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Ar-condicionado eleva risco de rinite
Estudo da USP mostra que é o choque térmico, não os ácaros ou os fungos, que aumentam os ataques de crises alérgicas
Resultado da pesquisa mostra que os alérgicos têm capacidade diminuída de lidar com as mudanças drásticas de temperatura
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
É o choque térmico, não os
ácaros ou os fungos, o responsável pelas crises de rinite alérgica em pessoas que trabalham
em ambientes climatizados, revela uma pesquisa da USP recém-concluída. No Brasil, pelo
menos 30 milhões de pessoas
sofrem do problema.
A conclusão contradiz o senso comum de que seria a falta
de manutenção do ar-condicionado, que acumula ácaros, fungos e bactérias, a culpada pelas
crises alérgicas, que se manifestam com mais freqüência
nesta época do ano.
Em 2002, outro estudo da
USP, em oito centrais de ar-condicionado de empresas localizadas no centro de São Paulo, havia mostrado que a quantidade de ácaros e fungos encontrada era pequena, insuficiente para desencadear uma
crise alérgica -foram achadas
dois microgramas de ácaro por
grama de pó, enquanto que, para dar alergia, seria preciso dez
microgramas.
A atual pesquisa da USP foi
realizada em duas etapas. Na
primeira, 1.500 indivíduos que
trabalham sob sistemas de climatização central e outras 500
pessoas expostas apenas à ventilação natural responderam a
questionários. O grupo sob o
efeito do ar-condicionado
apresentou um risco 40%
maior de ter problemas respiratórios.
Na segunda etapa, os pesquisadores selecionaram um grupo de 32 pessoas com rinite
(que não estavam em crise) e
outro com 16 indivíduos não-alérgicos. O próximo passo foi
avaliá-los em um ambiente livre de ácaros e fungos.
O cenário escolhido foi o laboratório da Escola Politécnica
da USP (Poli), cujas instalações
permitem um controle total do
clima, com isolamento acústico, térmico e ar-condicionado
central. Todos os voluntários
receberam roupas especiais,
com proteção térmica ajustada
em 20 graus centígrados.
Segundo o alergologista Gustavo Graudenz, pesquisador da
Faculdade de Medicina, os voluntários foram expostos a uma
temperatura inicial de 26C.
Após 30 minutos, o ambiente
foi resfriado para 14C. Meia
hora depois, os termômetros
voltaram a subir e assim por
diante. As mudanças bruscas
de temperatura duraram três
horas. Na saída, todos tiveram a
mucosa do nariz coletada.
Graudenz explica que, 24 horas após o teste, os voluntários
voltaram a ter a mucosa analisada. Todos apresentavam irritação. Quarenta e oito horas
depois, os portadores de rinite
apresentaram uma inflamação
no nariz mais acentuada, enquanto que, no outro grupo, a
irritação havia regredido.
"Isso mostra que os alérgicos
têm capacidade diminuída de
lidar com as mudanças drásticas de temperatura. A vovó estava certa quando aconselhava
a evitar a exposição ao frio",
afirmou o médico.
Segundo ele, o choque térmico provoca uma reação alérgica
nas pessoas predispostas semelhante ao que acontece quando
há contato com outros alérgenos, como o ácaro.
Para evitar as mudanças
bruscas de temperatura, ele
aconselha que as pessoas se
agasalhem antes de entrar em
ambiente com ar-condicionado. "Não adianta esperar sentir
frio para fazer isso." Outra dica
é hidratar a mucosa nasal com
soro fisiológico.
O controle correto da temperatura nos ambientes fechados
é uma das regras que as empresas devem seguir para evitar a
exposição dos funcionários ao
choque térmico.
A estudante de arquitetura
Camila Vasconcellos, 24, tem
rinite e sinusite e diz que sente
seu nariz irritado cada vez que
entra em ambiente climatizado. Funcionária da Secretaria
do Meio Ambiente do Estado,
ela trabalha parte do tempo em
lugar climatizado e outra parte
em um local com ventilação natural. "A diferença é grande."
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