São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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PLANOS DE SAÚDE

Relatório de novembro já recomendava acompanhamento de contratos antigos, alvo de reajustes de até 82%

CPI alertou governo sobre aumento abusivo

DA REPORTAGEM LOCAL

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Relatório da CPI dos Planos de Saúde entregue em novembro do ano passado ao governo já alertava sobre aumentos indevidos e a necessidade de proteger os beneficiários dos contratos antigos, assinados antes da lei que regula o setor, a 9.656, de 1998.
Parte desses contratos foi alvo recentemente de aumentos de até 82% -considerados abusivos por órgãos de defesa do consumidor. "É uma omissão total do governo", afirma Mário Scheffer, membro do Conselho Nacional de Saúde que foi um dos assessores da comissão.
A CPI recomendava o "acompanhamento, regulação e fiscalização dos contratos antigos pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)", com base no Código de Defesa do Consumidor.
Na quarta-feira a agência anunciou que poderá multar as empresas, mas não com base no código. Isso significa que, se o aumento dado estiver previsto no contrato, nada poderá fazer -pelo código, poderia questionar a relação desigual entre empresa, que impõe o aumento, e o consumidor, lado mais fraco da relação.
A assessoria de imprensa da ANS informou ontem que o assunto "está esgotado" e que só o ministro da Saúde, Humberto Costa, falaria sobre o tema.
Em agosto de 2003, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que a lei atual não se aplica a contratos anteriores a ela. Com isso, caiu a necessidade de as empresas seguirem os aumentos aprovados pelo governo -11,75% neste ano -, e as operadoras "ressuscitaram" índices de contratos antigos.
O relatório informa que logo após a decisão do STF a ANS divulgou nota para que os consumidores não aceitassem reajustes indevidos "até a completa regulamentação da matéria". "A advertência da agência, no entanto, tem sido insuficiente para garantir o direito do usuário", alerta a CPI.
À comissão, o procurador de Justiça Marco Antonio Zanellato, coordenador das Promotorias de Justiça do Consumidor do Estado de São Paulo, apontou que a decisão do STF "não anula o entendimento da jurisprudência, que hoje é praticamente pacífico, de que diversas cláusulas desses contratos (...) são abusivas".
O ministro Humberto Costa disse à CPI ser "fundamental para a saúde do sistema, para a garantia dos direitos dos usuários, que nós eliminemos essa convivência nefasta entre planos antigos e novos. Isso significa que temos de criar instrumentos para que aconteça essa transição, que ela se faça, se possível, de forma coletiva. (...) que o peso dela sobre os usuários seja o menor possível."
A Justiça barrou plano criado pelo governo para adequar contratos antigos à lei atual por considerar que, no incentivo do usuário à mudança, não foi levado em conta que quem ficasse nos contratos antigos estaria protegido pelo Código de Defesa do Consumidor. A partir de agora, o governo estimulou os órgãos de defesa do consumidor a aplicar multas com base no código.
Ontem, a Justiça baiana proibiu, a pedido do Ministério Público do Estado, que a SulAmérica Saúde reajuste seus planos com índice superior a 11,75%. A sentença estabelece que a empresa não poderá adotar "qualquer sanção, retaliação ou medida que impeça, dificulte ou reduza a cobertura dos contratos assinados...".
Por meio de nota, a SulAmérica assegurou que cumprirá a determinação judicial assim que for notificada. (FABIANE LEITE e LUIZ FRANCISCO)

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