São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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Justiça absolve acusados de extorsão contra o padre Júlio

TJ diz que juiz não divulgará motivo da decisão porque caso está sob segredo de Justiça

Irmãos Evandro e Everson Guimarães já foram soltos; o ex-interno da Febem Anderson Batista e sua mulher continuam presos

Patrícia Stavis/Folha Imagem
Os irmãos Evandro e Everson Guimarães ao deixarem o CDP

ANDRÉ CARAMANTE
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça absolveu ontem os quatro acusados de formar uma quadrilha para extorquir dinheiro do padre Júlio Lancelotti. O ex-interno da Febem (atual Fundação Casa) Anderson Marcos Batista, 26, sua mulher, Conceição Eletério, 45, e os irmãos Evandro, 29, e Everson Guimarães, 27, estavam presos desde o ano passado.
O Ministério Público pode recorrer da absolvição.
No ano passado, o padre, que atua na Pastoral do Povo de Rua e é um dos principais defensores dos direitos de adolescentes infratores, procurou a polícia para denunciar que Batista e mais três pessoas o ameaçavam com denúncias falsas de pedofilia.
O padre disse à polícia ter entregue dinheiro a Batista por medo de ser agredido e por acreditar que "poderia mudar as pessoas que o extorquiam".
O padre disse à polícia e à Justiça que pagou R$ 150 mil por causa das extorsões de Batista e sua mulher, praticadas com o apoio dos irmãos Everson e Evandro Guimarães.
Everson foi o primeiro a ser preso, em setembro, após ser flagrado ao pegar um envelope com R$ 2.000 das mãos do padre. Preso em outubro, Batista negou a chantagem e afirmou que, em seis anos de relação homossexual com o padre, recebeu cerca de R$ 700 mil dele.
Batista sempre afirmou que a aproximação entre ele e Lancelotti se deu quando ainda era interno da Febem. O padre chegou a comprar carros financiados em seu nome para Batista.
Em novembro, a polícia concluiu o inquérito dizendo que o religioso foi vítima. Batista e os outros três foram indiciados. A conclusão foi endossada pelo Ministério Público, que encaminhou a denúncia à Justiça.

Segredo de Justiça
A decisão de absolver o casal e os dois irmãos foi do juiz Caio Farto Salles, da 31ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça.
A assessoria do TJ informou ontem que o magistrado não se manifestaria sobre os motivos de sua decisão porque o caso está sob segredo de Justiça.
Para Nelson Bernardo da Costa, advogado dos quatro, seus clientes "foram absolvidos por insuficiência de provas".
Até a conclusão desta edição, apenas os dois irmãos haviam sido libertados do CDP (Centro de Detenção Provisória) 1 do Belém, na zona leste de SP.
Everson estava lá desde o início de setembro; Evandro, assim como o casal, estava na prisão desde o fim de outubro.
Batista não foi solto porque ainda responde a uma acusação de homicídio. A previsão é que Conceição deixe a prisão hoje.
Ontem, após o anúncio da absolvição, a Folha tentou e não conseguiu entrevistar o padre. Seu advogado, o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalg, divulgou nota oficial na qual diz ter sido "surpreendido" pelas absolvições.
Em outubro, Everson Guimarães afirmou à Folha que, ao ser preso, foi espancado por três policiais dentro da sede do 81º DP (Belém). Disse ter recebido socos no peito e, à época da investigação policial, assinou seu depoimento "sem ler".
Everson disse que o padre ia atrás de Batista "quase todos os dias" e que "ficava nervoso" quando não o localizava.


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