São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Ar-condicionado eleva risco de rinite

Estudo da USP mostra que é o choque térmico, não os ácaros ou os fungos, que aumentam os ataques de crises alérgicas

Resultado da pesquisa mostra que os alérgicos têm capacidade diminuída de lidar com as mudanças drásticas de temperatura

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

É o choque térmico, não os ácaros ou os fungos, o responsável pelas crises de rinite alérgica em pessoas que trabalham em ambientes climatizados, revela uma pesquisa da USP recém-concluída. No Brasil, pelo menos 30 milhões de pessoas sofrem do problema.
A conclusão contradiz o senso comum de que seria a falta de manutenção do ar-condicionado, que acumula ácaros, fungos e bactérias, a culpada pelas crises alérgicas, que se manifestam com mais freqüência nesta época do ano.
Em 2002, outro estudo da USP, em oito centrais de ar-condicionado de empresas localizadas no centro de São Paulo, havia mostrado que a quantidade de ácaros e fungos encontrada era pequena, insuficiente para desencadear uma crise alérgica -foram achadas dois microgramas de ácaro por grama de pó, enquanto que, para dar alergia, seria preciso dez microgramas.
A atual pesquisa da USP foi realizada em duas etapas. Na primeira, 1.500 indivíduos que trabalham sob sistemas de climatização central e outras 500 pessoas expostas apenas à ventilação natural responderam a questionários. O grupo sob o efeito do ar-condicionado apresentou um risco 40% maior de ter problemas respiratórios.
Na segunda etapa, os pesquisadores selecionaram um grupo de 32 pessoas com rinite (que não estavam em crise) e outro com 16 indivíduos não-alérgicos. O próximo passo foi avaliá-los em um ambiente livre de ácaros e fungos.
O cenário escolhido foi o laboratório da Escola Politécnica da USP (Poli), cujas instalações permitem um controle total do clima, com isolamento acústico, térmico e ar-condicionado central. Todos os voluntários receberam roupas especiais, com proteção térmica ajustada em 20 graus centígrados.
Segundo o alergologista Gustavo Graudenz, pesquisador da Faculdade de Medicina, os voluntários foram expostos a uma temperatura inicial de 26C. Após 30 minutos, o ambiente foi resfriado para 14C. Meia hora depois, os termômetros voltaram a subir e assim por diante. As mudanças bruscas de temperatura duraram três horas. Na saída, todos tiveram a mucosa do nariz coletada.
Graudenz explica que, 24 horas após o teste, os voluntários voltaram a ter a mucosa analisada. Todos apresentavam irritação. Quarenta e oito horas depois, os portadores de rinite apresentaram uma inflamação no nariz mais acentuada, enquanto que, no outro grupo, a irritação havia regredido.
"Isso mostra que os alérgicos têm capacidade diminuída de lidar com as mudanças drásticas de temperatura. A vovó estava certa quando aconselhava a evitar a exposição ao frio", afirmou o médico.
Segundo ele, o choque térmico provoca uma reação alérgica nas pessoas predispostas semelhante ao que acontece quando há contato com outros alérgenos, como o ácaro.
Para evitar as mudanças bruscas de temperatura, ele aconselha que as pessoas se agasalhem antes de entrar em ambiente com ar-condicionado. "Não adianta esperar sentir frio para fazer isso." Outra dica é hidratar a mucosa nasal com soro fisiológico.
O controle correto da temperatura nos ambientes fechados é uma das regras que as empresas devem seguir para evitar a exposição dos funcionários ao choque térmico.
A estudante de arquitetura Camila Vasconcellos, 24, tem rinite e sinusite e diz que sente seu nariz irritado cada vez que entra em ambiente climatizado. Funcionária da Secretaria do Meio Ambiente do Estado, ela trabalha parte do tempo em lugar climatizado e outra parte em um local com ventilação natural. "A diferença é grande."


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