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Internação psiquiátrica é via-crúcis de doentes
RODRIGO VIZEU
DA EDITORIA DE TREINAMENTO
Após um mês de surto psicótico causado por drogas e esquizofrenia e sem conseguir internação, Carlos (nome fictício),
morador de Cotia (Grande SP),
enforcou-se em casa. O suicídio, relatado pelos irmãos,
ocorreu no último 17 de março,
quando Carlos faria 25 anos.
A situação ilustra um gargalo
da saúde mental pública oito
anos após a reforma psiquiátrica de 2001, que vem fechando
hospitais psiquiátricos para
priorizar o atendimento comunitário dos Caps (Centros de
Atenção Psicossocial).
Em 1998, houve 167 moradores de Cotia em internações
psiquiátricas por grupo de 100
mil habitantes, segundo dados
do Ministério da Saúde. Em
2007, o número caiu para 28,8.
A cidade tem um Caps, mas
ele não é preparado para internação. Ficar em outro município depende da central de vagas
da Secretaria de Estado da Saúde, que pode demorar até uma
semana para liberar leito, de
acordo com Messias Padrão,
psiquiatra que atendeu André.
A Secretaria da Saúde disse
só ter registros de pedidos de
internação de Carlos nos dias 2
e 4 de março e que, diante da dificuldade de achar leitos, foi feito um pedido à secretaria da capital. Esta relatou desconhecer
pedidos relativos ao paciente.
Vida melhor
Para algumas pessoas, o
atendimento psiquiátrico começa a melhorar. É o caso de
Aparecida Gonçalves de Oliveira, a Cida, que, pela primeira
vez em seus 62 anos, tem uma
casa, após uma vida toda entre
orfanatos e hospitais de SP.
Ela e mais sete mulheres moram em uma das 19 residências
terapêuticas da cidade, serviço
do governo em que casas comuns são destinadas a quem ficou muito tempo em hospitais.
Cida mudou-se em 2008 para a
casa em Pirituba (zona norte).
Hoje, ela se nega a falar do
passado e prefere contar da vida atual e das idas ao bairro da
Lapa (zona oeste), onde compra "roupas, almoço e botas".
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