazia PhD
nos Estados Unidos.
César aprendeu a ler aos quatro e foi identificado como superdotado nos EUA. Aos 12
anos, foi aprovado para cursar o
ensino médio na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, da Aeronáutica, e no ano passado fez
a prova que lhe deu a primeira
colocação na Olimpíada e passou no vestibular de medicina
na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
Pretende ser militar e cursar
engenharia no ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica).
"Não me considero um gênio.
Nem um "nerd': fiz caratê, corrida, canto em coral e fiz aulas
de teclado. Também não estudo todo dia. Procuro equilibrar
tudo", diz Cesar.
O Sistema Colégio Militar do
Brasil, mantido pelo Exército, é
composto por apenas 12 colégios, com cerca de 14,5 mil alunos. Computando-se as escolas
preparatórias das Forças Armadas, são 15 estabelecimentos, que correspondem a não
mais do que 0,00037% do total
de 40.377 escolas inscritas no
concurso. Daí a atenção que
desperta esse desempenho.
Culto à disciplina
Dentre os medalhistas de ouro no nível 1 da Obmep (alunos
dos 6ª e 7ª anos), 37 são de colégios militares, de diferentes Estados; no 2 (8ª e 9ª séries), foram 33 dessas escolas. A maioria dos outros vencedores vem
de escolas técnicas ou federais.
Estudantes da rede pública
convencional (estadual ou municipal) são minoria.
No nível 3, além dos alunos
de colégios militares, preponderam jovens de estabelecimentos federais, com 72 das
cem primeiras posições -27
são de escolas estaduais e uma
de municipal.
Para a diretora acadêmica da
Obmep, a professora do Instituto de Matemática da Universidade Federal Fluminense
(UFF) Suely Druck, um dos
motivos que explicam o resultado dos colégios militares é a
disciplina da vida castrense.
"A infraestrutura é excelente
e há professores muito bem
preparados. Os alunos talentosos são inseridos em um ambiente sério e de disciplina. A
matemática é sequencial e exige disciplina, cultivada nesses
colégios", afirma.
O comandante do Colégio
Militar de Brasília -o maior do
sistema, com 3.400 alunos e 14
medalhistas de ouro-, coronel
Wagner Gonçalves, não se surpreende com o desempenho.
"A matemática é vista como
bicho-papão, e aqui nós já desmistificamos isso há anos. Preparamos para escolas militares,
o IME (Instituto Militar de Engenharia) e o ITA."
O oficial corrobora a tese de
que a disciplina, cultivada pelas
Forças Armadas, afeta o resultado. "Ajuda muito na matemática e vice-versa. O bom matemático tem muita influência da
disciplina; o cartesiano é disciplinado." Coronel da Arma de
engenharia e filho de sargento
do Exército, ele e os filhos foram alunos de colégios militares. "Não sou craque em matemática; passei com média 8,
não 9", brinca.
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