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Instituto da USP guarda corpos em baldes
Para docentes e Promotoria, Instituto de Ciências Biomédicas guarda cadáveres para estudo de forma "desrespeitosa"
Dirigentes do ICB negam desrespeito; responsável pelas aulas básicas dos cursos de saúde, unidade sofre com falta de cadáver
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Falta de corpos para estudo.
Cadáveres em mau estado de
conservação, armazenados em
caixas-d'água ou baldes. Denúncias de descarte de substância tóxica na rede pública de
esgoto e salas novas sem uso.
Essa é a situação do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas
da USP), um dos maiores da
universidade, com dez mil matrículas, responsável pelas aulas básicas dos cursos de saúde,
como medicina e odontologia.
As condições da escola provocam críticas de alunos e docentes -e viraram objeto de investigação do Ministério Público.
Para parte dos integrantes do
instituto, as condições atrapalham as atividades pedagógicas
do curso de anatomia, pois os
cadáveres estão tão desgastados
que não é possível identificar algumas estruturas do corpo.
A Promotoria classificou como "um desrespeito" a forma
de armazenamento de cadáveres. Um inquérito está em curso, que pode produzir ação judicial para exigir melhorias.
Os dirigentes do instituto
afirmam que não há problemas
pedagógicos. E a forma de conservação de cadáveres, dizem,
"é normal" nas escolas médicas.
Como a USP não participa de
avaliações federais, não é possível comparar a qualidade dos
seus cursos com os demais.
Equipamento quebrado
As peças humanas estão em
baldes e caixas-d'água porque a
estrutura de aço inox comprada
em 2006, por R$ 56 mil, não
aguentou o peso dos corpos. O
instituto busca ressarcimento e
novas peças para reposição.
"É inadmissível o tratamento
dado aos cadáveres", afirmou à
Folha o promotor Arthur Pinto Filho, que apura o caso. Em
fotos encaminhadas à Promotoria, aparecem partes de corpos dentro de um balde, junto
com pedaços de plástico.
"Como ensinar respeito ao
paciente se guardamos o cadáver assim? Somos a USP, devíamos dar exemplo", disse Esem
Cerqueira, um dos docentes de
anatomia da escola. Cerqueira
fez as denúncias à Promotoria.
O professor reclama do estado dos corpos utilizados nas aulas. Sem recursos e com dificuldades burocráticas, a escola não
recebe novos cadáveres desde
2008. A Unifesp, por exemplo,
recebe ao menos um ao ano.
O docente diz que há corpos
sendo usados há mais de seis
anos. "O aluno mal consegue
ver que parte está estudando."
Os cadáveres usados nas escolas são de indigentes ou doados pela família. No primeiro
caso, são necessários cerca de
R$ 10 mil para a utilização. A
instituição precisa fazer anúncios em jornais, à espera que um
familiar reclame o corpo.
"Os alunos são obrigados a estudar em material antigo, o que
prejudica gravemente o ensino.
A anatomia é um aprendizado
muito visual", afirma o centro
acadêmico de medicina. "Por
dificuldade burocrática, falta de
organização ou de interesse, o
departamento de anatomia sofre com falta de cadáveres."
Outra crítica feita pela Promotoria é quanto ao uso do formol para conservar os corpos. O
promotor diz que a substância,
considerada cancerígena, poderia ser substituída por glicerina
em parte dos casos -esta não
traz riscos, mas é mais cara.
A escola foi advertida pela Vigilância Sanitária por lançar o
formol, ainda que diluído em
água, na rede de esgoto. A Secretaria da Saúde disse que a escola
está resolvendo a questão.
Além disso, um laboratório e
um anfiteatro ficaram prontos
há um ano, mas não funcionam
por falta de equipamentos.
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