|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Operação urbana: panaceia ou mistificação
RAQUEL ROLNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais uma vez cidadãos de
São Paulo veem anunciada a
"solução de seus problemas".
São novas operações urbanas
que prometem transformar a
paisagem e a vida da cidade.
Repovoar áreas vazias e subutilizadas, melhorar a mobilidade, priorizando o transporte
coletivo e promovendo a proximidade do emprego em relação
à moradia, recuperar áreas de
moradia precária e, de quebra,
aumentar a drenagem, as áreas
verdes e os parques...
A fórmula, já utilizada nas
operações urbanas Faria Lima
e Águas Espraiadas, é simples:
se lançam Cepacs (papeis que
podem ser trocados por área
construída acima do que o zoneamento da cidade permite) e,
com o dinheiro arrecadado, se
implantam as "melhorias".
O simples exame das operações citadas nos permite afirmar que seu efeito é o contrário
daquilo que promete. Nos dois
casos citados, as melhorias foram basicamente ampliações e
extensões de avenidas e pontes
para a circulação de carros.
Um dos pontos centrais da
estratégia é o chamado "adensamento". Aparentemente, como regiões onde existiam casas
e sobrados deram lugar a edifícios altos, a região "adensou".
Certo? Errado : TODOS os
bairros já atingidos pelas operações perderam população!
Pinheiros (que teve 100 mil
moradores e hoje tem 60 mil),
Itaim Bibi e Moema, assim como outros bairros (que estão
fora desse tipo de operações,
mas se transformaram sob o
mesmo modelo de "adensamento"), perderam população
desde que se verticalizaram.
As favelas continuam exatamente como estavam ou sumiram do mapa, em operações de
despejo individual; o solo impermeabilizou-se mais, graças
às garagens subterrâneas, e os
trabalhadores vão bem, obrigado, pendurados nos trens e ônibus viajando mais de três horas
por dia, já que o preço do solo e
dos imóveis nessas regiões é cada vez mais proibitivo para eles.
Moral da história: precisamos de um planejamento em
larga escala, promovendo o repovoamento includente da cidade, a inversão de seu modelo
de mobilidade e de relação com
sua geografia. Mas é necessário
e urgente repensar os instrumentos de gestão do solo urbano, que foram desenhados única e exclusivamente a partir da
produtividade econômica do
solo e sua valorização.
RAQUEL ROLNIK é professora da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Rio: Ônibus capota e mata 2 na avenida Brasil Índice
|