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Defensoria liga homicídios a ação policial
Em 11 mortes sem autor conhecido foram identificados padrões semelhantes a casos de mortos em confronto com a polícia
Tiros de cima para baixo e concentrados na cabeça e na região do tórax próxima ao coração estão entre as semelhanças identificadas
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Defensoria Pública de São
Paulo identificou padrões semelhantes nas mortes de civis
pela polícia, em supostos confrontos, e nas mortes de autoria
desconhecida ocorridas durante a onda de violência promovida pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) no mês de maio.
Entre as semelhanças estão a
trajetória dos tiros, os locais
atingidos e a proximidade das
perfurações. Esses indícios de
possível procedimento padrão
reforçam a suspeita de que
mortes cometidas por desconhecidos, segundo registro dos
boletins de ocorrência, podem
ter o envolvimento de policiais.
A Defensoria Pública analisou os laudos de 28 mortos pela
polícia em supostos casos de
resistência seguida de morte
ocorridos na capital paulista
entre os dias 12 e 19 de maio.
Esses casos fazem parte da lista
oficial, apresentada pelo governo, de 122 civis mortos em confronto em todo o Estado -o
Ministério Público identificou
mais três mortes.
Ao comparar esses 28 casos
com mortes de autoria desconhecida ocorridas durante a
onda de violência, a Defensoria
identificou 11 vítimas.
Elas foram atingidas por disparos feitos por pessoas não-identificadas -oficialmente,
não entram nas estatísticas de
resistência seguida de morte-,
mas as semelhanças com as situações de mortos por policiais
fez a Defensoria Pública ampliar a sua investigação.
"Vamos começar a tratar essas 39 mortes como se fossem
todas resultantes de confronto
com a polícia", afirmou o subdefensor Pedro Gibert.
Nessas mortes, a maioria dos
atingidos recebeu tiros de cima
para baixo, o que pode indicar
que eles estavam rendidos, caídos ou de joelhos.
Os laudos mostram também,
segundo Gibert, perfurações à
bala muito próximas. "Não significa que o atirador tinha boa
pontaria. Significa que a arma
era semi-automática", disse.
A maioria dos tiros, tanto nos
mortos pela polícia quanto por
desconhecidos, atingiu partes
semelhantes do corpo da vítima: a cabeça e a região do tórax
próxima ao coração.
"Também tivemos informações de familiares, que acreditam na participação de policiais nesses casos de autoria
desconhecida", afirmou o subdefensor.
Prioridades
As 39 mortes tornaram-se
prioridade na investigação realizada pelo comissão independente formada pela Defensoria,
pelo Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana), pelo Ministério Público
Federal e por organizações
não-governamentais.
Na próxima semana, a comissão vai pedir cópia de inquéritos policiais que investigam as
39 mortes. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, foi
aberto um inquérito por morte.
Ontem, a comissão se reuniu
com o perito criminal Ricardo
Molina, da Unicamp (Universidade de Campinas). Ele vai fazer uma análise paralela dos
laudos. Molina deve receber
cópias da primeira parte da documentação na segunda-feira.
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