São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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ANÁLISE

Operação urbana: panaceia ou mistificação

RAQUEL ROLNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais uma vez cidadãos de São Paulo veem anunciada a "solução de seus problemas".
São novas operações urbanas que prometem transformar a paisagem e a vida da cidade.
Repovoar áreas vazias e subutilizadas, melhorar a mobilidade, priorizando o transporte coletivo e promovendo a proximidade do emprego em relação à moradia, recuperar áreas de moradia precária e, de quebra, aumentar a drenagem, as áreas verdes e os parques...
A fórmula, já utilizada nas operações urbanas Faria Lima e Águas Espraiadas, é simples: se lançam Cepacs (papeis que podem ser trocados por área construída acima do que o zoneamento da cidade permite) e, com o dinheiro arrecadado, se implantam as "melhorias".
O simples exame das operações citadas nos permite afirmar que seu efeito é o contrário daquilo que promete. Nos dois casos citados, as melhorias foram basicamente ampliações e extensões de avenidas e pontes para a circulação de carros.
Um dos pontos centrais da estratégia é o chamado "adensamento". Aparentemente, como regiões onde existiam casas e sobrados deram lugar a edifícios altos, a região "adensou".
Certo? Errado : TODOS os bairros já atingidos pelas operações perderam população! Pinheiros (que teve 100 mil moradores e hoje tem 60 mil), Itaim Bibi e Moema, assim como outros bairros (que estão fora desse tipo de operações, mas se transformaram sob o mesmo modelo de "adensamento"), perderam população desde que se verticalizaram.
As favelas continuam exatamente como estavam ou sumiram do mapa, em operações de despejo individual; o solo impermeabilizou-se mais, graças às garagens subterrâneas, e os trabalhadores vão bem, obrigado, pendurados nos trens e ônibus viajando mais de três horas por dia, já que o preço do solo e dos imóveis nessas regiões é cada vez mais proibitivo para eles.
Moral da história: precisamos de um planejamento em larga escala, promovendo o repovoamento includente da cidade, a inversão de seu modelo de mobilidade e de relação com sua geografia. Mas é necessário e urgente repensar os instrumentos de gestão do solo urbano, que foram desenhados única e exclusivamente a partir da produtividade econômica do solo e sua valorização.


RAQUEL ROLNIK é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

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